Ele era tido como um dos mais destacados integrantes do chamado grupo dos “autênticos” do MDB
Fernando Lyra (Recife, 8 de outubro de 1938 – São Paulo, 14 de fevereiro de 2013), ex-deputado federal e ex-ministro de Justiça do Brasil, ajudou a articular a redemocratização do Brasil.
Um dos mais destacados integrantes do chamado grupo dos “autênticos” do MDB, que combatiam dentro e fora do parlamento a ditadura militar, Lyra exerceu sete mandatos de deputado federal (1970-1998) e um de deputado estadual (1966-1970). Exímio orador, mas também um grande articulador político, o pernambucano teve como ponto alto de sua carreira a articulação para construção da candidatura de Tancredo Neves à presidência da República.
Após a derrota da emenda Dante de Oliveira em 1983, o deputado se afastou do grupo dos “autênticos” e mergulhou na campanha para tentar eleger Tancredo no Colégio Eleitoral. Com Tancredo eleito, acabou escolhido para ocupar o Ministério da Justiça e acabou mantido no cargo por José Sarney. Lyra, ironicamente, foi o responsável por uma das definições mais ácidas do presidente do Senado, quando em um encontro com artistas no Teatro Casagrande, em uma tentativa de defender o ex-presidente, cravou: “Sarney é a vanguarda do atraso”.
Lyra deixou o cargo em 1986 e, no ano seguinte, foi derrotado na disputa pela presidência da Câmara por Ulysses Guimarães. A partir daí, uma sucessão de desilusões – como a derrota eleitoral em 1990, quando só conseguiu voltar à Câmara como suplente, e outra na disputa para uma vaga do Tribunal de Contas da União – o levaram a abandonar definitivamente a política eleitoral em 1998. Mas mesmo sem mandato, nunca largou a política. Nos últimos anos, tornou-se um entusiasmado conselheiro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que tem como vice o irmão do ex-ministro, João Lyra Neto.
A atuação política incansável envolvia até mesmo temas do parlamento, como a Reforma Política. Quando o Congresso tentava avançar com uma Reforma Política em 2007, Lyra sugeriu a instituição do chamado “voto distritão”, pelo qual a eleição parlamentar em cada estado se daria pela disputa majoritária entre os candidatos. Nas últimos meses, assumiu o posto de colunista na revista Carta Capital. Foi a ela, em novembro de 2012, que deu uma das últimas entrevistas, em tom desiludido com o Congresso:
“O Parlamento viveu no período (da ditadura) momentos deploráveis e momentos gloriosos. Hoje, com a democracia instalada, os momentos gloriosos tornam-se raros”.
O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que conviveu com Lyra nos últimos 40 anos, lembra que a capacidade de diálogo do ex-ministro. Segundo ele, mesmo estando em lados distintos da política pernambucana desde a década de 1990 – Lyra apoiou Miguel Arraes e Eduardo Campos em eleições contra Jarbas -, nunca deixaram de dialogar.
– Estávamos separados mas nunca deixamos de falar. Enquanto estive no governo, ele foi várias vezes almoçar comigo no palácio. Ele é um, animal político, não consegue ficar fora. Quando estava na Fundação Joaquim Nabuco (a partir de 2003) aquilo era um gancho para estar dentro. Era um observador atento das coisas do estado e do país. Era um bom analista, gostava de reunir com quatro ou cinco pessoas para discutir. Conheci Fernando Lyra a partir de 1970 e em 43 anos nunca conversei com Fernando outra coisa que não fosse política – pontua.
Nos últimos anos, Lyra foi internado várias vezes em função de seus problemas cardíacos, que começaram em 1978. A última internação começou no dia 29 de dezembro, quando o ex-ministro foi levado ao Real Hospital Português, de Recife, com um quadro de infecção e problemas cardíacos. No dia 5 de janeiro, foi transferido em uma UTI aérea para o Instituto do Coração de São Paulo, onde apresentou melhora e chegou a ser transferido para a unidade semi-intensiva, após ter uma infecção urinária debelada. Lyra, no entanto, acabou levado novamente para a UTI em função de uma elevada retenção de líquido no corpo.
Dilma divulga nota de pesar
A presidente Dilma Rousseff divulgou, na noite desta quinta-feira, nota de pesar pela morte de Fernando Lyra. Diz o texto que a democracia brasileira perdeu hoje um de seus mais expressivos defensores, Fernando Lyra. Primeiro ministro da Justiça da redemocratização, responsável pelo fim da censura oficial, passo fundamental na reconquista da liberdade de expressão no País. Exímio articulador político, Fernando Lyra foi um dos expoentes da formação da Aliança Democrática. Teve atuação relevante na Assembleia Nacional Constituinte e representou com brilho os eleitores de Pernambuco na Câmara dos Deputados por 28 anos. Em nome de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, apresento meus votos de pesar a sua mulher, Márcia, suas três filhas, familiares e amigos, neste momento de dor.
Eduardo Campos lamenta morte
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, divulgou uma nota lamentando a morte do ex-deputado. Pernambuco e o Brasil perderam hoje um grande nome da história deste Estado e deste País. A trajetória política de Fernando Lyra engrandeceu o Brasil. Ele foi um dos líderes da luta contra a ditadura militar, como deputado federal integrante do grupo autentico do MDB e como um dos coordenadores de campanhas como a das Diretas Já. Como ministro da Justiça, escolhido por Tancredo Neves, esse grande pernambucano serviu ao povo brasileiro com visão de futuro e largueza de espírito. O Governo de Pernambuco se solidariza com a família Lyra nesse momento de perda. Quero também, em meu nome pessoal e no da minha família, reafirmar a convicção de que Fernando estará sempre presente na memória e no sentimento de todos nós. Que o seu exemplo seja o principal legado para o nosso povo e as futuras gerações, disse o governador.
Depois de aproximadamente 20 anos de luta contra uma grave cardiopatia, morreu na tarde da quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013, aos 74 anos, no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, de falência de múltiplos órgãos.
(Fonte: http://oglobo.globo.com – BRASÍLIA, SÃO PAULO e RECIFE – 14/02/13)