Mandela notabilizou-se pelo enfrentamento ao “apartheid”, o regime de segregação racial institucionalizado na África do Sul, vigente entre 1948 e 1993. A luta política que travou ficou conhecida pela ausência de rancor, sempre orientada para a busca da paz. Formado em direito na Universidade de Fort Hare, a primeira do país a aceitar alunos negros, entrou para a política ainda nos tempos de estudante para assumir a liderança da resistência não violenta da juventude, antes de ser escolhido presidente do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido que, nos anos 1990, o levaria ao poder. Sua habilidade era notável. Depois de liderar a derrubada do regime racista, comandou o país em um momento especialmente difícil, com tensões acumuladas ao longo de quatro décadas de segregação racial e foi capaz de evitar uma iminente guerra civil entre brancos e negros.
Ao longo de sua trajetória, Mandela convocou os negros a reagirem pacificamente para enfrentar as proibições impostas pelos brancos. Obteve grandes vitórias ao evitar derramamento de sangue. No início da carreira, dedicou-se à defesa dos interesses de cidadãos negros. Tornou-se militante contra o apartheid e foi preso em 1962, depois de passar dois anos na clandestinidade coordenando pequenos atentados de sabotagem contra o governo. Condenado à prisão perpétua em 1964, cumpriu 27 anos de reclusão, a maior parte na cadeia da Ilha Robben, onde ocupou uma cela diminuta com uma pequena janela de 30 centímetros. Nunca esmoreceu, mesmo nos momentos mais difíceis, quando perdeu a mãe e um filho. Seu lema, que vinha à tona por meio de cartas confiadas ao carcereiro e amigo Christo Brand era “Unam-se! Mobilizem-se! Lutem!”. Mandela seria libertado somente em 1990, depois de grande pressão internacional. Nesse momento, o regime do apartheid já merecia condenação geral, caracterizado como um crime contra a humanidade. Mesmo considerado um terrorista de esquerda pelos brancos sul-africanos, seu ativismo foi reconhecido em todas as partes do mundo. Recebeu mais de 250 prêmios e condecorações. Em 1993, foi o vencedor do prêmio Nobel da Paz.
Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, na localidade de Mvezo, que ele próprio descreveria, anos mais tarde, como “uma minúscula aldeia afastada do mundo, dos grandes eventos, onde se vivia da mesma forma havia centenas de anos”. Pertencente à etnia Xhosa e filho do chefe da tribo dos tembus, foi batizado com o nome de Rolihiahia Dalighunga Mandela. Só passou a se chamar Nelson na escola primária, onde ingressou em 1925. Lá havia o costume de dar nomes ingleses aos estudantes. O dele foi em homenagem ao almirante Horatio Nelson. Curiosamente, seu nome tribal, Rolihiahia, significa “o encrenqueiro”. Ficou órfão de pai aos 9 anos e, como membro da nobreza, passou aos cuidados do príncipe regente tembu, Jongintaba. Ingressou na escola preparatória exclusiva para negros Clarkebury Boarding Institute, onde estudou cultura ocidental, depois de completar sua formação elementar.
A transformação de um país
Depois que saiu da cadeia, já aos 75 anos, Mandela ainda tinha energia para transformar a África do Sul. Em 1993, assinou, junto com o então presidente Frederick De Klerk, uma nova Constituição. Ela colocava fim a três séculos de dominação política dos brancos e a 45 anos de “apartheid”. A nova carta criava, enfim, condições para a instalação de uma democracia multirracial no país. Em 1994, tornou-se o primeiro presidente negro da história da África do Sul, tendo De Klerk como vice-presidente. Suas medidas políticas melhoraram a vida da maioria do povo e consolidaram as bases democráticas do novo regime. Ele ocupou o cargo até 1999.
Mandela, ou Mandiba, como também era chamado, morreu em dezembro de 2013, aos 95 anos, devido a uma prolongada infecção pulmonar. Suas ideias permanecem vivas como nunca.