A primeira geóloga a mapear o fundo do oceano
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(Direitos autorais: Copyright © The Granger Collection, New York / The Granger Collection)
(Imagem: Lamont-Doherty Earth Observatory)
Marie Tharp (Ypsilanti, 30 de julho de 1920 — Nyack, 23 de agosto de 2006), cartógrafa oceanográfica, ou seja, fazendo mapas do relevo do fundo do oceano, a superfície da Terra escondida de nossos olhos pela água do mar, ela era secretária de um pesquisador na década de 50 e chegou a uma grande descoberta científica na área de geologia por distribuir, ao longo de um mapa-múndi, dados obtidos pelo grupo de pesquisa dele. Ela primeiro estudou inglês e música na faculdade, seguido por um mestrado em Geologia e outro em Matemática.
Ela começou a trabalhar como geóloga em uma empresa de petróleo, mas depois se mudou para Nova York, onde ingressou na Columbia University. Lá conheceu o geólogo marinho Bruce Heezen, com quem colaborou em diversos projetos, primeiro na localização de navios afundados durante a Segunda Guerra Mundial e depois no que seria sua maior contribuição para a ciência: a confecção de mapas do relevo do fundo do mar. Assim, ela se tornou uma cartógrafa oceanográfica e, junto com Bruce, fez o primeiro mapa completo de todos os fundos oceânicos.
Naquela época, nos Estados Unidos, as mulheres não podiam trabalhar a bordo de um navio de pesquisa, então Bruce ficava encarregado de obter os dados no mar e Marie usava essas informações para desenhar os mapas à mão.
Foi só em 1965 que Marie Tharp pôde embarcar pela primeira vez aos 45 anos.
Em 1957 publicaram seu primeiro mapa do Atlântico Norte demonstrando a existência da dorsal meso-oceânica, uma enorme cordilheira subaquática que atravessa o oceano em seu centro de norte a sul, descoberta fundamental para o desenvolvimento das mais importantes teorias geológicas do século 20: as placas tectônicas e a deriva continental.
Mais tarde, em 1977, Marie e Bruce, com a ajuda do pintor austríaco Heinrich Berann, publicaram seu mapa de todo o fundo do oceano. Esses mapas mais do que confirmaram o que seu mapa já apontava 20 anos antes, algo que era uma evidência clara em apoio à teoria mencionada.
A mulher que mapeou o fundo do oceano
Marie Tharp nasceu em 30 de julho de 1920, na cidade de Ypsilanti, em Michigan – EUA. Devido à profissão de seu pai, agrimensor para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a família viajava muito e Marie frequentou diversas escolas ao longo da infância e adolescência. Já nessa época, ela demonstrava interesse por cartografia, mas também gostava muito de leitura e literatura, tendo posteriormente cursado Língua Inglesa e Música na Universidade de Ohio, onde se formou em 1943.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial e a ida para o combate dos homens que representavam (entre muitos outros) a mão de obra especializada, os EUA começaram a desenvolver programas de incentivo às mulheres para frequentarem cursos então considerados “masculinos”, como ciência e tecnologia. Marie obteve o Mestrado em Geologia do Petróleo na Universidade de Michigan e trabalhou por um curto período de tempo na petrolífera Stanolind, em Tulsa, Oklahoma. No entanto, achou o trabalho muito entediante e retomou os estudos, obtendo sua segunda graduação, mas dessa vez em Matemática, na Universidade de Tulsa.
Ainda em busca por um trabalho que a estimulasse, Marie mudou-se para Manhattan em 1948. Foi então contratada como assistente no Lamont Geologial Laboratory – hoje Lamont-Doherty Earth Observatory – na Universidade de Columbia, por Maurice “Doc” Ewing. Marie era encarregada de fazer redações e cálculos para os alunos do laboratório, todos homens.
Entre os alunos estava Bruce Heezen, cuja especialidade era trabalhar com dados sísmicos e topográficos do fundo do mar. Com os investimentos maciços durante a Guerra Fria para estudos que explorassem o fundo do oceano (um local para se instaurar, talvez, batalhas entre submarinos) Bruce e Tharp estabeleceram uma parceria que se estenderia para o resto de suas vidas.
O trabalho a ser realizado pela dupla consistia em uma tentativa de mapeamento do fundo oceânico. Por ser mulher, não era permitido que Marie fosse a campo fazer coleta de dados. Assim, Heezen partia por expedições em navios e mandava as informações de sondagens obtidas para Tharp, que as reunia, organizava e interpretava. Plotando os dados sobre o mapa, Marie surpreendeu-se ao perceber, ao longo de todo o Atlântico Norte, a ocorrência de cadeias de montanhas submarinas cortadas longitudinalmente por um sulco, semelhante ao Vale do Rifte existente na África. Era a descoberta da Dorsal Meso-Atlântica.
A explicação para a existência de tal formação geológica envolvia o conceito de que os continentes se movimentariam sobre a superfície da Terra, uma idéia considerada à época uma “heresia científica”. Com o surgimento de mais dados científicos, a descoberta de Tharp e Heezen foi sendo cada vez mais aceita e foi um dos suportes para que mais tarde fosse desenvolvida a teoria da Tectônica de Placas.
Tharp e Heezen concluíram o mapeamento do Atlântico Norte em 1959, do Atlântico Sul em 1961 e do Oceano Índico em 1964. Eles estabeleceram uma parceria com o pintor Austríaco Heinrich Berann em 1966, que reuniu o resultado de tantos anos de trabalho em um mapa de todo o assoalho oceânico. O mapa, ainda utilizado atualmente, foi publicado pelo Escritório de Pesquisa Naval dos EUA em 1977. Este também foi o ano de falecimento de Bruce Heezen, em decorrência de um ataque cardíaco durante uma expedição científica.
Após a morte de Heezen, Marie dedicou-se a arquivar e catalogar o trabalho que fizeram juntos, buscando fazer conexões para alcançar uma visão mais abrangente dos oceanos. Ela faleceu em 23 de agosto de 2006 aos 86 anos, em Nyack, Nova York – EUA. O reconhecimento por sua atuação científica veio apenas nas décadas mais recentes, tendo recebido em 2001 o prêmio Lamont-Doherty pelas grandes contribuições de seu trabalho à ciência.
Para finalizar, retomo parte da fala com que iniciei este texto. Infelizmente é comum encontrarmos elementos como o esquecimento e desvalorização na vida de mulheres cientistas ao longo da história, mas não podemos nos esquecer, nunca, do pioneirismo e inspiração que elas representam. Pouco a pouco vamos reforçando os traços sobre personalidades que o tempo tentou apagar.
Marie Tharp apostou que seus mapas falariam por si só, já que os cientistas da época duvidavam de sua palavra
Durante mais da metade do século 20, a maioria das mulheres foi excluída das carreiras científicas. As que chegavam a ter um diploma, mantinham-se em posições consideradas inferiores, como assistentes de pesquisa. Para outras, o espaço era inatingível. De acordo com o livro “Women of Science”, as mulheres representavam cerca de 4% dos cientistas no mundo entre os anos de 1920 e 1970.
Marie Tharp foi a primeira geóloga e cartógrafa oceanográfica a mapear o fundo do oceano em 1948 e, posteriormente, a criar a teoria das Placas Tectônicas com o oceanógrafo Bruce Heezen. O trabalho foi um dos primeiros a provar que a teoria da Deriva Continental, formulada em 1912 pelo meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener, estava correta.
Lothar havia sido ridicularizado pela comunidade científica quando sugeriu que todos os continentes, há milhares de anos, teriam formado uma grande massa de terra, à qual ele deu o nome de Pangeia (Terra única, em grego).
Em seus estudos, Marie Tharp e Bruce Heezen mostraram que a separação dos continentes aconteceu graças ao movimento das placas tectônicas e que o meteorologista alemão estava correto.
Como Marie Tharp fez sua descoberta
Tharp nasceu em 1920 em Michigan, nos EUA. Durante a infância acompanhou as viagens de seu pai, um topógrafo que trabalhava para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, coletando amostras de solo para seu trabalho. A convivência despertou o interesse por geologia e, mais adiante, por cartografia.
No período da Segunda Guerra Mundial, com a maioria dos homens deixando seus postos para ir lutar na guerra, mulheres tiveram a chance de ocupar esses espaços. Foi assim que Marie Tharp entrou no programa de mestrado em geologia na Universidade de Michigan.
Em 1948, ela se tornou assistente de pesquisa na Universidade de Columbia e ali conheceu o oceanógrafo Bruce Heezen, com quem teve uma parceria que duraria toda sua vida.
Enquanto trabalhavam juntos, Tharp ficava no laboratório da universidade catalogando as amostras que Heezen coletava. Na época, mulheres eram proibidas de realizar trabalho de campo, porque acreditava-se que elas poderiam trazer má sorte.
Durante os 5 anos da expedição que Heezen ficou em campo, Tharp fez cálculos e transformou os dados que recebeu em desenhos, demarcando as fissuras e cicatrizes presentes no fundo do oceano.
Diferentemente das teorias anteriores de que o fundo do oceano era uma superfície lisa e intacta, ela descobriu que sua geologia era na verdade bastante complexa. Com vales, montanhas e cicatrizes em toda sua superfície.
A descoberta parecia comprovar a teoria de que a terra era mesmo formada por um único continente. A confirmação, no entanto, suscitou a suspeita de seu colega de trabalho. A teoria da Pangeia era vista com desconfiança pela comunidade científica à época. O próprio Heezen chamou o achado de Tharp de “papo de garota”.
“Quando eu mostrei o que achei para Bruce, ele gemeu e disse ‘Não pode ser isso. Parece muito com a teoria da Deriva Continental’. E bem, naquele tempo, acreditar nessa teoria era considerado uma heresia científica. Quase todo mundo nos Estados Unidos pensava que essa teoria era impossível. E Bruce inicialmente recusou minha interpretação e disse que era ‘papo de garota.’”
Marie Tharp em seu livro “Ligue os pontos: Mapeando o fundo do mar e descobrindo o meio do oceano” (Connect the Dots: Mapping the Seafloor and Discovering the Mid-ocean Ridge, em inglês)
A confirmação da teoria
Depois de apresentar os resultados de seus estudos, em 1957, a comunidade científica duvidou dos achados de Tharp e Bruce. O alvoroço foi tamanho que um famoso oceanógrafo, Jacques Cousteau, fez outra expedição ao fundo do mar para provar que a dupla estava errada.
Ele usou seu submarino para buscar provas, porém, o que encontrou apenas serviu para reforçar a teoria das Placas Tectônicas. Tharp e Bruce estavam certos.
“Eu estava tão ocupada fazendo os mapas que apenas deixava eles [os cientistas]brigando”, escreveu ela posteriormente. Tharp acreditava que seus mapas falariam por si só, já que os cientistas duvidavam de sua palavra.
Durante os anos 60 a teoria das Placas Tectônicas passou a ser aceita, porém, só depois de ser formulada por outros cientistas.
Tharp morreu em 2006. Antes disso, teve a oportunidade de ver seu trabalho tardiamente reconhecido. Ela recebeu no ano de 1997 uma honraria da Biblioteca de pesquisa do Congresso dos Estados Unidos. Além de ter sido nomeada uma entre os quatro maiores cartógrafos do século 20.
A Universidade de Columbia, onde Tharp realizou seu trabalho, concede uma bolsa de estudos para outras mulheres cientistas que leva o seu nome, “The Marie Tharp Fellowship”.
E em 2009, três anos após a morte de Tharp, o Google Earth incorporou o mapa de Tharp e Bruce em sua ferramenta para as pessoas vasculharem o fundo do oceano.
(Créditos autorais: http://cienciaviva.org.br/index.php/2021/03/26 – CIÊNCIA VIVA – Oceânicas pioneiras: Marie Tharp – 26 de mar. de 2021)
(Créditos autorais: https://www.justicadesaia.com.br – Justiça de Saia – FEVEREIRO 21, 2017)
Todos os direitos reservados | © 2022 Justiça de Saia – Feito por Eduardo Castilho
Saiu no site NEXO:
(Créditos autorais: https://www.blogs.unicamp.br/cienciapelosolhosdelas/2016/08/12 – CIÊNCIA PELOS A mulher que mapeou o fundo do oceano/ Publicado por Giovana Maria Breda Veronezi em 12 de agosto de 2016)
Giovana Maria Breda Veronezi
Graduada em Ciências Biológicas pela Unicamp em 2014 e Mestra em Biologia Celular e Estrutural pela mesma universidade. Com o sonho de criança em ser Bióloga realizado, almeja na vida adulta ver a ciência (e o mundo) cada vez mais pelos olhos delas.
Glossário: https://www.blogs.unicamp.br/cienciapelosolhosdelas/2016/08/12 –
Agrimensor: Profissional que realiza a medição, mapeamento e classificação do solo. Também é responsável pela definição do limite de propriedades tanto rurais quanto urbanas
Sondagens: Gravações das reflexões dos pulsos de som (ou “pings”) gerados por sonar que possibilitavam a medição das profundidades do oceano
Vale do Rifte: Conjunto de falhas geológicas no leste da África decorrente do afastamento das placas tectônicas africana e arábica
Dorsal Meso-Atlântica: Cordilheira submersa que se estende do Oceano Atlântico ao Oceano Ártico. Localiza-se no limite das placas Norte-Americana e Euroasiática, ao norte, e das placas Sul-Americana e Africana ao Sul. Assim como no Vale do Rift, sua formação é devido ao afastamento entre as placas tectônicas. Ocorre a subida de magma pela região central, denominada rifte, e este vai sendo depositado nas laterais, resultando nas cadeias de montanhas
Tectônica de placas: Teoria desenvolvida na década de 60 e revolucionária no campo da Geologia. Baseada no princípio de que a superfície do planeta é fragmentada em placas tectônicas distintas umas das outras, que podem movimentar-se em diferentes direções, se afastando, aproximando ou deslizando entre si. Destas interações resultam os terremotos, vulcões e diversos outros fenômenos e processos geológicos
P.S.: A biografia de Tharp foi lançada em 2012 nos Estados Unidos por Hali Felt. Infelizmente, não consegui encontrar publicação do livro no Brasil, mas a quem interessar: “Soundings: The Story of the Remarkable Woman Who Mapped the Ocean Floor”.