Com apenas 3% de deputados pretos, Câmara tem 1ª negra na Mesa Diretora
Com quase dois séculos desde a primeira legislatura do Congresso Nacional, esta é a primeira vez que uma mulher negra ocupa um cargo na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Rosângela Gomes (Republicanos), 54, é carioca e está em atividade na Casa desde 2015.
Mulher negra e integrante de um Congresso majoritariamente masculino e branco, ela foi eleita quarta-secretária da Mesa dirigida pelo novo presidente, Arthur Lira (PP-AL).
“Foi assim que terminei meus estudos quando não tinha nem casa para morar. Sofri todo tipo de discriminação”, contou ao UOL.
O racismo e o machismo remanescentes no Brasil se veem refletidos nos poucos representantes das minorias a chegar ao poder.
Desde a Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, apenas 15 mulheres conseguiram chegar à Mesa Diretora. Todas se autodenominaram brancas ou não souberam informar a raça, com exceção de Rosângela, que se inscreveu como “preta”, e Mariana Carvalho (PSDB-RO), que se disse “parda”, na legislatura passada.
Fora da Mesa, entre os 513 deputados federais em ativa, apenas três são mulheres negras.
Somente 16 parlamentares se declararam pretos, ou seja, 3% do total da casa, em uma população onde 56% dos brasileiros são negros, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 2015, a Câmara contava com 17 deputados pretos e apenas uma mulher negra.
Na visão de Rosângela, apesar de a Câmara dos Deputados ser um “caldeirão onde se misturam todos os segmentos da sociedade”, os desafios ainda são grandes.
Espero e luto todos os dias para que o Brasil, como país miscigenado que é, abra mais espaços para negros e negras que, com muito trabalho e competência, possam mostrar o seu valor.
Rosângela Gomes, deputada federal
Para a professora Kelly Quirino, da UnB (Universidade de Brasília), a desigualdade racial no Congresso é uma reflexão do imaginário brasileiro, em que pretos ocupam espaços de serventes, enquanto os brancos estão na chefia.
Primeiro o negro tem que lutar para sobrevivência, depois para se qualificar. Aí, tem que convencer que pode entrar em um partido, ser eleito e provar que tem conhecimento e capital político para ocupar os cargos.
Kelly Quirino, professora especializada em raça e gênero
Ela relembra que, por conta da história escravocrata, não há famílias tradicionais negras na política brasileira. “É um esforço três vezes maior que o preto tem que fazer [na política].”
Histórico masculino
A primeira voz feminina que chegou à Mesa Diretora da Câmara foi Lúcia Viveiros (PP-PA), na 46ª legislatura.
Entre as 15 mulheres na bancada, apenas uma foi eleita como primeira-vice-presidente, segundo maior posto na hierarquia das Casas, ocupado na época por Rose de Freitas (ES), hoje senadora pelo MDB.
Durante a Assembleia Constituinte, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) conseguiu a vaga de suplente, mas, apesar de negra, não registrou etnia na ocasião.
Para a professora, a sociedade brasileira é racista, mas, sobretudo, sexista e machista.
“Essas pessoas são pioneiras, quando uma mulher chega para ser secretária, ela já entendeu como funciona o modus operandi e tem que mostrar a outras como chegar lá e facilitar o caminho”, concluiu.
(Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/02/08 – POLÍTICA / NOTÍCIAS / por Natália Lázaro Colaboração para o UOL, em Brasília – 08/02/2021)