Elizabeth Anscombe (Limerick, Irlanda, 19 de março de 1919 – Cambridge Reino Unido, 5 de janeiro de 2001), filósofa irlandesa, estudou em Oxford, acabando a carreira de professora em Cambridge. As pessoas deslocavam-se de longe para as suas palestras, onde quer que as desse.
Elizabeth era uma estudante de 20 anos na Oxford University quando a Segunda Guerra Mundial começou. Na época, ela foi coautora de um controverso panfleto argumentando que a Bretanha não deveria fazer guerra porque países em guerra inevitavelmente terminam conbatendo por meio injustos. “A Senhorita Anscombe”, como sempre foi conhecida – apesar de seu casamento de 59 anos e de suas sete crianças -, estaria entre os mais distintos filósofos do século XX, e a maior filósofa da história.
A senhorita Anscombe foi também católica, e sua religião foi central em sua vida. Os seus pontos de vista éticos refletem ensinamentos católicos tradicionais. Em 1968, após o papa Paulo VI afirmar que a Igreja bania a contracepção, ela escreveu um panfleto explicando porque o controle de natalidade artificial é imoral. Mais tarde em sua vida, ela foi presa enquanto protestava nas portas de uma clínica britânica de aborto. Ela também aceitou o ensinamento da Igreja sobre a conduta ética na guerra, o que a levou ao conflito com Truman.
Harry Truman e Elizabeth Anscombe cruzaram seus caminhos em 1956. A Oxford University estava planejando dar a Truman o título de doutor honoris causa em agradecimento pela ajuda dos Estados Unidos durante o tempo da guerra. Aqueles que propuseram a honra pensaram que seria incontroverso. Porém, Anscombe e dois outros membros da faculdade se opuseram à ideia. Ainda que eles tenham perdido, forçaram uma votação para o que teria sido uma unanimidade. Então, enquanto o grau estava sendo conferido, Anscombe ficou rezando de joelhos em frente do salão.
O marido de Anscombe, Peter Thomas Geach (1916-2013), foram os maiores filósofos do século XX a defenderem a doutrina de que as regras morais são absolutas.
Tinha aquela excentricidade mítica dos ingleses: vestia calças de pele de leopardo e blusão de cabedal, usava monócolo e fumava charuto… mas, no essencial, a casa era construída sobre a rocha.
Converteu-se já na universidade, casando com outro converso, sendo mãe de sete filhos, o que só por si é exemplo ímpar para as famílias de hoje.
Discípula e amiga de Wittgenstein, aprendeu alemão para traduzir as Investigações Filosóficas; de resto, o caso dele também tem muito interesse religioso.
A mãe era católica e educou os filhos como tal. O genial filósofo nunca se confessou crente, mas tem muitas e brilhantes anotações sobre religião, entendida do simples ponto de vista lógico.
Certo é que Miss Anscombe lhe tratou do funeral católico. Não faria um ato tão sério sem um motivo forte, derivado da grande intimidade com o defunto.
A sua importância para a Filosofia deriva da reflexão moral; mas o pensamento religioso não é de menosprezar. Por incrível que possa parecer, aquela tinha entrado em colapso, a partir dos modernos.
Na essência, e com base na distinção entre juízos de facto e de valor, os modernos retiraram todo o crédito às afirmações morais, introduzindo o nefasto relativismo.
Só as ciências experimentais fazem proposições com valor de verdade, afirmavam; todas as outras afirmações filosóficas podem ser verdadeiras e falsas, ao mesmo tempo… isto é, não têm qualquer rigor.
Ora, nem os juízos de facto são tão inflexíveis; nem os juízos de valor são assim fluidos – até se pode concluir que o fundamento moral é muitíssimo mais inabalável.
A opera omnia de Anscombe é sobre a Intenção, onde uma ação(voluntária) é distinta dum acontecimento (causalidade pura). Reabilita as virtudes, de Aristóteles, que são mais objetivas do que o legalismo, à Kant.
Não era mulher de ficar na cátedra, a ver passar o mundo. Bateu-se contra o Honoris Causa ao presidente Truman… perdeu, mas introduziu na universidade a questão católica da guerra justa.
E em 1972 publicou Contraceção e Castidade: contra a pílula, o aborto, o controlo de natalidade. Este texto vai ganhando com o passar do tempo, como uma previsão.
Elizabeth Anscombe morreu em 2001.
(Fonte: http://www.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?k=RETRATOS-DE-FAMILIA-Elizabeth-Anscombe—Mario-T-Cabral.rtp&post=44118 – 2013-04-09)
(Fonte: http://books.google.com.br/books – Os Elementos da Filosofia Moral – James Rachels & Stuart Rachels – Pág:136/137)