Fernando Botero, artista colombiano, o mais renomado pintor e escultor colombiano da história
Ele era associado a uma arte que tinha bom-humor e tons de surrealismo. Conhecido como ‘pintor dos gordinhos’, Botero foi ilustrador e criou enormes esculturas de bronze.
Fernando Botero durante a inauguração da exposição ‘La Corrida’, em 1997, na Espanha — (Foto: Zoe Selsky/AP)
Fernando Botero Angulo (Medellín, 19 de abril de 1932 – Mônaco, 15 de setembro de 2023), pintor, escultor e desenhista colombiano.
Conhecido popularmente como o pintor de “gordinhos”, Botero foi associado a uma arte lúdica que tinha bom-humor e tons de surrealismo.
As obras de Botero, que foram leiloadas por até US$ 2 milhões (quase R$ 10 milhões), correram o mundo: suas pinturas, destacadas por grandes figuras, chegaram aos mais importantes museus e suas esculturas em aço foram colocadas em ruas e praças das grandes capitais.
“Não pintei uma única gorda em minha vida. Expressei o volume, busquei dar protagonismo ao volume, torná-lo mais plástico, mais monumental, quase uma comida, por assim dizer, arte comestível. A arte deve ser sensual, digo nesse sentido”, comentou, ao ser perguntando sobre seu estilo.
Botero era autodidata e iniciou sua carreira como ilustrador do jornal “El Colombiano” no final da década de 1940. Enquanto trabalhava, passou a ser influenciado pelo trabalho do italiano Piero della Francesca (1415-1492). Foi a partir do estudo da obra dele que nasceu o estilo inconfundível de Botero, quando ele tinha 25 anos.
Considerado um dos maiores artistas vivos, ganhou fama e popularidade nas últimas décadas graças às pinturas e às enormes esculturas de bronze expostas pelo mundo, a partir dos anos 90.
“Minha pintura é sobre temas afetivos, porque a pintura foi fundada sobre temas afetivos”, explicou. “Vê-se que os pintores trabalharam a exaltação da vida, em meio a grandes tragédias. Por exemplo, o impressionismo: quem já viu um quadro impressionista deprimente? E isso entre guerras e tragédias, mas a pintura mantinha uma atitude positiva perante a vida.”
Arte religiosa e touradas, suas primeiras fontes
Botero nasceu em 19 de abril de 1932 em Medellín, segunda maior cidade da Colômbia. Seu pai, David, era um comerciante que morreu aos 40 anos. Sua mãe, Flora Angulo, morreu em 1972.
Diferentes biografias do artista relatam que, embora não tenha sido criado em uma família religiosa, seu primeiro contato com a arte foi através da religião, faceta fundamental na sociedade colombiana da época.
Em Medellín, na primeira metade do século 20, havia muito mais igrejas com vitrais e altares do que museus.
De fato, hoje o Museu de Antioquia, o mais importante da cidade, dedica grande parte de seu acervo ao mestre Botero, que foi um dos mais importantes promotores da instituição.
Depois de estudar alguns anos na escola comum, aos 12 anos, Botero ingressou numa escola de toureiros em Medellín, formação que marcou sua vida e sua obra.
Aos 16 anos, ele vendeu sua primeira obra em um mercado de Medellín, com estética influenciada pelo universo das touradas.
Segundo o artista, o adolescente Botero foi expulso do Ensino Médio por um artigo que escreveu sobre Picasso e por seus desenhos, que segundo os padres da escola eram pornográficos.
Suas ilustrações foram publicadas pelo jornal El Colombiano, o mais importante da cidade, e com seu salário financiou o término do Ensino Médio e as primeiras viagens que o levaram à Europa e aos Estados Unidos.
Crítica ao nacionalismo dos anos 50 na América Latina
Na década de 1950, Botero chegou à capital Bogotá e começou a conviver com os artistas de vanguarda da época, cuja obra era marcada pelo indigenismo e nacionalismo.
Fez duas exposições, um mural importante, ganhou um prêmio e assim obteve recursos para se mudar para Madrid, na Espanha, e depois para Paris, na França.
No final da década de 1950, Botero retornou à Colômbia e casou-se com Gloria Zea, renomada gestora e colecionadora cultural com quem foi morar no México.
A partir daí, Botero desenvolveu uma leitura crítica da arte nacionalista proposta pelos muralistas mexicanos, bem como da arte moderna que era ensinada na Europa.
E começou a consolidar aquela que seria a linha que o tornaria conhecido em todo o mundo, marcada por naturezas mortas e volumes ampliados com cores muito vivas.
Escultura de bronze ‘Mujer Reclinada’, de Fernando Botero, em exibição no jardim do Fairchild Tropical Botanic Garden, em 2008, em Miami — Foto: J. Pat Carter/AP
Em 2011, na exposição individual em São Paulo, chamada de “Dores da Colômbia”, recebeu 67 obras em que as figuras bonachonas não estão tão felizes ou serenas, como de costume.
Entre pinturas, desenhos e aquarelas, o artista mostrou críticas sobre a violência causada no país, movida pelo narcotráfico e desencadeada pelas disputas entre guerrilheiros, militares e políticos.
Fernando Botero faleceu na sexta-feira (15), aos 91 anos, em sua casa no principado de Mônaco. A esposa do pintor, a artista Sophia Vari, morreu há cinco meses. Ele deixa três filhos.
Personalidades como o presidente colombiano Gustavo Petro e o ex-presidente Juan Manuel Santos juntaram-se às mensagens de condolências vindas do mundo da arte internacional.
Gustavo Petro, presidente colombiano, fez uma homenagem ao pintor em seu perfil no Twitter. “Morreu Fernando Botero, o pintor de nossas tradições e defeitos, o pintor de nossas virtudes. O pintor de nossa violência e da paz”, diz a publicação.
(Direito autoral: https://www.bbc.com/portuguese/articles – BBC NEWS – 15 setembro 2023)
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