O intelectual e pensador palestino Edward Said, autor de “Orientalismo”, era um dos principais críticos do governo israelense, de Arafat e dos Acordos de Oslo
Edward Wadie Said (Jerusalém, 1° de novembro de 1935 – Nova York, 24 de setembro de 2003), intelectual palestino, autor de obras sobre crítica literária e musical, política e história,
Um dos mais importantes críticos literários e culturais dos Estados Unidos, Said escreveu dezenas de artigos e livros sobre a questão palestina, licenciou-se em Princeton, doutorou-se em Literatura Comparada e desenvolveu atividades docentes em Harvard (EUA). Foi pesquisador em Stanford e teve sua obra o “Orientalismo” publicada em 1978.
Uma das vozes mais críticas à ocupação dos territórios palestinos e ao modelo das negociações de paz com Israel, sob a mediação norte-americana, Said foi membro do Parlamento palestino no exílio durante 14 anos até renunciar em 1991 por causa da leucemia e por sua oposição ao líder palestino Yasser Arafat.
Nascido em Jerusalém, em novembro de 1935, filho de árabes cristãos, foi educado no Cairo e, mais tarde, em Nova York, onde lecionou literatura na Universidade Columbia.
Nascido numa família anglicana da elite palestina que se mudou para o Cairo e cujo pai havia adquirido a cidadania norte-americana durante a Primeira Guerra, foi educado em escolas coloniais inglesas (onde foi contemporâneo do rei Hussein, da Jordânia) antes de estudar em Princeton e Harvard. Tornou-se professor de literatura comparada e inglesa na Universidade Columbia em 1963.
Desde então, publicou vários livros, entre eles “Orientalismo”, um clássico do debate cultural no qual afirma que o Oriente foi uma construção teórica ocidental, baseada em uma série de estereótipos reducionistas (sensual, vicioso, tirânico, retrógrado e preguiçoso) a fim de construir uma cultura homogênea para melhor dominá-la, em nome de um Ocidente também idealizado. Essa obra se transformou em uma espécie de credo intelectual entre universitários e um dos documentos fundadores do que ficou conhecido como estudos pós-coloniais.
Com suas múltiplas identidades, Said trouxe a experiência de volta ao foco da crítica, contra o domínio exclusivo das teorias formalistas. Escreveu ensaios sobre Conrad, Vico, Lukács, Melville, Nietzsche, T. E. Lawrence e Merleau-Ponty, entre outros. A teoria do choque de civilizações, de Samuel Huntington (1927-2008), descreveu como “choque de ignorâncias”.
Foi alvo de críticas de grupos judaicos, o pesquisador israelense Justus Reid Weiner o acusou de dramatizar sua infância, e chegou a ser descrito em um artigo como “professor de terror”.
“Repudio totalmente o terror em todas as suas formas, seja palestino ou israelense”, contestou.
Said não poupou críticas ao governo de Israel, à Autoridade Palestina, a regimes árabes e aos Acordos de Oslo (“Oslo não diz nada sobre colônias, fim da ocupação, soberania nem recursos hídricos”, argumentava).
“Menino de 12 anos e meio no Cairo, vi tristeza e privação no rosto e na vida de pessoas que conhecera anteriormente entre os que formavam a classe média na Palestina, mas não podia entender a tragédia que havia desabado sobre elas [após a criação de Israel]”, escreve Said em sua autobiografia, de 1999. “No longo prazo temos uma chance muito boa de sobreviver como povo. Mas vai ser muito difícil”, acreditava.
Morreu em 2003, em um hospital de Nova York. Ele sofria de leucemia desde 1991.
(Fonte: http://www.dana.com.br/canaldana – Canal Dana: 19 de agosto de 2013)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo – FOLHA DE S.PAULO / MUNDO / MEMÓRIA / Por PAULO DANIEL FARAH ESPECIAL PARA A FOLHA – São Paulo, 26 de setembro de 2003)
Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP