George Meany, legendário, duro, poderoso e mito operário.

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Meany: fim de uma era

George Meany (Harlem, Nova York, 16 de agosto de 1894 – Washington, DC, 10 de janeiro de 1980), legendário, duro, rude, explosivo condutor de homens, poderoso e mito operário. Foi 24 anos irremovível presidente da mais respeitada central sindical americana – a AFL-CIO*, com 13,6 milhões de afiliados.

Meany finalmente entregou os pontos, a certa altura de um telefonema rotineiro, em 25 de setembro de 1979, Meany disse o tão esperado “sim”: a decisão de desistir de novo mandato de dois anos, não concorrendo às eleições da central sindical no mês de novembro de 1979.

Quando Lane Kirkland (1922-1999), secretário-tesoureiro da entidade, principal auxiliar do velho chefe e seu candidato declarado à própria sucessão, comunicou a notícia ao conselho diretor da AFL-CIO, um período notável do sindicalismo americano, tangido por lideranças carismáticas e firmes, de uma vez por todas recebeu um ponto final.

Talvez mesmo com atraso de muitos anos, uma vez que a persistência de Meany na presidência da AFL-CIO – à qual ele chegou já tarde na vida, com 61 anos de idade e pouca disposição para aceitar ideias novas – é geralmente considerada um anacronismo. Seu longo reinado foi possível apenas pela quase veneração que ele sempre inspirou, não raro com mão pesada, mesmo entre seus adversários sindicais.

De modesta família católica de origem irlandesa no Bronx, bairro popular de Nova York, Meany não contou com protetores para ajudá-lo a abrir caminho. Sua auto-suficiência é perceptível no altaneiro desdém que sempre dispensou, com absoluta imparcialidade, a empresários, autoridades e líderes trabalhistas adversários ao longo de toda uma bem-sucedida carreira. Tal independência sempre foi acompanhada por um conservadorismo político acima de qualquer suspeita.

Particularmente em questões internacionais, Meany jamais deixou de ser um rematado falcão – orgulha-se de ter influído, no pós-guerra, para neutralizar a influência comunista no sindicalismo europeu e, na guerra do Vietnã, foi até o fim um inflexível opositor da retirada americana.

Internamente, seu anticomunismo colocou-o entre os que promoveram o expurgo de influências marxistas no sindicalismo americano. Ao mesmo tempo, insistiu numa política econômica liberal e alinhou-se aos democratas pela ampliação dos direitos civis – até romper com eles no momento em que, em 1972, foram longe demais para seu gosto, indicando o radical Gorge McGovern (1922-2012) para disputar a Presidência da República.

O fato crucial a respeito de Meany, porém, não está em sua postura ideológica ou em suas inclinações políticas. O que realmente marcou sua carreira é que nunca, em nenhum momento, seus adversários sindicais puderam encontrá-lo ao lado das empresas ou do governo, quando havia qualquer interesse operário a discutir. As conquistas do sindicalismo americano, em que Meany tanto pesou, efetivamente são extensas: de 25 centavos de dólar por hora, em 1910, quando era um aprendiz de encanador, o salário médio do operário americano, descontada a inflação, alçou-se a 2 dólares (ou 6,5 dólares em valores corrente) quando ele se afastou da atividade sindical. Dificilmente, contudo, voltará a contar com uma liderança tão absorvente, tão colorida – e tão sarcástica.

* Fusão, em 1955, das centrais AFL – American Federation of Labor (Federação Americana do Trabalho) e – CIO – Congress of Industrial Organization (Congresso da Organização Industrial).

(Fonte: Veja, 10 de outubro de 1979 – Edição 579 – ESTADOS UNIDOS – Pág; 40)

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