O guerrilheiro: crítico feroz do ditador Daniel Ortega
Edén Pastora, o controverso ‘Comandante Zero’ da Revolução Sandinista
Edén Atanacio Pastora Gómez (Ciudad Darío, 22 de janeiro de 1937 – Manágua, 16 de junho de 2020), político e ex-guerrilheiro da Nicarágua, mítico e controverso Comandante Zero da Revolução Sandinista.
O lendário ex-guerrilheiro nicaraguense Edén Pastora, conhecido como “
Depois de conseguir a libertação dos presos sandinistas em troca dos reféns somozistas, a imagem de Pastora deu a volta ao mundo.
Com o triunfo da revolução contra a ditadura somozista, Pastora, o mais popular dos guerrilheiros sandinistas, não entrou para o primeiro escalão da direção nacional dos nove comandantes e teve de conformar-se com um cargo secundário de vice-ministro.
García Márquez escreveu num artigo intitulado “Edén Pastora” que “um homem assim não podia acostumar-se ao tempo parcimonioso do poder”.
Na opinião de García Márquez, “esse comandante sandinista de 45 anos, duro e desconfiado, resolveu renunciar às vaidades do poder terreno para ir disparar tiros em outras terras, como alguns reis medievais abandonavam tudo e iam a Jerusalém para defender o Santo Sepulcro”.
O Prêmio Nobel parecia desconhecer o fato de que os tiros que Pastora ia disparar não seriam em outras terras, mas na própria Nicarágua. E, dessa vez, teriam como alvo seus antigos companheiros de guerrilha, boa parte dos quais, em função do uso e abuso do poder, tinha degenerado, transformando-se num bando de ladrões dispostos a apoderar-se de tudo o que podiam, usando a revolução como álibi.
Como chefe de um grupo dos contras, Pastora não tinha a confiança dos Estados Unidos, que não viam com bons olhos uma figura tão excêntrica.
Pastora se declarava social-democrata, tanto assim que fez peregrinações por toda a Europa e América Latina procurando ajuda para seu empreendimento de combater os sandinistas.
Os Somoza marcaram profundamente a vida de Pastora. Um dia, Anastasio Somoza se hospedou na casa da família Pastora em Metapa, que, pouco depois, mudou de nome, passando a ser chamada Ciudad Darío.
Um general de Somoza se dedicava a roubar os sítios de seus proprietários, por bem ou por mal, e cismou com a propriedade do pai de Edén, Pánfilo Pastora, que se negou a vendê-lo.
Os próprios colonos, convertidos em sicários pelo pagamento do militar somozista, assassinaram Pánfilo Pastora de maneira brutal.
Mais tarde, os irmãos mais velhos de Edén liquidaram a tiros todos os envolvidos na morte de seu pai. Segundo um primo, “Edén cresceu sob a influência da tragédia do assassinato do pai”.
– Vida guerrilheira –
O ex-guerrilheiro trabalhava para o governo Ortega no desenvolvimento da bacia do Rio San Juan, situada na fronteira com a Costa Rica, local que tem sido palco dos conflitos fronteiriços entre esses dois países.
Pastora nasceu em 15 de novembro de 1936 em Ciudad Darío (norte), estudou em um colégio jesuíta e mudou-se para o México para estudar medicina na Universidade de Guadalajara, embora não tenha terminado seus estudos, voltando à Nicarágua em 1959.
Novamente no país de origem, ele se juntou à guerrilha Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, de esquerda) durante a luta contra a ditadura de Anastasio Somoza, terminada em 1979 após revolta popular.
Em agosto de 1978, o Comandante Zero ganhou notoriedade ao liderar o ataque ao Palácio Nacional, onde ficava a Assembleia Nacional (parlamento), libertando dezenas de militantes da FSLN ao trocá-los por reféns, incluindo parentes de Somoza.
No início da Revolução Sandinista, Pastora foi vice-ministro do Interior, mas deixou o cargo triste ao denunciar o que seria um alinhamento com Cuba e a União Soviética do governo chefiado pelo atual presidente, Daniel Ortega.
– Opositor e aliado –
Em 1981, depois de romper com os sandinistas, Pastora se estabeleceu na Costa Rica e criou a Aliança Revolucionária Democrática (ARDE), que retomou a luta armada para combater seus ex-companheiros do sul da Nicarágua.
Em 1984, durante uma coletiva de imprensa, ele foi alvo de um ataque na cidade de La Penca, norte da Costa Rica. Ele não foi ferido, mas 11 pessoas morreram, incluindo vários jornalistas.
Após a derrota eleitoral sandinista em 1990, Pastora permaneceu na Costa Rica, onde obteve cidadania e se dedicou à pesca e ao turismo.
Ao retornar à Nicarágua, ele entrou na vida política e, em 1996, tentou concorrer à presidência, mas foi inibido pelo Conselho Eleitoral Supremo (CSE) por ter dupla nacionalidade, nicaraguense e costa-riquenha.
Depois de anos de distanciamento do FSLN, Pastora se reconciliou com Ortega quando ele voltou ao poder em 2007, e o defendeu das acusações de seus rivais de ser um ditador.
“Lutei contra os erros políticos e morais que colocavam em perigo o Estado revolucionário com uma arma na mão, à frente de milhares de homens. Agora (que Ortega) está fazendo isso (bem), seria inconsequente com tudo o que defendia” se eu o criticasse, Pastora disse em uma entrevista à AFP, em 2008.
O ex-guerrilheiro estava no centro de uma disputa de fronteira entre a Nicarágua e a Costa Rica que surgiu em outubro de 2010, após as obras de dragagem do rio San Juan, sob sua responsabilidade.
“Várias vezes tive que desempenhar o papel de menino mau”, mas “continuem a me acusar, caso queiram”, Pastora se defendeu.
O líder, que era próximo ao presidente Daniel Ortega, faleceu após sofrer um infarto aos 83 anos enquanto estava internado em um hospital, recentemente havia sido hospitalizado após sofrer uma recaída de uma broncopneumonia. O ex-guerrilheiro morreu no Hospital Militar da capital da Nicarágua e, embora o governo afirme que a morte foi resultado de um ataque cardíaco, Pastora foi intubado desde o final de semana passado devido a uma complicação causada por broncopneumonia derivada do novo coronavírus, de acordo com fontes médicas.
Pastora morreu nas primeiras horas da manhã em decorrência de “um ataque cardíaco repentino”, depois de passar vários dias no Hospital Militar de Manágua, segundo seu neto Álvaro Pastora contou à AFP.
(Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo – MUNDO / MANÁGUA / Por Wilfredo Miranda, de El País – 16/06/2020)
(Fonte: Veja, 24 de junho de 2020 – ANO 53 – Nº 26 – Edição 2692 – DATAS – Pág: 22)
(Fonte: https://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2632 – MUNDO / Por AFP – 16/06/2020)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo – FOLHA DE S.PAULO / MUNDO / NICARÁGUA / Por JOSÉ COMAS DO “EL PAÍS”, EM MADRI – São Paulo, 30 de abril de 2001)
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