Edgar Wallace, o príncipe do mistério
Wallace: o “príncipe” ressuscitado
Edgar Wallace (Greenwich, Londres, 1° de abril de 1875 Beverly Hills, 10 de fevereiro de 1932), prolífico jornalista, dramaturgo e romancista, autor de inúmeras histórias policiais e de suspense que se tornaram muito populares. Entre as muitas lendas da lendária vida de Wallace, conta-se que ele costumava ler seus romances para a mulher, Violet, e o secretário Robert Curtis. Quando chegava ao ponto decisivo da história, perguntava: Quem é o assassino? Se os ouvintes acertassem, Wallace rasgava o original e começava tudo novamente.
Felizmente para os leitores que seguem fielmente a imaginação vertiginosa de Wallace, Violet e Robert erraram pelo menos umas duzentas vezes, a julgar pela quantidade de trabalhos existentes do escritor. E “O Círculo Vermelho” e “A Porta das Sete Chaves” representam, sem dúvida, as duas falhas mais importantes dos adivinhadores.
É verdade que Wallace escrevia seus livros de maneira curiosamente descuidada. A qualidade de sua produção foi diretamente proporcional à sorte do autor nos hipódromos. Também é verdade que seus livros estão repletos de lugares comuns e recursos herdados dos folhetins do século 19. Wallace os elaborava geralmente diante de um velhíssimo ditafone de cilindro, criando personagens e fatos velozmente e muitas vezes se atrapalhando completamente com uma ação sem pé nem cabeça. Apesar de tudo isso, porém, cerca de trinta de suas obras podem ser tranquilamente incluídas entre os clássicos da literatura policial.
Ameaças macabras Desde setembro de 1969 são publicados de forma regular os trabalhos de Wallace. O primeiro título publicado daquele ano, foi “O Terror Verde”. “O Círculo Vermelho” e “A Porta das Sete Chaves” tem grandes temas e permanecem interessantes: o detetive dotado de superpoderes de dedução e observação, a mocinha assustada que proporciona o toque romântico, o bandido estrangeiro e sinistro, a polícia bem intencionada e quase sempre estúpida.
Surpresas igualmente não faltam. Em “O Círculo Vermelho”, uma superorganização criminosa lança o terror sobre a Inglaterra, com ameaças macabras a milionários e ao governo, que nada pode fazer contra o poder onipresente da quadrilha. Wallace leva o leitor por várias pistas diferentes até a possível solução. Evidentemente, contudo, o criminoso é outro.
Em “A Porta das Sete Chaves”, o gênero policial funde-se com um argumento de ficção científica e de terror, ao qual não faltam um cientista que se dedica à saudável tarefa de criar super-homens, um solar cheio de passagens secretas e um túmulo familiar digno dos filmes de Christopher Lee. A trama parece suficientemente complicada. E o último capítulo desemboca como um alívio para a torturada curiosidade do leitor. Com efeito, depois dos longos anos de sucesso da “rainha do crime”, Agatha Christie, já estava na hora de ressuscitar o chamado “príncipe do mistério”.
Wallace morreu em 10 de fevereiro de 1932, no trajeto de Hollywood para escrever o argumento do filme King Kong.
(Fonte: Veja, 26 de dezembro de 1973 Edição 277 LITERATURA/ Por Geraldo Galvão Ferraz Pág; 76/77)