Foi responsável pela primeira matéria gravada em videoteipe para o JN: gerada em Porto Alegre
Colocou no ar o primeiro telejornal em rede
Alfredo Marsillac nasceu em 16 de julho de 1935, no Rio de Janeiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, mudou-se com a família para Sergipe e só retornou ao Rio após a morte de seu pai. Cursou Comunicação Social na Faculdade Hélio Alonso, onde também foi professor.
Nos anos 1960, Marsillac compunha e gravava músicas profissionalmente. E foi através das apresentações do seu conjunto musical Fred Max (Fred de Alfredo e Max de Marsillac) que teve o primeiro contato com o rádio e a televisão. No início, era apenas para divulgar o seu grupo, mas, aos poucos, ele se viu completamente envolvido por esses dois veículos e não mais os abandonou. A sua relação com as artes além da música, chegou a atuar em peças e a fazer esculturas foi ganhando fôlego profissional.
Marsillac iniciou sua carreira como radialista, na Rádio Mauá, no Rio de Janeiro. Em seguida, trabalhou como comediante na TV Rio, em O Gordo e o Magro. No programa, ele representava o Magro e Ricardo Lucena, o Gordo. Chegou a dirigir alguns programas da TV Excelsior e a gravar comerciais para a TV Continental e a TV Tupi.
Em 1964, oito meses antes da inauguração da TV Globo, se inscreveu na prova de seleção que a futura emissora oferecia para selecionar seus primeiros profissionais. A Globo, nessa época, criou cursos de especialização em televisão, ministrados pela Escola Shakespeare, e Marsillac foi selecionado para o de diretor de imagem. Ele testemunhou, portanto, a construção dos primeiros cenários e estúdios da emissora e a idealização dos programas de estréia, como o seriado Rua da Matriz.
Sua primeira experiência na Globo, entretanto, foi em Romance na Tarde, outra produção de estréia da emissora. Apresentado pela atriz Norma Blum, o programa exibia longas-metragens e entrevistas com atores, cantores e autores de livros. Foi o embrião da faixa de programação Sessão da Tarde.
Alfredo Marsillac também trabalhou no programa humorístico TV0-TV1 (1966), primeira produção do gênero a fazer paródias de outras atrações da televisão, recurso que mais tarde seria aprimorado em programas como Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), TV Pirata (1983) e Casseta & Planeta, Urgente! (1992). Em TV0-TV1, Marsillac substituiu o diretor Augusto César Vannucci na gravação de alguns programas.
Marsillac participou da produção dos primeiros telejornais da TV Globo, como o Tele Globo, o Ultranotícias (1966), o Jornal de Vanguarda (1966), o Jornal de Verdade (1966), o Jornal Internacional (1972) e o Amanhã (1975). Ele também fez parte da equipe dos programas jornalísticos Ibrahim Sued Repórter (1966) e Amaral Neto, o Repórter (1968). Além de contribuir para a produção diária da programação jornalística, Marsillac foi o responsável pelos testes de vídeos de alguns apresentadores de telejornais, entre eles Sérgio Chapelin, Carlos Campbell, Ronaldo Rosas e Antônio Carlos Bianchini.
Durante a ditadura militar, Marsillac testemunhou os trabalhos dos censores: eles interferiam ativamente na edição das notícias, permanecendo no switcher, onde Marsillac ficava durante a transmissão dos telejornais. As alterações nas matérias eram feitas pouco antes de elas entrarem no ar.
Como Marsillac costuma dizer, ele fez de tudo um pouco. No ramo esportivo, editou o programa Na Zona do Agrião (1966), apresentado pelo jornalista João Saldanha. Na divisão de entretenimento, fez parte da equipe de Quem é Quem? (1966), um programa semanal apresentado por Célia Biar, que recebia convidados para um jogo de perguntas e respostas; e de O Jogo da Velha (1966), apresentado por Álvaro Feig, muito antes dessa atração fazer sucesso como um quadro do Domingão do Faustão (1989).
Alfredo Marsillac participou da primeira edição do Jornal Nacional, em 1º de setembro de 1969, ao lado de Armando Nogueira e Alice-Maria. A tarefa de colocar no ar o primeiro telejornal em rede ficou sob sua responsabilidade. Mas o desafio foi grande: apesar da implantação do sistema de rede via Embratel, não havia satélites para flexibilizar a recepção de sinais. Como as transmissões eram feitas via terrestre, havia um horário específico para que elas acontecessem, o que limitava a difusão das informações.
Marsillac acompanhou de perto o desenvolvimento tecnológico da TV Globo. Ele foi responsável pela primeira matéria gravada em videoteipe para o JN: gerada em Porto Alegre, a reportagem foi sobre a repercussão do Ato Institucional nº 12. Também acompanhou a implantação do sistema de recepção via satélites, o que permitiu aos telejornais receber matérias nacionais e, até, internacionais mais rapidamente. A partir daí, os jornalistas não mais precisariam requentar os releases enviados pelas agências internacionais, que só chegavam ao Brasil, via malote, dias depois do fato ocorrido. Em 1972, com a regulamentação do sistema PAL-M no Brasil, ocorreu oficialmente a primeira transmissão em cores em rede nacional, via Embratel. Marsillac acompanhou todo o processo de implantação dessa nova tecnologia. Ele também aprendeu, na prática, como trabalhar com a aplicação do chromakey e com o avanço do sistema de filmagens, conseqüência da compra de equipamentos portáteis.
No final da década de 70, Alfredo Marsillac tornou-se supervisor de telejornais da Globo. Apesar de sua trajetória profissional se confundir com a história de muitos outros telejornais da emissora, Marsillac participou mais ativamente das etapas de produção do JN: desde a reunião de pauta até a exibição do telejornal. Como supervisor, ele acompanhava, ainda, o trabalho dos repórteres e editores.
Marsillac também trabalhou no Jornal das Sete (1979), criado para destacar o jornalismo de serviço e liberar o JN da responsabilidade de cobrir o noticiário local; e no Globo em Dois Minutos (1970), voltado exclusivamente para assuntos da cidade, com reportagens sobre os problemas e as reclamações da população. As transmissões de carnaval da emissora também contaram com a participação de Marsillac.
A sua experiência profissional não se restringiu ao jornalismo. Ele chegou a trabalhar, esporadicamente, na área comercial da emissora fazendo o atendimento de clientes e a gravação de comerciais.
Em 1981, Alfredo Marsillac recebeu um convite para ser superintendente da TV Aratu, afiliada da Rede Globo na Bahia. Ao retornar ao Rio de Janeiro, em 1987, assumiu o cargo de gerente de produção comercial do Sistema Globo de Tecnologia Educacional (GloboTec), criado em 1977, com o objetivo de produzir e comercializar programas educacionais e comerciais. No GloboTec, Marsillac teve a oportunidade de dirigir um programa infantil de seis meses, encomendado pela TV italiana Telemontecarlo, exercitar sua habilidade de direção de documentários, além de ficar responsável pela redação, montagem e entrega dos produtos.
Em 1989, Alfredo Marsillac voltou à Rede Globo no cargo de assistente de direção geral para auxiliar Augusto César Vannucci na estréia do Domingão do Faustão. Quando o Vannucci deixou a direção do programa, convidou Marsillac para ser seu assistente e redator de um programa musical na Rede Manchete. O convite foi aceito.
Passado alguns anos, Marsillac mudou-se novamente para a Bahia ao receber um convite para trabalhar na Rede Bandeirantes. Atualmente, ele produz documentários para instituições como a Petrobras e a Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (Faetec), além de desenvolver projetos ligados à televisão e ao rádio e fazer assessoria de campanhas políticas.
[Fontes: Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Alfredo Marsillac em 10/04/2001 e 29/08/2001; 15 Anos de História. Rio de Janeiro: TV Globo Ltda, 1984; Jornal Nacional: A notícia faz história, 12 ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005; BARBOSA, Gustavo Guimarães & RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de comunicação. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001]
(Fonte: memoriaglobo.globo.com)