Eiji Toyoda, que promoveu o crescimento da Toyota
Eiji Toyoda (Nagoya, 12 de setembro de 1913 – Toyota City, Japão, 17 de setembro de 2013), que como membro da família fundadora da Toyota Motor e arquiteto de seu “método enxuto” de produção ajudou a fazer da montadora japonesa uma potência mundial e mudou a face da produção industrial moderna.
Toyoda, sobrinho de Sakichi Toyoda, o fundador da companhia, foi presidente da Toyota entre 1967 e 1982, e depois continuou na companhia como presidente do conselho e posteriormente consultor, até a morte. Nas quase seis décadas que dedicou à empresa, ele ajudou a transformar uma pequena companhia, criada como subsidiária de uma fábrica de máquinas têxteis, na maior montadora de automóveis do planeta.
No começo de sua carreira, ele conduziu a Toyota a uma posição de liderança na nova onda japonesa de produção automobilística, promovendo o reforço da linha de modelos da empresa, primeiro pelo acréscimo de veículos compactos e carros esporte, nos anos 1960 e 1970, e depois iniciando o desenvolvimento de modelos de luxo, nos anos 1980, para concorrer com rivais como a Mercedes-Benz e a BMW, o que culminou na criação da marca Lexus em 1989.
Toyoda também liderou a expansão da Toyota no exterior, ajudando a estabelecer a linha de montagem conjunta entre sua empresa e a General Motors em Fremont, Califórnia. A fábrica, conhecida como Nummi, introduziu os métodos enxutos de produção das companhias japonesas nos Estados Unidos, como parte da migração da indústria automobilística japonesa para o território norte-americano. A eficiência industrial da empresa ajudou a manter a posição da Toyota como uma das principais fabricantes de automóveis e maiores empregadoras do mundo.
A fábrica Nummi foi fechada em 2010. O local hoje abriga a linha de montagem dos pioneiros carros elétricos da Tesla Motors.
No começo dos anos 90 foi Toyoda, conhecido como homem de poucas palavras, que expressou o senso de crise dentro da empresa, em um momento de estagnação do crescimento japonês. Ele argumentava que a Toyota precisava mudar a maneira pela qual produzia automóveis, se esperava sobreviver no século 21. Foi sua insistência que levou ao desenvolvimento do popular híbrido Prius, acionado por uma combinação entre motor de gasolina e motor elétrico, escreveu o especialista em indústria Satoshi Hino, em “Inside the Mind of Toyota”, livro de 2005.
Toyoda nasceu em 12 de setembro de 1913, perto de Nagoya, no centro do Japão, segundo filho de Haikichi e Nao Toyoda. Passou boa parte da juventude trabalhando na tecelagem da família, onde desenvolveu interesse precoce por máquinas, ele conta em “Toyota: 50 Years in Motion”, sua autobiografia, publicada em 1988. Formou-se em engenharia mecânica pela Universidade de Tóquio, em 1936, e passou a trabalhar para a fábrica de máquinas têxteis da família.
No ano seguinte, Kiichiro Toyoda, filho do fundador, criou a Toyota Motor, e levou o jovem Eiji para trabalhar com ele.
Designado para uma divisão cuja tarefa era a solução de problemas de qualidade, diz-se que Toyoda logo desenvolveu uma capacidade quase sobrenatural de encontrar desperdício.
“Há problemas rolando diante de seus olhos”, ele contou sobre o período no livro de Hino. “Percebê-los e tratá-los como problemas depende de desenvolver seus hábitos. Se você desenvolve o hábito, pode fazer tudo que sua mente desejar”.
Em 1950, ele fez uma visita de três meses à fábrica Rouge, da Ford, em Detroit, que se provaria decisiva. A fábrica era a maior e a mais eficiente do mundo, na época. Antes da Segunda Guerra Mundial, o governo militar havia impedido a Toyota de fabricar carros de passageiros, forçando-a em lugar disso a produzir caminhões para o esforço militar do país.
Até 1950, a Toyota havia fabricado apenas 2.685 automóveis, ante os 7.000 veículos produzidos por dia na fábrica Rouge, de acordo com “The Machine That Changed the World” (1990), de James Womack, Daniel Jones e Daniel Roos.
Toyoda não se deixou abater, escrevendo à sede da empresa que imaginava “haver algumas possibilidades de melhorar o sistema de produção”. Ele levou de volta ao Japão um espesso manual que delineava os métodos de controle da qualidade da Ford; sua companhia traduziu o livro para o japonês, mudando o nome “Ford” para “Toyota” ao longo de todo o texto.
Toyoda se tornou diretor da fábrica da Toyota em Motomachi, um grande empreendimento que deu a ela a capacidade de fabricar 5.000 carros por mês, em um momento no qual a indústria automotiva do Japão como um todo produzia 7.000 unidades mensais. A fábrica, completada em 1959, logo estava operando a toda a capacidade, e deu à Toyota vantagem decisiva sobre a rival interna Nissan, e a confiança de que precisava para buscar os mercados internacionais.
Enquanto expandia agressivamente a produção da Toyota, Toyoda aplicava à empresa uma cultura industrial baseada em conceitos como o de kaizen, o compromisso de adotar constantemente melhoras sugeridas pelos operários da companhia, bem como a produção just-in-time, um esforço incansável de eliminação de desperdício. As ideias se tornaram uma filosofia empresarial conhecida como Sistema de Produção Toyota, ou “Toyota Way”.
“Uma das características dos operários japoneses é que eles usam o cérebro e não só as mãos”, declarou Toyoda em entrevista ao escritor Masaaki Imai para o livro “Kaizen” (1986). “Nossos funcionários oferecem 1,5 milhão de sugestões ao ano, e 95% delas são colocadas em uso prático. Há uma preocupação quase tangível em melhorar presente no ar da Toyota”.
Os métodos que ele fomentou ganharam influência mundial. Ainda que a Toyota tenha mantido suas técnicas industriais em segredo por muito tempo, a companhia veio a reconhecer o interesse mais amplo que seu modelo despertava e passou a oferecer serviços de consultoria a outras empresas, fora do setor automotivo, e a organizações sem fins lucrativos. Como parte de sue programa de serviços à comunidade, a Toyota agora treina o pessoal do Food Bank de Nova York sobre como otimizar o fluxo e a qualidade de seu trabalho, por meio de estruturas mais enxutas e melhor desempenho.
Em 1994, o Hall da Fama Automotivo de Dearborn, Michigan, incluiu Toyoda entre seus membros por suas contribuições à fabricação de automóveis. Ele foi o segundo japonês a receber a honraria, depois de Soichiro Honda, fundador da Honda Motor.
“Desde o estabelecimento da Toyota, em 1937, estou envolvido nesse maravilhoso negócio, e enquanto meu motor continuar funcionando, pretendo retribuir ao máximo e contribuir para o futuro desenvolvimento da indústria”, declarou Toyoda então.
Toyoda morreu em 17 de setembro de 2013, em Toyota City, Japão, onde fica a sede de sua empresa, no Hospital Memorial Toyota, foi causada por uma insuficiência cardíaca. Ele tinha cem anos.
Ele teve três filhos e uma filha com a mulher, Kazuko, dos quais o filho mais velho, Kanshiro, ainda é vivo.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/09/1343989- MERCADO – HIROKO TABUCHI DO “NEW YORK TIMES”, EM TÓQUIO – Tradução de PAULO MIGLIACCI – 18/09/2013)