Eugenio Montale (Gênova, 12 de outubro de 1896 – Milão, 12 de setembro de 1981), considerado o mais expressivo representante italiano da poesia hermética e, quinto italiano contemplado com a mais alta distinção literária do mundo, o Prêmio Nobel de Literatura de 1975. Os outros foram Giosuè Carducci (1835-1907), foi o primeiro italiano agraciado com o Nobel de Literatura, em 1905, Grazia Deledda (1875-1936) em 1926, Luigi Pirandello (1867-1936) em 1934 e Salvatore Quasimodo (1901-1968) em 1959.
Ao conceder-lhe a distinção, a Academia Sueca considerou-o um dos mais importantes poetas contemporâneos do ocidente, embora ele só haja publicado cinco livros em cinquenta anos. Aos 29 anos, estreou com “Ossos de Seppia”, no qual expressa sua aversão ao fascismo. Em 1938, perdeu o emprego no Gabinete Vieusseux, a biblioteca mais importante de Florença, por recusar-se a aderir ao Partido Fascista, e sobreviveu fazendo traduções. Seus livros mais elogiados são “As Ocasiões” (1939) e “Diário dos Anos 71 e 72” (1973).
O velho Eugenio Montale de 79 anos, sorria no dia 23 de outubro depois de decifrado o enigma anual do Prêmio Nobel de Literatura. Aos jornalistas que foram procurá-lo no seu apartamento da via Bigli, em Milão, nem de longe fazia justiça a sua fama de solitário, tímido, introspectivo e avesso à publicidade. “Eu mesmo me considero um jornalista, é assim que preencho as fichas de hotel. Tenho vergonha de escrever que sou poeta.”
Mas foram justamente seus poemas – não mais de 200, em meia dúzia de livros escritos nos últimos cinquenta anos, que lhe deram o prêmio, na maratona que em 1975 envolveu ainda os nomes de Simone de Beauvoir, Graham Greene, Jorge Luis Borges e Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
Otimismo e ironia – Aos colegas de profissão Montale não sonegou, em nenhum momento, exibições de estilo, graça e verve. De sua concorrente Simone de Beauvoir disse ser “uma mulher terrível” e interrogava-se por que razões Jean-Paul Sartre estava há tanto tempo com ela. A uma jornalista sueca expressou seu espanto pelo fato de na Suécia ser impossível sonegar impostos, concluindo que tal tipo de governo desagradaria aos italianos. Sobre seu próprio povo, manifestou opiniões otimistas e irônicas: “Nunca vi um país morrer só porque seu balanço está no passivo. Meu pai, no começo do século 20, já me dizia que vivíamos uma catástrofe. Nós, italianos, não somos bons para interpretar leis. Quando veio o divórcio, muitos acreditaram que ele fosse obrigatório. Agora, se liberarem o aborto, muitas mulheres se sentirão obrigadas a abortar”.
O poeta pareceu tão encantado e divertido com seu prêmio, que até admitiu a possibilidade de chegar a ser papa: “Se existe tanta vanguarda, tanta dissensão dentro da Igreja, por que um burguês não poderia vir a ser papa?” Sobre sua própria poesia fez um pronunciamento sereno e solene: “Ela não deve ser interpretada como uma mensagem, mas como um convite à esperança”.
O solitário aprendiz – Estas opiniões talvez não sejam as mesmas dos juízes que escolheram Eugenio Montale para o Nobel de Literatura de 1975. Sua poesia hermética e complexa vem sendo considerada “pessimista” e “maléfica” por muitos estudiosos, exprimindo o amargo desencanto de pós-guerra dos anos 20 e evocando a paisagem rochosa da Ligúria, o mar e o mundo como natureza selvagem. Quinto e último filho de um comerciante de produtos químicos, Montale nasceu em Gênova, em 12 de outubro de 1896, passou a infância em Monterosso, no norte do país, e padecia de uma broncopneumonia que o impediu de terminar os estudos secundários.
Aprendeu um pouco de latim e grego com sua única irmã e tentou ser barítono, desistindo por causa da doença e da eclosão da I Guerra Mundial. Autodidata, leitor incansável dos clássicos, Montale foi crítico de teatro e de música, traduziu para o italiano autores de língua inglesa e francesa (Herman Melville, T. S. Eliot, Scott Fitzgerald, William Faulkner, Corneille, John Steinbeck e William Shakespeare), e assinava uma coluna de assuntos culturais do Corriere della Sera, de Milão.
Depois de 1945, começou também a pintar. Em 1948 escreveu em duas horas o obituário de Mahatma Gandhi para o Corriere e assim, aos 52 anos ganhou o cargo de redator. Desde 1967, enfim, tornou-se senador vitalício, um posto que na Itália se atribui aos cinco cidadãos que tenham prestado serviços ao país.
Luz nas trevas – Na sua obra, que vai de “Ossi di Seppia” (1925) ao “Diario” (1971-1972), Montale cristalizou um estilo cheio de ansiedade, tensões e impaciência. Ele faz versos a mulheres mortas, fala da decadência dos seres humanos, de sonhos impossíveis. Anos depois, em 1956, no seu livro “La Buffera e Altro”, acendem-se algumas luzes nestas trevas e surge a esperança de que a vida talvez valha a pena ser vivida: (“Consumir-se era mais fácil, morrer / ao primeiro bater de asas, ao primeiro encontro / com o inimigo: um jogo. Começa agora / o caminho mais duro).
E o próprio Montale já a comprovara uma vez, num diálogo famoso com um crítico. “Caro Montale, de resto estamos todos mortos”, disse o crítico, referindo-se a um poema de Montale e ao mesmo tempo querendo encerrar a conversa. “Pode ser”, respondeu-lhe Montale. Mas cada um à sua maneira. Montale faleceu dia 12 de setembro de 1981, aos 84 anos, em Milão.
(Fonte: Veja, 29 de outubro de 1975 - Edição 373 - Saindo da sombra – LITERATURA Pág; 83)
(Fonte: Veja, 23 de setembro de 1981 - Edição 681 - DATAS - Pág; 88)