Fats Waller, o pianista preferido de Al Capone
Thomas Wright Waller (Nova Iorque,21 de maio de 1904 – Kansas City, 15 de dezembro de 1943), compositor e improvisador inventivo, mais conhecido como Fats Waller, ele influenciou várias gerações de importantes pianistas do jazz como Art Tatum, Teddy Wilson, Thelounious Monk e Dave Brubeck, além de Count Basie, que foi seu aluno, quando jovem. Monk deixou um registro fantástico de uma das peças marcantes de Fats Waller, Lulu’s Back in Town, no álbum It’s Monk Time (1964).
Thomas Waller nasceu no Harlem, em Nova York, em uma família religiosa. Seu pai era um pastor batista e sua mãe tocava piano e órgão na igreja. Ele aprendeu a tocar o piano aos seis anos de idade e, ainda criança, participava da orquestra escolar de seu bairro. A mãe de Waller morreu quando ele tinha 14 anos e o menino foi morar com a família do pianista Russel Brooks.
O pastor Waller queria que o filho se torna-se um pianista clássico. Por isso, Thomas chegou a ter aulas com o famoso maestro Leopold Godowsky. Porém, seu pai perdeu a luta quando o jovem conheceu o pianista popular James Johnson. Ele passou a estudar o piano jazz com Johnson e rapidamente se tornou uma figura conhecida nas casas noturnas do Harlem.
Waller era o acompanhante preferido das estrelas dos blues Bessie Smith e Alberta Hunter. Foi por essa época, o início dos anos de 1920, que o gordinho Thomas ganhou o apelido de Fats, claro que por seu sobrepeso. Fats Waller ficou conhecido como compositor por suas parcerias com o poeta Andy Razaf, ativista da causa negra. Eles escreveram várias peças musicais para a Broadway, com canções, que se tornaram clássicos do jazz.
Louis Armstrong foi um dos intérpretes mais importantes da obra de Fats Waller, desde os primeiros anos. A canção (What Did I Do To Be So) Black and Blue, até se tornou sua marca registra. Em 1955, Armstrong gravou um álbum somente com os temas de Fats Waller, Satch Plays Fats. No disco está a canção Honeysuckle Rose, um dos grandes êxitos de Waller, que Armstrong interpreta junto com a cantora Velma Middleton.
A lista de clássicos do jazz compostos por Fats Waller seria ainda maior se pudessem incluir as canções que ele vendeu para outros compositores. Sempre precisando de dinheiro, para manter seu estilo extravagante de vida, Waller, muitas vezes, vendia suas músicas por qualquer trocado. Depois, se odiava por isso.
Maurice Waller, filho de Fats, conta que, dois temas em especial, seu pai não suportava escutar, quando tocavam no rádio: I Can’t Give You Anything but Love, Baby e On the Sunny Side of the Street, aqui, na versão de Ella Fitzgerald com Count Basie.
As duas canções são atribuídas a Jimmy McHugh, prolífico compositor de peças musicais para a Broadway. Contudo, o biógrafo Barry Singer, em suas pesquisas, teria encontrado os originais dessas músicas entre os papéis de McHugh, escritas, porém, com a letra de Waller. Ele afirma que Jimmy McHugh teria pago e Fats Waller e a Andy Razaf a soma de US$ 500 por I can’t give anything...
Na noite do dia 27 de janeiro de 1926, o jovem pianista Thomas “Fats” Waller terminou sua apresentação no Shermann Hotel, em Chicago. A caminho do hall, quatro homens os cercaram. Um deles encostou o cano de uma arma em sua proeminente barriga. Ele foi levado para fora do prédio e colocado em uma grande limusine negra. A única coisa que ouviu foi a ordem para que o motorista seguisse em direção ao bairro de East Cicero. Nada mais disseram.
O músico pensou que sua vida terminaria ali, com apenas 21 anos. A surpresa foi enorme quando chegaram ao Hotel Hawthorne Inn, o quartel general de Al Capone. Lá, os homens o conduziram até o salão principal, onde havia uma grande festa. Mandaram que se sentasse ao piano e começasse a tocar. Ainda tenso, ele tentou fazer o que podia. Só relaxou depois que lhe trouxeram uma bebida e lhe disseram do que se tratava.
Aquela grande festa era a comemoração dos 27 anos de Al Capone. O mafioso era um fã de Fats Waller, já muito famoso na época. Por isso, quando os rapazes souberam que o músico estava na cidade, resolveram fazer essa surpresa ao Capo. Levar o próprio pianista como presente de aniversário para o chefe. A festa durou três dias e Fats Waller tocou, bebeu e comeu muito nesses dias. Saiu com os bolsos recheados de dinheiro vivo, gorjeta que somaria alguns milhares de dólares.
Uma de suas últimas apresentações, foi sua participação no filme Stormy Weather, dirigido por Andrew Stone, em 1943. No estilo humorístico, que lhe marcou a carreira, ele canta sua composição Ain’t Misbehavin‘.
Fats Waller morreu em dezembro de 1943, aos 38 anos de idade, no meio de uma longa viagem de trem, que o levaria de volta a casa. Ele havia se apresentado no Zanzibar Room, em Hollywood e não estava bem quando embarcou, com destino a Nova York. Waller havia contraído uma pneumonia e, quando os médicos o retiram em Kansas City, no meio do caminho, já não puderam fazer nada e ele morreu ali.
(Fonte: http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2017/05 – ARTIGOS – NOTÍCIAS – MÚSICA / Por Flávio de Mattos – 26/05/2017)