Dorival Caymmi (1914-2008), cantor baiano.

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Dorival Caymmi (1914-2008)

No lado A e “A Preta do Acarajé” no B para a trilha sonora do filme nacional Banana-da-Terra. No ano seguinte um diretor da rádio Tupi contratou o jovem cantor baiano. Nos seus estúdios, Dorival conheceu uma caloura que se apresentava como Stella Maris (nome real: Adelaide Tostes). Casaram-se, para sempre. Tiveram três filhos, e todos eles se tornariam músicos profissionais – Nana, Dori e Danilo.
Dorival Caymmi alternava música e pintura como linguagens diferentes da mesma obra. “Minha música sempre foi figurativa. Vejo a música como um quadro, uma composição geral em que o fator humano é preponderante.” Em 60 anos de carreira gravou 20 discos. Era pouco para uma carreira tão longa. Dorival ficou com a fama de “preguiçoso”. Mas tinha o dom da música pop, criava refrões que grudavam nos ouvidos de todos os brasileiros. “Dora, rainha do frevo e do maracatu…” “Peguei um Ita no norte pra vim no Rio morar, adeus meu pai, minha mãe, adeus Belém do Pará…”
“Ai que saudade eu tenho da Bahia, ai, se eu escutasse o que mamãe dizia…” “Você já foi a Bahia, nega? Não? Então vá…” “Samba da minha terra deixa a gente mole…”
“Eu vou pra Maracangalha eu vou, eu vou de chapéu de palha eu vou…” “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé…” O poeta baiano era um criador de sucessos, um hitmaker.
Em 1965 Dorival realizou uma série de shows em Los Angeles. Andy Williams gravou “Das Rosas” em inglês. Três anos depois voltou para a Bahia. Com sua pele morena e seu cabelo carapinha, já tinha o physique Du role para os terreiros de candomblé. Tornou-se um obá. Recebeu a Comenda de Artes de Letras de França. Inaugurou a Avenida Dorival Caymmi em Salvador. Em 1986, virou tema da vencedora Estação Primeira da Mangueira. Em 1991 curtiu o sonho de se apresentar no festival de Montreux com seus filhos. Ali nas montanhas da Suíça estava o patriarca com suas 98 canções e sua recorrente inspiração no mar.
Em 1997, Caymmi descobriu que estava com câncer na bexiga. Parecia que mesmo assim viveria para sempre dedilhando seu violão numa rede. Mas precisava partir. O estopim foi a internação de Stella Maris em estado de coma, no início de 2008.
Aí, Dorival se entregou. Entrou numa melancolia, desistiu de comer, desistiu de tudo. Em 16 de agosto Dorival morreu de insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos. Morreu tranqüilo, como viveu.

(Fonte: Época – Nº 536 – 25/08/2008 – Editora Globo – Em Memória/Por Dagomir Marquezi – Pág; 168)

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