Foi o primeiro europeu a pintar a paisagem dos trópicos
Frans Jansz Post (1608-1669), autor das quase duas centenas de pinturas
Durante o tempo em que permaneceu no Brasil a serviço de Nassau, entre 1637 e 1644, Post pintou apenas dezoito telas a partir da observação direta da paisagem do Novo Mundo. Todo o restante de sua produção sobre a flora, a fauna e os habitantes brasileiros compõe-se dos chamados capricci, ou paisagens imaginárias feitas pelo pintor na Holanda a partir do que ele havia visto na América. Não se tratava apenas de um detalhe geográfico. As pinturas de Post feitas no Brasil revelam um frescor e um senso de liberdade singulares.
Na vista paraibana, tais qualidades do paisagista se evidenciam na luminosidade difusa do céu e no detalhismo quase agreste das árvores e bichos pintados em primeiro plano.
No pacote doado por Maurício de Nassau a Luís XIV estavam todas as dezoito pinturas “brasileiras” de Post, além de mais nove ou dez produzidas por ele na Holanda e recompradas de colecionadores particulares por Nassau Desses dezoito quadros, onze permanecem desaparecidos.
Em 1996, ofuscado por uma moldura rococó, um pedaço da História do Brasil foi encontrado em meio à poeira num castelo da Baviera, no sul da Alemanha, havia pelo menos 150 anos. O quadro é a paisagem “A Cidade e o Castelo de Fredrik na Parayba, de 1638, por encomenda de Nassau durante a invasão holandesa à costa nordestina, no século XVII.
A obra, foi leiloada em janeiro de 1997 em Nova York, foi oferecida por um preço de 800 000 dólares. No verso do quadro, um detalhe eleva ainda mais seu pedido. É o número 443, a marca pessoal que o rei francês Luís XIV mandava imprimir em seu acervo artístico. O quadro foi doado ao rei por Nassau, junto com outras 41 telas, em 1679. Essa paisagem paraibana, pertencente na época a uma família de nobres alemães, integrou o quinhão mais valioso das quase centenas de pinturas feitas por Post.
Ele é um caso único na história da arte. Foi o primeiro europeu a pintar a paisagem dos trópicos. De certa maneira, a aventura que Post viveu no século XVII o Brasil, com suas selvas e índios era um lugar tão desconhecido quanto mítico para a Europa. Filho de um artesão, nascido na cidade de Haarlem, Frans era um jovem de 29 anos quando aceitou o convite de Nassau. Depois de seu retorno à Europa, mesmo diante da expulsão dos holandeses do Brasil, tornou-se um artista requisitado, produzindo de encomenda registros de memória do Novo Mundo para seus colegas de expedição e burgueses endinheirados.
Mas a partir do final da década de 1650 a obra de Post tornou-se mecânica, tediosa, com céus muito azulados e composições edulcoradas da geografia brasileira. Pouco antes de Nassau resolver presentear Luís XIV, o primeiro nome escalado para viajar a Paris foi o de Prost, que poderia explicar suas pinturas ao rei. Àquela altura, contudo, Post tornara-se alcoólatra, irritadiço e cambaleante, não podendo viajar. Sabe-se que, mesmo sem as devidas explicações, Luís XIV adorou o presente, ordenando que as telas ficassem expostas no Louvre, então sua residência parisiense.
(Fonte: Veja, 16 de outubro de 1996 – ANO 29 – Nº 42 – Edição 1464 – Arte / Por Angela Pimenta – Pág: 140/141)