Aline Silva é a primeira mulher na diretoria da confederação de wrestling
A lutadora de Wrestling Aline Silva se elegeu com votos dos atletas e assumiu a vice-presidência da Confederação Brasileira de Wrestling (CBW) em 7 de dezembro de 2020.
Aline, que já está classificada para Tóquio-2021, sempre foi uma grande defensora dos direitos dos atletas. Ela acabou de chegar da “Missão Europa”, em Portugal, onde ficou por dois meses. Fez parte da chapa “Keep Wrestling” junto com Waldeci Silva e o eleito Flavio Cabral Neto, que também é ex-atleta, rompendo uma dinastia da família Gama de quase 20 anos.
A confederação de lutas associadas nasceu no ano 2000 e depois se transformou em CBW. Em seu novo formato é permitido, além do presidente, dois vices, tendo a lutadora pleiteado uma das vagas. Aline será a primeira mulher a assumir um cargo de chefia na organização.
O primeiro presidente foi Pedro Gama que fez sua gestão até 2004. Depois do seu falecimento assumiu o filho Pedro Gama Filho, que ficou por três mandatos.
Mas não pensem que foi um processo igualitário. Graças a uma atualização da Lei Pelé, os atletas brasileiros só passaram a ter direito a voto nas eleições para suas confederações há três anos. E muitas confederações ainda limitam os poderes dos atletas. No wrestling não foi diferente: os lutadores precisaram de uma liminar da Justiça para poderem de fato ter o seu direito respeitado.
Romper com as dinastias é o mais difícil dentro dessas confederações e são exatamente esses processos que fazem do nosso esporte pouco atrativo para investidores.
O wrestling é um esporte muito antigo e que não abre muitos espaços para as mulheres. As lutadoras têm suas categorias de peso reduzidas perante os homens. No feminino, por exemplo, o peso pesado encerra com 75kg e no masculino em 125kg. Com mais categorias disponíveis, os homens têm muito mais oportunidades e acesso aos Jogos Olímpicos do que as mulheres.
Os homens também competem no estilo greco-romano, que é uma luta milenar da qual as mulheres não podem participar.
E mesmo assim os resultados mais expressivos dessa modalidade no Brasil são de mulheres pretas, as verdadeiras guerreiras de Daome.
Rosangela Conceição foi bronze nos Jogos Pan-americanos do Brasil em 2007 e a primeira mulher do wrestling a participar de uma edição olímpica em Pequim-2008.
Joice Silva foi a primeira brasileira a ganhar um campeonato Pan-americano e uma prata no pré-olímpico mundial da Finlândia. A lutadora dos pesos leves também alcançou duas medalhas em Pan-americanos, sendo um ouro em 2015 em Guadalajara (México) e um bronze em 2017, em Toronto (Canadá).
Joice também foi para os jogos olímpicos de Londres e do Rio de Janeiro.
Após a aposentadoria de Joice em 2017, Aline se tornou a mais veterana da equipe com os expressivos resultados de vice-campeão mundial em 2014 e prata nos jogos Pan-americanos de Guadalajara e Toronto. Foi campeã mundial militar defendendo a Marinha e está classificada para Tóquio-2021.
O ano de 2020 marca na política o aumento de mulheres negras em cargos administrativos. Mesmo elas ainda sendo minoria, não podemos deixar de celebrar os avanços alcançados.
No terceiro episódio do podcast “Central das Lutas”, do qual eu faço parte junto com o estudioso de artes marciais Fenado Grasso, conversamos recentemente com Aline sobre Jogos Olímpicos, carreira, representatividade e política.
Deixo aqui essa dica para quem se interessar em conhecer melhor essa brilhante lutadora que em após encerrar sua carreira, já tem muito trabalho pela frente.
(Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/diogo-silva/2020/12/09 – ESPORTE / COLUNAS / por Diogo Silva – 09/12/2020)