Georg Büchner
O dramaturgo alemão Georg Büchner (1813-1837)
A vida curta do alemão Georg Büchner (1813-1837) não o impediu de realizar alguns feitos notáveis.
Formado em medicina, estudou a fundo a Revolução Francesa, escreveu para teatro, conspirou contra o governo, foi condenado por traição ao Estado, fugiu para a França, morreu de tifo aos 23 anos.
Desconhecido em seu tempo, firmou legado somente no século 20. “Woyzeck”, sua obra inacabada, foi publicada mais de 40 anos após sua morte e estreou só em 1913, influenciando autores como Bertolt Brecht (1898-1956) e Heiner Müller (1929-1995).
Hoje, 200 anos após seu nascimento, Büchner empresta seu nome a um importante prêmio da literatura alemã e a um festival em Giessen.
Suas obras podem parecer essencialmente políticas –“A Morte de Danton” vê com ceticismo os governos republicanos que se sucederam na França no século 19–, mas é a poesia de Büchner que tem falado mais alto.
“Vinte e cinco anos atrás, aspectos políticos eram dominantes. Hoje, esses limites parecem expandidos. Pessoalmente, estou mais interessado em Büchner como mestre da palavra”, diz Burghard Dedner, uma das maiores autoridades do assunto na Alemanha.
Dedner aponta um salto qualitativo entre as duas peças mais encenadas do autor. “Para mim, “A Morte de Danton” [1835] parece uma versão moderna de Shakespeare. Já “Woyzeck” é algo totalmente novo em termos de linguagem e em sua técnica dramatúrgica, de cenas sintéticas.”
Na esteira das comemorações dos 200 anos de nascimento do autor, essas suas duas peças são as mais revisitadas –ainda há uma terceira, “Leonce e Lena”, entre os textos para teatro.
Em São Paulo, “Woyzeck” e “A Morte de Danton” deram origem a três espetáculos neste ano.
DADOS JOGADOS
A companhia Razões Inversas está em cartaz com “Anatomia Woyzeck” no Centro Cultural São Paulo.
No Sesc Consolação, o jovem grupo Núcleo dos 5 mostra “Danton.5”, com orientação de Cristiane Paoli-Quito e José Fernando de Azevedo.
Já o grupo [pH2] investe em um processo que, com base em “Woyzeck”, resultará em espetáculo convidado a estrear no dia 27 no Büchner Festival, em Giessen, Alemanha.
A montagem da companhia Razões Inversas, com direção de Marcio Aurelio, busca algo essencial na compreensão e na representação da peça “Woyzeck”. Em sua concepção, estabelece um jogo que procura preservar a desordem de uma obra com páginas não numeradas.
Aurelio mantém o texto como estilhaço de um drama. Três atores –Washington Luiz, Clóvis Gonçalves e Paulo Marcello– revezam-se entre os personagens e deixam ao público a tarefa de amarrar o coro. “São dados que vão sendo jogados”, resume.
Criado em torno de um episódio real, o texto tem como protagonista Woyzeck, proletário cujo conflito, em boa parte, reside em equilibrar a vida entre suas virtudes e sua natureza avessa à submissão.
Woyzeck passa a trabalhar como soldado e, a convite de um cientista, submete-se a uma experiência em que só come ervilhas. Subnutrido, ciente da opressão representada pela figura de seus superiores e, por fim, traído pela mulher, embarca em um processo de loucura que o leva a cometer um homicídio.
O fato de “Woyzeck” ser um texto inacabado, diz Dedner, “provavelmente” contribuiu para que ele se tornasse um ícone do teatro moderno.
“Por outro lado, internacionalmente, a peça não tem sido recebida como uma série de fragmentos, mas sim como uma peça aparentemente acabada”, critica.
“Danton.5” parece prescindir dessa sobriedade. Insere depoimentos dos atores ao texto, sob risco de pieguismo.
Na peça, Büchner representa seu ceticismo em relação à Revolução Francesa por meio da figura de Georges Danton, líder revolucionário que acaba guilhotinado.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/06/1288486- GUSTAVO FIORATTI – DE SÃO PAULO – 03/06/2013)