Ferdinand Marcos (Tarlac, Filipinas, 27 de novembro de 1932 – Havaí, 28 de setembro de 1989), ex-ditador das Filipinas, considerado um líder patriótico. Ao longo dos vinte anos de poder absoluto, o ditador Ferdinand Marcos gravou a sangue seu nome na História das Filipinas. De herói nacional a ditador corrupto. Ferdinand Marcos foi eleito presidente pela primeira vez em 1965 – coroando, aos 48 anos de idade, uma carreira meteórica. Condecorado com 27 medalhas por heroísmo na resistência à ocupação japonesa durante a II Guerra Mundial, foi reeleito em 1969.
Três anos mais tarde, acuado por uma onda de protestos, decretou a lei marcial e se fez ditador. Seu discurso anticomunista lhe valeu, por duas décadas, o apoio incondicional dos Estados Unidos, interessados em manter um aliado seguro nas Filipinas, onde estão as duas maiores bases militares americanas em território estrangeiro. Marcos era o amigo estratégico. A aliança começou a se romper em 1983, quando um militar assassinado no Aeroporto de Manila o líder oposicionista Benigno Aquino (1932-1983), que retornava do exílio nos Estados Unidos.
O atentado a Benigno, marido da atual presidente, acendeu o fogo da rebelião. Em 1986, Corazón Aquino enfrentou Marcos nas eleições presidenciais. Acusado de fabricar uma vitória fraudulenta, ele não conseguiu reassumir o poder e, forçado pela fúria popular, abandonou o país a 25 de fevereiro, rumo ao Havaí. Deixava para trás um rombo nos cofres públicos avaliados em 30 bilhões de dólares. Exilado numa mansão em Honolulu, o ex-ditador assistiu ao desmoronamento de seu império.
Os antigos aliados americanos confiscaram suas medalhas de guerra e moveram um processo contra ele e sua mulher, Imelda, acusados de comprar três prédios em Nova York com dinheiro filipino e de burlar o imposto de renda nos Estados Unidos. A decadência de Marcos acabou simbolizada pelos 3 000 pares de sapatos de Imelda que os rebeldes encontraram na residência do casal em Manila, que se transformou num monumento à democracia.
Na quinta-feira dia 28 de setembro de 1989, Marcos morreu, aos 72 anos, vítima de infecção generalizada e falência do coração, rins e pulmão – encerrando quetro meses de agonia em um hospital do Havaí, para onde se exilou com a família depois da rebelião popular que o depôs em fevereiro de 1986. Morto, ele provou que continuará marcando o cotidiano das Filipinas ainda por um bom tempo. Assim que a notícia do falecimento se espalhou pelo país, a presidente Corazón Aquino informou que o corpo do ditador não poderia ser enterrado nas Filipinas, “em nome da tranquilidade do Estado e da ordem da sociedade”.
A agitação civil que Corazón previa caso fosse realizado o cortejo fúnebre de Marcos acabou explodindo justamente porque ele foi proibido. Milhares de seguidores do antigo presidente, descontentes com o veto, saíram às ruas de Manila para prestar suas últimas homenagens a um homem que tem seu nome associado a uma ditadura brutal, a uma espantosa pilhagem de dinheiro público, mas também é considerado um líder patriótico.
(Fonte: Veja, 4 de outubro, 1989 – Edição n° 1099 – DATAS – Pág; 110)