Artista luso-brasileiro
Radicado no Brasil desde os anos 1950, ele pertenceu à terceira geração de modernistas portugueses
Fernando Lemos (
Quando começou sua carreira, nos anos 1950, em plena era salazarista, Lemos foi “à procura dos malditos”, autores cerceados pela censura do ditador. Grandes nomes da literatura portuguesa desfilaram diante de sua câmera, entre eles Sophia Breyner Andersen, além de pintores como Vieira da Silva e seu marido Arpad Szenes. Parte dessa sua produção foi vista nos anos 1990 numa retrospectiva organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa.
Lemos havia se mudado para o Brasil em 1953, aos 27 anos, fugindo da ditadura de Salazar em Portugal.
Àquela altura, era conhecido pelas fotografias surrealistas, que iam de imagens cotidianas, transformadas por efeitos de luz, a retratos de intelectuais e artistas ligados ao movimento, como os poetas Sophia de Mello Breyner Andresen e Mário Cesariny, ou o artista Carlos Ribeiro. Lemos começou sua carreira de fotógrafo produzindo retratos e imagens surrealistas.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 2009, Lemos explicou que aquilo era uma forma de escapar à repressão do regime salazarista. “O surrealismo me atrai por seu sentido de liberdade plena. E, quando você nasce dentro de uma ditadura, você começa a ver na liberdade uma coisa mais que divina”, afirmou na ocasião.
Para Rosely Nakagawa, que organizou uma retrospectiva do artista no Sesc Bom Retiro, essa busca vai além da libertação. “Podemos dizer que ele viveu em busca da subversão das regras. Esse foi seu motor.”
A mudança para o Brasil representou uma guinada na carreira do português. No Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo, ele voltou sua produção para o desenho, a gravura e a pintura, criando composições abstratas, muitas delas evocando signos gráficos.
Segundo Rubens Fernandes Júnior, diretor da Faap (Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Alvares Penteado), essa inflexão aconteceu porque o Foto Cine Clube Bandeirantes, que reunia fotógrafos modernos na capital paulista, era muito fechado.
“Ele já chega aqui moderno, surrealista até, num momento em que a fotografia brasileira está despontando para a modernidade”, afirma.
A obra fotográfica de Lemos só foi redescoberta a partir dos anos 1990, quando uma fundação portuguesa organizou uma grande exposição com suas imagens. Em 2011, a Pinacoteca montou uma retrospectiva sobre o trabalho do artista.
O ano de 2019 também marcou um novo ciclo de reconhecimento de seu trabalho. Além de protagonizar duas mostras em São Paulo, no Sesc Bom Retiro e no MAM, ambas em cartaz, o artista ainda apresentou trabalhos em duas galerias lisboetas, além de realizar uma retrospectiva no Museu de Design de Lisboa. Teve ainda mais de 2.000 obras incorporadas à coleção do Instituto Moreira Salles.
Thyago Nogueira, curador de fotografia contemporânea do centro cultural, conta que o acervo interessa justamente pela multidisciplinaridade. “Essa é uma oportunidade de olhar para a fotografia em conexão com as outras artes.”
Para Nogueira, esse surrealismo ainda se refletiu no restante de sua obra. “O trabalho dele carrega conceitos do inconsciente, da revelação, que são heranças de Portugal e explodiram em outros suportes.”
Fernando Lemos faleceu em 17 de dezembro de 2019 no Hospital São Luiz, em São Paulo, aos 93 anos, devido a complicações decorrentes de uma infecção renal.
(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes – NOTÍCIAS / ARTES / CULTURA / Por Antonio Gonçalves Filho , O Estado de S. Paulo – 17 de dezembro de 2019)
(Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2019/12 – CULTURA E LAZER / NOTÍCIA / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – 17/12/2019)
(Fonte: Zero Hora – ANO 56 – N° 19.590 – 24 E 25 de DEZEMBRO de 2019 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 29)