Foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha sufragista no Brasil
Eugênia Álvaro Moreyra (6 de março de 1898 – 16 de junho de 1948) foi uma jornalista, atriz e diretora de teatro brasileira. De personalidade anticonvencional e transgressora, foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha sufragista no país. Ligada ao movimento modernista brasileiro e defensora de ideias comunistas, foi perseguida pelo governo Vargas, chegando a ser presa acusada de participação na Intentona Comunista.
Casada com o poeta e escritor Álvaro Moreyra, desempenhou com ele papel importante na renovação do setor teatral brasileiro, organizando campanhas culturais de popularização e trabalhando como atriz, diretora, tradutora, declamadora e posteriormente presidente do sindicato dos profissionais de teatro.
CARREIRA
No auge de sua carreira como repórter, Eugênia conheceu o poeta Álvaro Moreyra, que frequentava os mesmos círculos intelectuais e boêmios que ela. Apaixonados, casaram-se em 1914. Eugênia então adotou o nome do marido como seu sobrenome, e deixou a carreira jornalística de lado para se dedicar à nova família. O casal teve oito filhos, sendo que quatro sobreviveram à infância: Sandro Luciano, João Paulo, Álvaro Samuel e Rosa Marina.
Participou com Álvaro da Semana de Arte Moderna de 1922, fundando com ele em 1927 o grupo Teatro de Brinquedo, cuja intenção era manifestar no teatro as idéias modernistas.8 Entre 1928 e 1932, realizaram diversas excursões pelo interior e periferias do Rio de Janeiro, apresentando textos de autores modernos europeus.
Com a fragmentação do movimento modernista brasileiro após a Revolução de 1930, Eugênia passou a defender, juntamente com Álvaro, Pagú e Oswald de Andrade, posições de esquerda, participando ativamente da Aliança Nacional Libertadora e sendo consequentemente perseguida pelo governo Vargas.
Por influência de Carlos Lacerda, Eugênia e Álvaro filiam-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB), e em maio de 1935, ela integra o grupo de fundadoras da União Feminina do Brasil, organização promovida por mulheres filiadas ou simpatizantes do PCB.
A casa dos Moreyra nesta época tornara-se ponto de encontro de boêmios e intelectuais, e entre os diversos frequentadores estavam Di Cavalcanti, Vinícius de Morais, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Em novembro de 1935, após a Intentona Comunista, Eugênia é detida acusada de envolvimento com o PCB e a revolta. Permanece cerca de quatro meses na Casa de Detenção da rua Frei Caneca, onde divide cela com militantes comunistas como Olga Benário Prestes, Maria Werneck de Castro, Nise da Silveira, Armanda Álvaro Alberto e Eneida de Moraes.
É solta por falta de provas na madrugada de 1° de fevereiro de 1936, retornando ao ativismo político e exercendo, entre outras atividades, uma campanha para a libertação de Anita Leocádia, o bebê de Olga Benário que nascera após a deportação da companheira de Luis Carlos Prestes para um campo de concentração na Alemanha nazista de Adolf Hitler.
Em 1937, Álvaro apresentou à Comissão de Teatro do Ministério da Educação e Cultura o plano para a organização de uma “Companhia Dramática Brasileira”, que foi aceito. Ele e sua esposa excursionaram então pelos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, realizando posteriormente uma temporada de três meses no Teatro Regina, Rio de Janeiro.
Atuação sindical e morte
Entre 1936 e 1938, Eugênia foi presidente da Casa dos Artistas, o sindicato da classe teatral de São Paulo. Eleita para um novo mandato em fevereiro de 1939, foi impedida de assumir o cargo por Filinto Müller, que encaminhou ao Ministério do Trabalho a denúncia de que ela se tratava de “pessoa que figura como comunista na Delegacia de Segurança e Política Social”, sendo a eleição consequentemente anulada por ordem direta do ministro Valdemar Falcão.
Ela candidatou-se ainda a deputada federal constituinte nas eleições gerais de 1945, mas na ocasião nenhuma mulher conseguiu ser eleita para representar os interesses femininos durante a elaboração da Constituição brasileira de 1946.
No dia 16 de junho de 1948, Eugênia estava em sua casa no Rio jogando cartas quando sentiu-se mal. Veio a morrer pouco depois no quarto, ao lado dos filhos, em decorrência de um derrame cerebral. Estava então com 50 anos de idade.
LEGADO
A realidade, porém, é que com o passar dos anos a importante e desbravadora atuação de Eugênia em setores até então predominantemente masculinos, como o político e sindical, tornou-se cada vez mais subestimada, e ela permanece uma personagem à margem dos livros de história lembrada, quando muito, apenas pelo pioneirismo na imprensa.
(Fonte: Veja, 12 de novembro de 1975 – Edição 375 – MEMÓRIA – Pág: 99/100)
(Fonte: Veja, 2 de setembro, 1987 Edição 991 DATAS Pág; 99)