Enrico Prampolini, um delicado aquarelista e preciso artista gráfico, importante pintor italiano.

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Prampolini: tranquilo na trajetória

Enrico Prampolini (Modena, 20 de abril de 1894 – Roma, 17 de junho de 1956), um delicado aquarelista e preciso artista gráfico, importante pintor italiano ligado ao movimento Futurista. Prampolini não teve muito a ver com o Brasil, país que nunca visitou.

Inquietação – Embora menos ilustre que outros nomes do Futurismo (como Umberto Boccioni (1882-1916), Carlo Carrà (1881-1966), Giacomo Balla (1871-1958) e Gino Severini (1883-1966), signatários em 1910 do primeiro manifesto do movimento), Prampolini aderiu a ele em 1912, com a idade de 18 anos. Frequentou desde então o atelier de Balla, na cidade de Turim, e expôs no mesmo ano dois trabalhos nitidamente inspirados nos ideais do Futurismo: “Figuras em Movimento” e “Automóvel em Corrida”. Os próprios títulos dos quadros, na verdade, ofereceram uma preciosa indicação dos objetivos dos futuristas: a apreensão do instante, do transitório e sobretudo a cristalização, na obra de arte, da vertiginosa inquietação que caracterizou a cultura europeia nos anos imediatamente anteriores à I Guerra Mundial. No caso dos italianos, tal apreensão da rapidez chega a se confundir com a apreensão do movimento. Mais importante, era a filosofia atualista e revolucionária que se escondia por trás dessa preocupação com o movimento.

Ideólogo do grupo, o poeta Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), mesmo antes de lançado o Futurismo, publicava certos conceitos bombásticos: “Destruamos os museus, esses cemitérios”, proclamava. “Uma obra de arte deve ser agressiva, é preciso ser original custe o que custar. A arte só pode ser violência, crueza, injustiça. Um automóvel de corrida é mais belo que a Vitória de Samotrácia” (importante escultura do período clássico grego). No caso de Marinetti, infelizmente, a noção de crueza e injustiça transcendeu o campo estético, tendo o poeta abraçado o fascismo.

Linguagens – Por temperamento, e opção, a trajetória de Prampolini se fez de forma bem menos contundente. Sua adesão ao Futurismo decorreu “da crença nele, e não puramente para seguir um modismo”. Por isso mesmo, depois da I Guerra Mundial, o artista procurou ainda aglutinar em torno de si certos remanescentes da estética que havia defendido. E justamente no momento em que a considerou esgotada, pelo menos para seu uso, não hesitou em evoluir na direção de outras linguagens. Já na década de 30 ousava produzir obras praticamente desvinculadas da referência à realidade, com títulos tão vagos como “As Formas-Forças do Espaço”. E na década de 50, poucos anos antes de morrer, era rigorosamente abstrato, chegando a obras em que predominavam elementos puramente racionais de construção.

Por outro lado, em paralelo com a atividade pictórica, Enrico Prampolini desenvolveu uma carreira de cenógrafo e figurinista de teatro, ópera e balé. Um sensibilíssimo visualizador de espaços e personagens, um delicado aquarelista e preciso artista gráfico – eis o Prampolini dos desenhos. Parece mesmo possível que sua contribuição nessa área tenha sido mais enriquecedora e decisiva. Ele ficou reconhecidamente famoso pela arte cênica, e não pela pintura.

Prampolini foi homenageado numa mostra no Centenário da Imigração Italiana no Brasil em 1975, no Museu de Arte de São Paulo, através de 10 telas e mais de 120 esboços para cenografia e figurinos – sua contribuição, sobretudo nesse segundo e sensível tipo de criação. Em qualquer hipótese, contudo, uma forma justa de se comemorar o Centenário da Imigração Italiana no Brasil o relembrar, por intermédio de um artista peninsular, o movimento em que mais se afirmou, nas artes plásticas do século 20, a vitalidade criadora desse povo.

O Futurismo é um movimento especificamente italiano, da mesma forma que o Cubismo é francês, o Expressionismo é alemão, o Suprematismo é russo e assim por diante. Naturalmente, logo depois de criados, tais grupos se internacionalizaram e exerceram mútuas influências.

(Fonte: Veja, 8 de outubro de 1975 – Edição n° 370 – Justa lembrança – LITERATURA/ Por Olívio Tavares de Araújo – Pág; 142)

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