Elio de Angelis, o “Príncipe Negro” que deixou saudade na Fórmula 1
Italiano, que perdeu a vida num acidente durante um teste em Paul Ricard; relembre a carreira do aristocrata, pianista e piloto
Elio de Angelis (Roma, Itália, 26 de março de 1958 – Marselha, na França, 15 de maio de 1986), piloto e personagem italiano da F1 que fez história por pilotar quase sempre carros negros na carreira, e pelo seu berço de ouro, Elio era conhecido como “Príncipe Negro”.
De Angelis nasceu em 1958 numa família de classe média que enriqueceu bastante. Seu pai, Giulio, era um competidor de corridas de barco, com muito sucesso nos anos 60 e 70. Mas o garoto Elio, que era um pianista de grande qualidade, queria mesmo correr nas pistas do automobilismo. Depois de vencer o campeonato de F3 na Itália em 1977, chegou até mesmo a ser cogitado para substituir Niki Lauda na Ferrari. Testou com sucesso em Fiorano, mas acabou preterido por Gilles Villeneuve. De fato, ele era jovem demais, tinha só 19 anos.
De qualquer forma, a estreia na F1 não demoraria. Depois de vencer o prestigiado GP de Mônaco de F2 em 1978, De Angelis estreou aos 20 anos pela decadente Shadow e foi sétimo colocado logo na estreia, na Argentina. Depois de algumas boas corridas, conquistou um impressionante quarto lugar nos Estados Unidos, sob chuva. Eram os primeiros pontos de Elio, numa época em que apenas os seis primeiros colocados somavam numa corrida.
Isso chamou a atenção de ninguém menos do que Colin Chapman, que contratou De Angelis para ser companheiro de Mario Andretti em 1980. Eram a juventude e experiência a serviço da Lotus, e quem levou a melhor foi o garoto. Logo na segunda corrida, em Interlagos, Elio foi o segundo colocado e subiu pela primeira vez ao pódio. O italiano terminou outras três vezes nos pontos e foi o sétimo colocado no campeonato, uma façanha, já que a Lotus não tinha um carro espetacular.
Em 1981, a Lotus também não era tão forte como Williams, Brabham, Renault, Ligier e Ferrari, e o oitavo lugar de Elio de Angelis na tabela também pode ser considerado um bom resultado, já que ele pontuou em oito das 15 corridas.
No começo de 1982, De Angelis teve uma participação especial na conhecida greve dos pilotos em Kyalami, na África do Sul. Irritados com a criação da superlicença, uma espécie de documento pago pelos pilotos à federação internacional para serem autorizados a correr, houve uma rebelião liderada por Didier Pironi e Niki Lauda. Os pilotos se recusaram a participar dos treinos, alugaram um ônibus, deixaram o autódromo e se trancaram numa sala num hotel. Pegaram colchões, deitaram-se no chão e De Angelis divertiu, ou, digamos, acalmou os companheiros tocando piano – numa apresentação digna de um concerto. A greve acabou quando a FIA prometeu rever a superlicença e os pilotos caíram como patinhos. Correram e foram obrigados a pagar a superlicença do mesmo jeito…
Num ano equilibradíssimo, com 11 vencedores diferentes, De Angelis conquistou a primeira vitória justamente quando menos se esperava. O circuito de Österreichring, na Áustria, era velocíssimo e pouco atraente aos carros com motores aspirados, caso da Lotus. Mas os turbos de Brabham, Ferrari e Renault ainda não tinham a confiabilidade que se pretendiam e os favoritos ficaram pelo caminho. No fim, sobraram De Angelis e Keke Rosberg num mano a mano pela vitória. A Williams de Keke era mais veloz, mas Elio resistiu até a chegada e venceu com 0s050 de vantagem.
Em 1983 a Lotus passou a correr com motores Renault, mas só cresceu a partir da metade da temporada, quando o projetista Gerard Doucarouge foi contratado e fez um novo projeto. Mesmo assim, o carro ainda era frágil e os pneus Pirelli não eram competitivos. Em Brands Hatch, palco do GP da Europa, o asfalto casava melhor com os pneus, e De Angelis surpreendeu ao conquistar a primeira pole da carreira. Liderou no começo, mas se enroscou com Riccardo Patrese na briga pela ponta. Mesmo assim, Elio de Angelis permaneceu na Lotus para mais uma temporada ao lado de Nigel Mansell.
A temporada de 1984 foi a melhor da carreira de Elio. Ele conquistou a pole position na abertura do campeonato, no Brasil, e, apesar de não ter vencido nenhuma prova, mostrou grande consistência. Com quatro pódios e 11 pontuações em 16 corridas, De Angelis foi o terceiro na tabela. Num ano inteiramente dominado pela McLaren com Niki Lauda e Alain Prost, o italiano foi o “melhor do resto”.
As expectativas eram boas para 1985, mas um certo Ayrton Senna atravessou o caminho de Elio. O carro da Lotus era competitivo, mas o motor Renault era beberrão e frágil. De Angelis foi constantemente batido por Senna nas classificações mas seu estilo suave de condução lhe rendeu frutos na primeira metade do campeonato. Venceu o GP de San Marino depois que Prost foi desclassificado e chegou a liderar a tabela. Mas consistência apenas não bastava e Ayrton, que teve muitos abandonos na primeira metade do ano, reagiu e superou De Angelis. A relação entre os dois azedou no fim do ano e Elio chegou a querer agredir Senna após uma disputa na África do Sul.
Sem clima na Lotus e batido por Senna, o Elio foi para a Brabham, mas o revolucionário projeto do “carro-skate” de Gordon Murray foi um fracasso retumbante. O perfil baixo demais até reduziu o arrasto do modelo BT55 como se previa, mas causou problemas de pressão aerodinâmica e lubrificação no motor BMW. Testando o carro em Paul Ricard para tentar melhorá-lo, Elio sofreu um forte acidente quando a asa traseira se soltou. Com péssima – para não dizer nenhuma – assistência médica adequada, De Angelis inalou muita fumaça e morreu no dia 15 de maio de 1986, com apenas 28 anos de idade.
Um personagem muito educado e querido pelos colegas, e com uma carreira de resultados competitivos. Este foi Elio de Angelis, que poderia ter competido por muito mais tempo e deixado um legado ainda mais marcante nos fãs da velocidade.
Elio de Angelis partiu muito cedo, em 15 de maio de 1986, em Marselha, na França, e estaria fazendo 60 anos em 26 de março de 2018. Elio de Angelis foi vítima de um brutal acidente com o Brabham BT55 numa sessão de treinos no Circuito de Paul Ricard.
(Fonte: https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2018/03/26 – MOTOR / FÓRMULA 1 / F1 MEMÓRIA / Por Fred Sabino / GloboEsporte.com — Rio de Janeiro – 26/03/2018)