George Kennan, ex-diplomata e historiador americano que previu a queda da União Soviética

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George Kennan, autor da política de contenção durante a Guerra Fria, concebeu a estratégia vitoriosa para enfrentar a União Soviética, mas acabou excluído do governo americano

 

Kennan, George Frost -- Kids Encyclopedia | Children's Homework Help | Kids Online Dictionary | Britannica

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George Kennan (Milwaukee, Wisconsin, 16 de fevereiro de 1904 – Princeton, Nova Jersey, 17 de março de 2005), ex-diplomata, intelectual e historiador americano que previu, antes de todos, a real natureza das relações entre Estados Unidos e a União Soviética no pós-guerra.

O criador da vitoriosa estratégia americana na Guerra Fria, esse personagem central do século XX, foi um caso raro de pensador que chegou às mais altas esferas do poder –  e saiu decepcionado.

Formado em Princeton, Kennan entrou aos 22 anos para o serviço diplomático. Foi mandado para a Suíça, Alemanha, Letônia, mas seu verdadeiro fascínio e objeto de estudo era a União Soviética, onde ajudou a estabelecer a embaixada americana, em 1933, indicado pelo presidente Roosevelt.

Era valorizado por sua fluência em russo e suas análises realistas, mas demorou a ganhar o devido reconhecimento. O fim da Segunda Guerra Mundial deu-lhe a oportunidade de brilhar. A aliança estratégica com os soviéticos levara autoridades americanas a acreditar ingenuamente numa virada de curso do regime e, quem sabe, na paz duradoura.

Kennan não se iludia. A União Soviética jamais abandonaria o expansionismo e a inimizade com o Ocidente – elemento central do bolchevismo e, mais ainda, de uma profunda neurose russa anterior a qualquer ideologia.

Para se fazer ouvir, em fevereiro de 1946, Kennan quebrou o protocolo e mandou um telegrama de mais de 8 000 palavras ao Departamento de Estado. Por meio do Longo Telegrama – como ficou conhecido o documento -, conseguiu chegar a quem importava, e logo foi chamado a Washington para trabalhar diretamente sob o secretário de Estado George Marshall, planejando a política externa americana.

Sua solução para a ameaça soviética era a estratégia de “contenção”, termo que usou num artigo de 1947 para a revista Foreign Affairs. Consistia em ter uma presença constante, forte e inflexível no radar soviético, de modo a impedir que o comunismo expandisse seu poder.

Com o tempo, dizia a teoria, a União Soviética sofreria um enfraquecimento econômico, moral e psicológico, que culminaria na implosão do sistema – exatamente o que aconteceu. No entanto, o momento em que as ideias de Kennan foram adotadas pelo Estado americano marcou o início de seu afastamento do poder. A estratégia de contenção se consagrou como a Doutrina Truman – com a diferença de incluir conflitos armados na periferia dos interesses soviéticos, coisa que Kennan sempre quis evitar.

Em artigo escrito em 1947, Kennan, ganhador do Prêmio Pulitzer, assegurou que mediante uma política de apaziguamento, as atitudes soviéticas se suavizariam. Isso, segundo disse, levaria à queda do regime comunista e à dissolução da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas, tal como ocorreu no final de 1991. Kennan estava convencido que depois da Segunda Guerra Mundial, uma esgotada União Soviética não podia ser uma ameaça militar para os Estados Unidos ou seus aliados.

No entanto, podia ser um rival muito duro tanto no campo ideológico quanto no político. Nesse momento Kennan era diretor de planejamento do Departamento de Estado dos Estados Unidos. O historiador escreveu mais de 20 livros sobre política externa, o último deles em 2003, quando tinha 98 anos. Durante seus anos no serviço exterior, Kennan ganhou o Prêmio Pulitzer por seus livros sobre História e o Prêmio ao Livro do Ano por sua obra “Rússia abandona a guerra”, publicada em 1956.

Voltou a ganhar o Pulitzer em 1967 por Memoirs, 1925-1950. Além do Pulitzer, em 1989 recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, o Prêmio Albert Einstein em 1981, o Prêmio da Paz do Livro Alemão em 1982, e a Medalha de Ouro de História concedida pela Academia Americana e o Instituto de Artes e Letras, em 1984.

Kennan foi um dos mais ilustres e influentes diplomatas (e formuladores da política externa) da história americana.

Sua grande influência foi entre 1945 e 1949, quando ele contribuiu de forma crucial para forjar a política americana na Guerra Fria.

Em dois documentos lendários -um deles ficou conhecido como O Longo Telegrama e o segundo foi um ensaio com o pseudônimo X na revista Foreign Affairs, Kennan mostrou seu estilo clínico e capacidade de vislumbrar tendências históricas. Nada sentimental e sem ilusões, ele ficou famoso pela seguinte frase: “É claro que o principal elemento de qualquer política dos EUA em relação à União Soviética deve ser de uma contenção a longo prazo e paciente, mas firme e vigilante, das tendências expansionistas russas”.

Kennan deu a racionalidade para Washington tomar um caminho inequívoco para enfrentar o comunismo soviético, mas sem ir à guerra aberta. Foram décadas marcadas por um confronto seletivo, que ele lamentou tenha carregado tanto na militarização. A preferência de Kennan (que tinha repulsa pela perspectiva de um conflito nuclear) era por um enfrentamento mais econômico, diplomático e ideológico.

Kennan inclusive se posicionou contra a guerra do Vietnã, com o argumento de que os problemas no sudeste asiático não representavam um grande risco estratégico aos interesses americanos. E o bruxo diplomático Henry Kissinger, uma figura-chave na guerra do Vietnã e das tratativas com Moscou, escreveu uma encorpada resenha no New York Times, sobre o livro de John Lewis Gaddis. Kissinger salienta que na grande questão soviética, Gaddis estava correto.

Quatro décadas antes de Mikhail Gorbachev, Kennan anteviu que a vitória definitiva não viria no campo de batalha, nem mesmo pela diplomacia (embora tivessem influência), mas pela implosão do sistema soviético. Paciência histórica deixou o dissidente soviético Alexander Solzhenitsyn exasperado, que acusou Kennan de não aplicar valores morais à política. Mais complicado.

Ao dar uma aula sobre o modo de pensar de Kennan, Kissinger, que, como não poderia deixar de ser, é autocentrado, enfatiza o “debate perene entre realismo e idealismo” e que o desafio para os governantes e seus diplomatas é definir os componentes tanto de poder como de moralidade, estabelecer um equilíbrio entre eles e saber fazer os compromissos sem ceder no essencial, num esforço que exige constante recalibração.

Desafios espinhosos, mas quando hoje em dia numa conversa sobre a formulação de política externa americana está engajado alguém como o candidato presidencial republicano Herman Cain a tarefa imediata é a contenção de bobagens e da ignorância. Imagine o que o erudito e elitista George Kennan acharia de tudo isto.

Ao mesmo tempo que servia os Estados Unidos, admirava a força do povo russo. Fixou-se como consultor e analista da política internacional. Foi crítico da contracultura dos anos 60, na qual via sementes de totalitarismo, e também do poderio nuclear e das investidas bélicas americanas, em particular da Guerra do Vietnã.

Após desentendimentos com Dean Acheson, sucessor de George Marshall, foi lhe dado o cargo de embaixador em Moscou, mas uma declaração desastrada à imprensa fez dele persona non grata no país. Uma década mais tarde, sob Kennedy, não se saiu melhor na Iuguslávia, cuja embaixada também deixou.

Foi ainda um escritor e ensaísta duas vezes premiado com o Pulitzer e presidente da Academia Americana de Artes e Letras. Foi um homem do século XX, ciente ele próprio de que, com o fim da Guerra Fria, seu tempo tinha passado.

Kennan morreu em 17 de março de 2005, aos 101 anos, em Princeton no estado de Nova Jersey.

 

(Fonte: Veja, 4 de março de 1998 – ANO 31 – N° 9 – Edição 1 536 – LIVROS/ Por Heitor Aquino Ferreira – Pág; 98/99)

(Fonte: Veja, 10 de junho de 2015 – ANO 48 – N° 23 – Edição 2 429 – LIVROS/ Por Joel Pinheiro da Fonseca – Pág: 108/109)

(Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/primeira-impressao/ Por Caio Blinder De Nova York – 17/11/2011)
(Fonte: http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI490197-EI3615,00- DIVERSÃO – ARTE E CULTURA – 18 de março de 2005)
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