VIDA PIONEIRA, CAPITÃO DA INDÚSTRIA
Lorenzo Lorenzetti (1903 – 1979), técnico agrimensor italiano. Com vocação criativa, foi detentor de diversas patentes, inclusive a do chuveiro elétrico automático. A Lorenzetti é uma das indústrias mais tradicionais de São Paulo a empresa chegou até mesmo a fabricar peças de munição para as tropas paulistas durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
Entre administrar as fazendas de um velho tio na Somália italiana e trabalhar com mecânica, o jovem agrônomo Lorenzo Lorenzetti escolheu a segunda alternativa. Em abril de 1924, vindo de Gênova, ele desembarcava em São Paulo para juntar-se ao pai, o ingegnere Alessandro Lorenzetti, numa pequena fábrica de parafusos de precisão, com quatro operários e capital de 80 contos de réis. A chegada de Lorenzo – e, três meses mais tarde, do irmão Eugênio – mudaria o rumo da pequena empresa.
Lorenzo, o inventor da família, passa a cuidar da produção. Eugênio, engenheiro químico pela Politécnica de Milão, fica com as vendas. Começava a nascer o grupo Lorenzetti – 56 anos depois, um conjunto de oito empresas, 6 000 funcionários, faturamento de quase 3 bilhões de cruzeiros em 1979 e uma linha de mais de 2 000 produtos -, capitaneado por Lorenzo até o dia 8 de novembro de 1979, quando faleceu aos 77 anos.
Lorenzo foi um típico pioneiro da industrialização brasileira. Tentando antecipar-se às tendências de mercado, produziu de tudo um pouco – de cornetas para carroças a protótipos de helicóptero que não chegaram a voar, de máquinas de lavar a instrumentos médicos. Suas maiores glórias, no entanto, foram o lançamento, em 1926, do primeiro rádio a galena produzido no país – o Radiox – e o chuveiro elétrico. Do primeiro, fabricou 60 000 aparelhos, vendidos em três anos. Do chuveiro, patenteado logo depois da II Guerra Mundial, foram produzidas mais de 15 milhões de unidades, vendidas até no exterior, em mais de cinquenta países.
Embora cada vez mais se dedique à fabricação de equipamentos elétricos pesados – acaba de assinar contratos para o fornecimento de chaves elétricas de 500 000 volts -, a Lorenzetti depende em boa parte das vendas dos chuveiros desenvolvidos por Lorenzo. “O potencial hidrelétrico do país é alto e o poder aquisitivo da população é baixo” costuma lembrar Aldo Lorenzetti, filho de Eugênio, vice-presidente da empresa e sucessor do tio na presidência, para explicar o sucesso do produto – fruto afortunado de uma filosofia empresarial de Lorenzo: para sobreviver, a empresa precisa se adaptar às necessidades do mercado, mesmo que isso lhe custe alguns fracassos e ainda que a obrigue a manter uma permanente luta pela inovação tecnológica.
(Fonte: Veja, 14 de novembro de 1979 – Edição 584 – MEMÓRIA – Pág: 149)