Foi a primeira levantadora de peso a defender o Brasil numa Olimpíada

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Pioneira do levantamento de peso

Foi a primeira levantadora de peso a defender o Brasil numa Olimpíada

Ex-lavadeira, Maria Elisabete Jorge foi a primeira levantadora de peso a defender o Brasil numa Olimpíada, em Sydney-2000 imagem: Reprodução

Ex-lavadeira, Maria Elisabete Jorge foi a primeira levantadora de peso a defender o Brasil numa Olimpíada, em Sydney-2000
imagem: Reprodução

 

Durante a conversa por telefone, a brasileira mais velha a já ter participado de uma Olimpíada, interrompeu a entrevista algumas vezes para se desculpar por estar tossindo. Do outro lado da linha, ela está cercada por mulheres e homens grandalhões. As barras que eles carregam, algumas mais pesadas que pequenas motos, despencam de seus ombros e machucam o chão, quebrado depois de anos sem reparos.

 

Maria Elizabete Jorge tem 59 anos. Em Sydney-2000, aos 43, foi a primeira mulher do levantamento de peso a defender o Brasil numa Olimpíada. Hoje treina futuros levantadores numa quadra improvisada em Viçosa, interior de Minas Gerais.

Perto dali, um monte de mato e madeira velha virou criadouro de escorpiões e, às vezes, quando está calor, eles saem do ninho para caminhar perto dos atletas. Bete então precisa desviar de suas picadas. Nunca ninguém foi atacado. “Graças a Deus!”, ela suspira.

O local de treinamento dos futuros levantadores de peso do Brasil também tem uma sauna, que não funciona. E uma piscina, que foi esvaziada para evitar a dengue.

A melhor barra usada por eles tem mais de 40 anos. A bicicleta que Bete pedala para ir ao treino tem 19 – é mais velha que a maioria dos atletas. (“Comprei em 1997 por 75 dólares nos Estados Unidos”, ela lembra).

Mas quando os atletas precisam viajar para competições, não há dinheiro para a passagem.

Bete é uma mulher negra, de origem pobre, solteira e sem filhos, que já trabalhou de lavadeira e entregadora de pizza antes de ser atleta olímpica. Para levar seus atletas a competições, ela teve uma ideia.

A ideia de Bete dos pesos

 

Arquivo pessoal
imagem: Arquivo pessoal

 

Recolher latinhas de cerveja e refrigerante em festas universitárias e vender para empresas de reciclagem.

Em um dia de 2011, Bete chegou a juntar 115 kg, sozinha. “Os meninos tinham vergonha”, ela recorda. Recebia R$ 2,50 por kg de lata, precisava de 65 latas para formar o quilo.

O dinheiro foi pouco para bancar os custos da viagem. Ela já tentou vender garrafa pet e agora pensa em juntar ferro-velho para manter o sonho de transformar meninos e meninas pobres em atletas.

Bete recebe um salário da confederação brasileira de levantamento de peso, mas só. O sonho dos garotos treinados por ela é conseguir uma bolsa “para mudar a vida da família”.

Uns alcançam objetivo, outros se perdem pelo caminho

Alguns conseguem mais que isso. Wellison Silva e Mateus Machado, revelados por Bete em Viçosa, estarão nos Jogos do Rio representando o país. Eles são azarões na luta por medalhas, mas quem se importa?

Até porque outros ficaram pelo caminho. “Já tive 15 alunos assassinados por questão de droga”, afirma Bete do Peso quando indagada por que ela continua fazendo tudo o que faz, apesar de todos obstáculos.

 

“Viçosa é uma cidade de 80 mil habitantes que não tem nada, não tem shopping, não tem boate, não tem cinema, não tem nada para fazer. Aí o menino quer comprar um boné e aceita um dinheirinho pra levar uma droga aqui outra ali, e aí já era. Aqui eu tô tentando tirar eles desse ambiente”.

Ela tem tentado receber apoio do poder público para manter suas atividades, mas por enquanto só conseguiu mesmo que a prefeitura lhe cedesse o espaço improvisado. “Às vezes eu percebo que por ser mulher e negra, as coisas são mais difíceis, porque quem cuida do dinheiro e da política são os homens”, me disse ela.

“Mas eu não desisto, acredito que um dia as coisas vão melhorar”.

(Fonte: http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2016/07/31 – Olimpíadas 2016 / Por Adriano Wilkson Do UOL, em São Paulo – 31.07.2016)

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