Edgar de Godói da Mata Machado (Diamantina, 1913 – 1995), professor, jornalista, escritor e ex-deputado federal. Reconhecido expoente da corrente humanista e personalista do direito.
Homenageado no dia 5 de novembro de 1976, em Belo Horizonte, pela Universidade Católica de Minas Gerais, com a medalha Sobral Pinto, por ter sido o brasileiro que mais se destacou na atividade jurpidica em defesa dos direitos humanos em 1976. Ex-chefe da Casa Civil do governador Milton Campos e ex-secretário do Trabalho do governador Magalhães Pinto, teve os direitos políticos suspensos em 1969. Impedido de lecionar, dedicou-se à atividade literária, tendo escrito o livro Memórias de Ideias Políticas, dedicado a seu filho José Cralos Novaes da Mata Machado, morto segundo as autoridades, num tiroteio com a polícia política do Recife.
(Fonte: Veja, 10 de novembro de 1976 Edição n° 427 Datas Pág; 138)
Edgar de Godói da Mata-Machado pertenceu a uma geração que atuou na vida pública sem perder o vigor de suas posturas éticas e a amplitude de sua visão de mundo. Conhecido como pensador católico da mesma escola de Georges Bernanos, Jacques Maritain e Alceu Amoroso Lima, notabilizou-se pela defesa intransigente dos direitos humanos e pela luta contra os regimes autoritários.
Ao longo de sua trajetória, esse mineiro de Diamantina atuou como jornalista, professor universitário e político. Foi secretário de Estado, deputado estadual, deputado federal e senador. Seu imenso legado abrange, pois, os campos da imprensa, da Ciência do Direito e da política. Como jornalista, Mata-Machado escreveu para a Folha de Minas e trabalhou em O Diário, também conhecido como Diário Católico, por haver sido fundado por Dom Antônio dos Santos Cabral, então arcebispo de Belo Horizonte.
No Rio de Janeiro, foi repórter do Diário de Notícias e de O Globo, quando, no primeiro semestre de 1945, divulgou, em primeira mão, o nome do Brigadeiro Eduardo Gomes como o candidato da oposição à Presidência da República, logo depois da famosa entrevista feita por Carlos Lacerda com José Américo de Almeida, momento emblemático de reação da sociedade civil contra a censura à imprensa típica do Estado Novo.
Mata-Machado também cobriu a campanha eleitoral do Brigadeiro, derrotado por Eurico Gaspar Dutra, e os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, em 1946. De volta a Minas Gerais, convocado pelo amigo Milton Campos, participou de sua vitoriosa campanha ao governo do Estado e, em seguida, exerceu a função de Chefe de Gabinete do Governador. Eleito Deputado Estadual pela UDN em 1950, não conseguiu se reeleger quatro anos depois, quando a dedicação ao estudo e ao ensino do Direito assumiu o primeiro plano de sua atuação.
Na condição de professor de Introdução ao Direito, produziu, entre várias outras, uma obra de especial importância, por revelar o cerne de seu pensamento como jurista: Contribuição ao Personalismo Jurídico (reeditado pela Unimarco Editora, em 1999), tese apresentada ao concurso de Livre Docência, da Faculdade de Direito da UFMG, em 1953. Nela, Edgar da Mata-Machado situou a pessoa humana como elemento fundamental para o desenvolvimento do Direito, inspirado pelos termos postos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Fortemente tocado pelos escritos de Jacques Maritain, defendeu a realização plena dos direitos econômicos, sociais e culturais do homem, devidamente conciliados com seus direitos civis e políticos.
No governo Magalhães Pinto, Mata-Machado tornou-se titular da Secretaria de Estado do Trabalho e Cultura Popular, criada por iniciativa sua. Foi quando fundou a Utramig, Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais. Em 1966, pelo MDB, conquistou cadeira na Câmara dos Deputados, exercendo a função de vice líder da bancada, então comandada por Mário Covas, de São Paulo. Cassado em janeiro de 1969, regressou a Minas, mas não conseguiu retomar suas atividades como professor da Faculdade de Direito da UFMG: por força do Ato Institucional nº5, em abril desse mesmo ano, foi afastado de suas funções docentes. Sem espaço para lecionar, fundou a Editora Vega, ao lado, entre outros, de Maria Mazzarello, a Mazza.
No final dos anos setenta, foi um dos participantes mais ativos no movimento pela anistia, lei que chegou em 1979. Em 1982, na condição de segundo suplente, integrou a chapa de Itamar Franco ao Senado Federal, assumindo o mandato de Senador por um ano, em 1990. Pai de José Carlos Novaes da Mata-Machado, expoente do movimento estudantil assassinado durante o regime militar, Edgar de Godói da Mata-Machado jamais permitiu que o sofrimento que experimentou em vida o derrotasse ou abalasse a sua fé no ser humano e em sua capacidade de vencer a opressão. Até o fim, manteve acesa a crença em suas convicções mais profundas, e portou-se de acordo com elas. É exemplo perene.
Rogério Faria Tavares advogado e jornalista. Mestre em Direito Internacional pela UFMG e Doutorando em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Madri. Membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG).
(Fonte: Artigo publicado no caderno Pensar do jornal Estado de Minas, edição de dezembro de 2010 – 20/12/2010 Autor: Rogério Faria Tavares)