Pioneiro do verso
Claudio Manuel: romantismo antecipado
Claudio Manuel da Costa (Vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais, 5 de junho de 1729 – Vila Rica, Minas Gerais, 4 de julho de 1789), poeta consagrado pelos versos de Vila Rica revolucionária, poema dedicado à fundação da capital “das Minas Gerais”
Formado em direito na Universidade de Coimbra, morando em Vila Rica, atual Ouro Preto, ele frequentou os mesmos salões que Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, entregaram-se igualmente a amores idealizados e concretos e exortaram com a mesma força o páis em que viviam – a ponto de se envolverem como é sabido, numa fracassada conspiração para libertar o Brasil de Portugal, a Inconfidência Mineira.
Anteciparam a sensibilidade romântica, consagrada no século XIX mas ainda parâmetro mais vivo quando se pensa em poesia. Basta ler alguns dos sonetos de Cláudio Manuel. Não se pode deixar de registrar que o poeta também aborda em suas poesias os temas da liberdade e da identidade nacional, outro traço romântico. Por fim, é indiscutível que uma das mais requisitadas virtudes para a literatura seja a originalidade.
Embora rezassem pelas cartilhas mais ortodoxas da poesia do século XVIII, os árcades brasileiros conseguiram ensaiar os primeiro passos rumo a uma “literatura nacional”. Não foi por acaso que modernistas como Cecília Meireles, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade se revelaram admiradores entusiasmados dos poetas da Inconfidência Mineira.
Claudio Manoel da Costa é considerado o primeiro poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda apresente características barrocas em toda a sua obra, principalmente no que diz respeito ao estilos cultista e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos na forma e na linguagem. Por isso, costuma-se dizer que Claudio Manoel da Costa é um poeta de transição entre o barroco e o arcadismo. Além disso, seus poemas têm influência dos versos camonianos.
O início do movimento árcade na literatura brasileira tem como marco a publicação de sua coletânea de poemas intitulada Obras (1768). Diferentemente da produção poética anterior, Claudio Manoel da Costa prioriza o retrato da natureza como um local de refúgio dos problemas da vida urbana, onde o poeta/pastor pode desfrutar da vida rural.
A enorme produção de metais e pedras preciosas em Minas Gerais, no começo do século XVIII, ocasionou o florescimento de uma cultura singular em Vila Rica. A chamada corrida do ouro motivou, também, a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763.
A Vila Rica de então lembra, em alguns aspectos, o esplendor da Florença dos humanistas, uma cidade pequena mas repleta de ricas igrejas, palácios e artistas de toda espécie. Nesse ambiente de corte, os governadores e altos funcionários faziam questão de ostentar bom gosto e atualidade. Tal situação pode, em parte, explicar a moda da poesia árcade no Brasil, em sintonia com as ideias do iluminismo europeu.
Dessas tendências resultaram, dois grandes momentos da arte ocidental: a escultura de Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e a poesia de Tomás Antônio Gonzaga. Seus poemas são uma notável realização na poética do século XVIII, quando, num Brasil ainda sem direito a imprimir livros, era comum ver os poetas bajular os poderosos para, no mínimo, ter suas obras impressas na metrópole, e ajudou a compreender melhor um pedaço da história da literatura brasileira.
Seus temas giram em torno de reflexões morais e das contradições da vida, além de ter escrito um poema épico, Vila Rica, no qual exalta o bandeirantes, exploradores do interior do país além, é claro, da fundação da cidade de mesmo nome.
(Fonte: Veja, 27 de março de 1996 – ANO 29 – Nº 13 – Edição 1437 – LIVROS/ Por IVAN TEIXEIRA – Pág: 120/121)