Douglas Fairbanks (1883-1939), diretor de cinema americano

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Douglas Fairbanks (Denver, 23 de maio de 1883 – Santa Mônica, 12 de dezembro de 1939), diretor de cinema americano.
Douglas Fairbanks correu e pulou pelo cinema mudo da década de 1920 como um garoto de escola hiperativo no maior parque de aventuras de todos – Hollywood. Balaústres foram feitos para escorregar, candelabros para balançar, paredes para serem escaladas, mobília para ser saltada e janelas para ser transpostas. O seu sorriso deslumbrante brilhava como a sua espada. Ele se movia com rapidez, força e, acima de tudo, graça.
Em 1919, os quatro maiores nomes de holliywood – Fairbanks, Mary Pickford, David Wark Griffith e Charles Chaplin – formaram a United Artists, porque eles queriam mais independência. No ano seguinte, Fairbanks casou-se com Mary Pickford – a “Queridinha da América” – e eles passaram a lua-de-mel na Europa: precisaram da polícia para protegê-los das imensas multidões que apareciam para vê-los. Como não havia nenhuma barreira lingüística no cinema mudo, Fairbanks e Mary eram conhecidos em todos os cantos do mundo onde filmes eram exibidos.

Ao retornar para os Estados Unidos, eles se estabeleceram como “O Rei e a Rainha de Hollywood” em Pickfair, uma ampla casa em estilo Tudor em uma propriedade de 18 acres em Beverly Hills. Ser convidado para Pickfair era o ápice do sucesso social. Eles foram visitados pela nobreza européia, por intelectuais, artistas, socialites e dignitários. Fairbanks, que media 1,75 m e pesava 72 quilos, era boxeador, ginasta, nadador, cavaleiro, esgrimista e jogador de tênis de sucesso. Ele andava com um porte atlético, passando uma idéia de energia controlada que demonstrava confiança. No entanto, a sua personalidade escondia um homem que desejava profundamente afeição e atenção.

Ele nasceu com o nome de Douglas Elton Ulman em 23 de maio de 1883 em Denver, Colorado. Seu pai, um importante advogado judeu, saiu de casa quando Douglas tinha 5 anos e sua mãe passou a adotar o sobrenome do seu falecido marido, John Fairbanks. Ao longo de toda a sua vida ele fez segredo sobre o seu verdadeiro nome, sobre ser metade judeu e sobre os seus pais não serem casados.

Como seu pai bebia muito, sua mãe o fez assinar o juramento de sobriedade aos 12 anos e ele permaneceu um abstêmio por toda a vida, tendo uma grande antipatia por bebida e bêbados. Ironicamente, Mary Pickford tornou-se uma alcoólatra, um fato que magoava Fairbanks mais do que ele jamais admitiu.

Ele continuou a afirmar que John Fairbanks era o seu pai, que ele tinha estudado em Harvard (ele largou a escola aos 15 anos), que tinha cruzado o Atlântico num navio de gado e tinha lutado com um touro na Espanha. Muito tempo depois da sua morte se revelou que um dublê fazia muitas das suas proezas mais vertiginosas.

Ele era ligado à mãe de maneira anormal e, quando garoto, para provocar a sua preocupação, ele desafiaria o perigo escalando em árvores e prédios. Certa vez ele caiu de um telhado e retomou a consciência nos braços da sua mãe, feliz em ser o centro das atenções. Ele nunca superou o gosto de menino em exibir-se e raramente era chamado de Douglas ou sr. Fairbanks. Era sempre “Doug”.

Quando da morte da sua mãe, ele deixou o funeral com o olho seco e sem expressão. Depois, contou a Mary Pickfort quanto sua mãe significava para ele, escondeu o rosto nos seus cachos e chorou por 15 minutos. Eles se casaram pouco tempo depois. Para cada um era a segunda vez: ela tinha sido casada, de maneira infeliz, com o ator Owen Moore, um triste bêbado, e ele com a socialite Beth Sully, com quem teve o seu único filho.
Quando o garoto nasceu, Doug confessou que ele “não tinha mais sentimentos paternos do que um tigre na selva com o seu filhote”. Depois, quando Douglas Junior se tornou um rapaz alto e bonito, o pai, sempre sensível sobre a sua idade, não se sentia bem em ser visto com ele.

Fairbanks tinha 33 anos quando começou a fazer filmes. Ele tinha começado a aparecer nos palcos de Nova York a partir dos 16 anos. No Hawthorne dos Estados Unidos (1912), em cartaz durante muito tempo, ele saltava sobre um muro, entrava numa briga e pulava de uma janela, estabelecendo-se assim como o herói americano com o sorriso agradável que se tornou uma das estrelas mais bem pagas do mundo.

Os seus primeiros filmes eram sátiras sociais. Na primeira produção da United Artists, Sua Majestade, o Americano (1919), ele fazia o papel de um homem da sociedade de Nova York que é herdeiro do trono de um pequeno reino europeu. Em Quando as Nuvens Passam (1919) há uma estranha cena de um sonho em que ele é perseguido por versões gigantescas do que tinha comido no jantar e a câmera lenta revelava a sua forma atlética extraordinária.

Para movimento e excitação puros, há pouca coisa no cinema mudo que se iguale ao clímax de The Mollycoddle (1920). Fairbanks salta de um penhasco até o topo de uma árvore e se atraca com o vilão (Wallace Beery). Eles rolam morro abaixo e sobre uma cachoeira antes que o nosso herói surja vitorioso. A Marca do Zorro (1920) começou a série de ótimos figurinos do qual ele emergiu como um grande símbolo sexual. Tanto como o amolfadinha enfadonho quanto o Zorro fanfarrão, ele estava na sua brilhante e melhor forma.
Fairbanks dizia que tinha nascido para interpretar D”Artagnan nos Três Mosqueteiros (1921), com os seus vastos cenários representando a França do século 17. Começou uma tendência rumo a produções espetaculares de US$ 1 milhão. Usando um chapéu com pluma, uma peruca cacheada e usando um bigode pela primeira vez, ele galopou pela história emocionante e manteve o bigode feito a lápis pelo resto de sua vida.

Robin Hood (1922) teve os maiores cenários jamais concebidos para um filme mudo, incluindo um castelo gigantesco com muros de 30 metros construídos por 500 operários. As cenas de ação superaram tudo que Doug tinha feito antes com trampolins escondidos sendo usados para dar mais altura aos seus saltos, em particular um sobre um fosso de 4,5 metros. Fairbanks participou de todos os aspectos da produção de um filme e ele se interessou particularmente pelos cenários.
Feito pelo total sem precedentes de US$ 2 milhões, O Ladrão de Bagdá (1924) foi o seu filme mais ambicioso e opulento. William Cameron Menzies construiu cenários gigantescos incluindo minaretes altos e prédios mouriscos que deram ao filme uma atmosfera exótica, de conto de fadas. Ele estabeleceu novos padrões em Hollywood para efeitos especiais que ainda surpreendem, ainda que o tapete mágico fosse pendurado por cordas de piano de um guindaste que balançava bem acima dos cenários.

O Pirata Negro (1926) foi o primeiro filme technicolor de dois tons e continha uma das cenas de acrobacia mais espetaculares do cinema mudo: para capturar um navio, Fairbanks sobe num mastro e desce até o convés furando a vela larga com a sua espada, rasgando a lona no caminho. Como o seu peito ficou exposto na maior parte do filme, tinha de ser depilado toda manhã antes da gravação.

Em 1929, Fairbanks, então com 45 anos, fez de novo o papel de D”Artagnan em A Máscara de Ferro. O filme permitia uma caracterização mais velha e mais sábia, mas ainda ágil. O único reconhecimento de diálogo sonoro do filme foi no discurso de Fairbanks em um prólogo e um epílogo. Foi o fim da grande era muda.

Quando Fairbanks e Mary Pickford dividiram o estrelato no “todo falado, todo luta” A Domesticação da Fera (1929), o casamento e as carreiras deles estavam chegando ao fim. Ele não conseguia decorar as suas falas, chegava tarde e minava a confiança dela ao ser crítico demais. Apesar do óbvio ar de autogozação, seu último filme, A Vida Privada de Dom Juan (1934), de Alexander Korda, foi um negócio desalentador. Havia muito pouco do velho Fairbanks e muito do Fairbanks velho.

Pouco tempo depois do lançamento do filme, sua vida particular foi invadida por um processo de divórcio movido contra ele por lord Ashley, marido da ex-cantora de coral Sylvia Hawkes. Fairbanks casou-se com lady Sylvia (como ela continuava a se apresentar) em 1936, mas, três anos depois, teve um ataque cardíaco e morreu, aos 56 anos.

Fairbanks acreditava que os seus filmes mudos nunca seriam mostrados ao público novamente. Mas nos últimos anos muitos foram redescobertos e restaurados para que as suas façanhas intensas possam agitar as platéias novamente.

(Fonte: Veja, 20 de junho, 1979 – Edição 563 – Cinema – Pág; 54/58)
(Fonte: www.cinewesternmania.com)
(Fonte: www.nostalgiabr.com)

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