Gilles Deleuze (Paris, 18 de janeiro de 1925 – Paris, 4 de novembro de 1995), filósofo francês, vinculado aos denominados movimentos pós-estruturalistas, categorizações que o próprio Deleuze questionava pelo que trazem, ainda, da visão e luta pelo idêntico. Suas teorias acerca da diferença e da singularidade nos desafiam a pensar em temas como rizoma, ontologia da experiência, a teoria do que fazemos, a virtualidade e a atualidade.
Deleuze, assim como Foucault, foi um dos estudiosos de Kant, mas tem em Bergson, Nietzsche e Espinosa, poderosas intersecções. Professor da Universidade de Paris VIII, Vincennes, Deleuze atualizou ideias como as de devir, acontecimentos, singularidades, enfim conceitos que nos impelem a transformar a nós mesmos, incitando-nos a produzir espaços de criação e de produção de acontecimentos-outros. Em sua vida, Deleuze fez tanto críticas ao marxismo como ao freudismo, ponderando-os como representantes de um burocratismo fundamental. Acima de tudo, Deleuze nos convida a experimentar junto com ele suas ideias, sem nos tornarmos representantes de deleuzianismos, ou de um pensamento deleuziano. Muito mais experimentar com Deleuze, sem se filiar, fazer alianças sempre, intensas, porém não eternas ou mesmo de subserviência! O tema da intensidade e das produções entre atual e virtual, tão caros a Deleuze, atravessam cotidianamente a área de EAD.
Trata-se de uma filosofia do acontecimento, uma filosofia da multiplicidade, cujas bases rompem com a filosofia do sujeito, da consciência. Propõe lidar com a criação de conceitos e com a produção de acontecimentos que os atualizem no perpétuo jogo entre virtuais e atuais.
Deleuze torce a concepção de desejo entrelaçado com as ideias de Nietzsche, de vontade de potência, inventando outros jeitos de ser, pensar e viver, intensamente atravessados por acontecimentos, intensidades nesses acontecimentos como experimentações.
Trabalha esse acontecimento como uma processualidade da formação. A filosofia a que se propõe, que defende e buscou praticar é então constituída por três instâncias correlacionais: o plano de imanência que ela precisa traçar, os personagens filosóficos que ela precisa inventar e os conceitos que deve criar.
Portanto, uma filosofia é examinada, em sua concepção, o que nos invoca dimensões de praticidade, de experimentação, um alento pelo que ela produz e pelos efeitos que causa. Os conceitos filosóficos são válidos na medida em que sejam verdadeiros, mas uma verdade regulada por interesses e importância.
Mais, pelo que os mesmos provocam na prática e pela prática. Como nos deixamos atravessar, afetar e atravessamos a produção desses conceitos, dessas idéias-experimentação.
Nesse ponto Deleuze nos instiga ao dizer, não acredito naqueles que dizem “faça isso”; acredito naqueles que dizem “faça comigo”, enfim. Também não se assumir como professor-profeta, que diz ao outro o que fazer e como fazer. Muito mais um professor militante, que, junto e a partir do de dentro, constrói coletivamente. É a esse Deleuze que nos referimos.
Falar de Deleuze é exercer, de antemão, algumas escolhas, saber que se estará operando em dobras, resultantes, efeitos e promotoras de outras dobras. É falar de uma das múltiplas dobras que se intensificam em EAD, as dimensões de presença, desnaturalização da distância, desnaturalização do pensar, desnaturalização do experimentar.
Ao conceber a vida como acontecimento que se produz como um devir, um fazer-se, Deleuze vem nos desafiar com uma lógica do sentido, não com categorias entrincheiradas, fazendo abstrações dos acontecimentos num a priori, já dado e já equacionado. Assim, a realidade proposta já está dada, de antemão.
Os acontecimentos, e assim os buscamos ver e especialmente viver em EAD são singulares e, como tal, não previsíveis na lógica de uma matriz identitária, na qual tudo está definido. Não se imita, pois, ao criar, se está abrindo passagem para outros processos que não o idêntico, o identitário. São modos de subjetividade coletiva sempre se fazendo, acontecendo.
Ao tratar de Deleuze, lidamos com uma ética do acontecimento, em cuja internalidade se busca não o tempo constituído pela continuidade e eternidade, mas o aberto pelo intempestivo da atualidade, sem categorias fixas, pelo qual o sujeito torna-se diferente do que é, sendo ele mesmo.
Desafia-nos, nessa linha, entre outras, à ideia de que a educação é rizomática, segmentada, fragmentária, não está preocupada com a instauração de nenhuma falsa totalidade. Não interessa criar modelos, propor caminhos, impor soluções. Importa fazer rizoma, conexões, trabalhando o entre dois, entre as coisas, no intermezzo. Sentidos para esses movimentos, passagens?
Assumir a potência do pensamento ao colocar-se o mais perto possível do infinito, pois um pensamento é tanto mais criativo quanto menor for seu abrigar.
O método de Deleuze rejeita o recurso às mediações. É por isso que ele é essencialmente antidialético. A mediação é exemplarmente uma categoria. Ele nos propõe a produção imanente sem a mediação.
Deleuze nos provoca com idéias de pensar e de criar conceitos, como dispositivos, ferramentas, algo que é inventado, criado, produzido, a partir das condições dadas e que opera no âmbito mesmo destas condições. O conceito é um dispositivo que faz pensar.
Nossa prática, como intercessores, colocam-nos em condição de não se refugiar na reflexão sobre, mas de operar, criar, experimentar, sem ser agitando velhos conceitos estereotipados como esqueletos destinados a intimidar toda criação, ( ) [não se contentando] em limpar, raspar os ossos (Deleuze e Guattari, 1992, p. 109).
Deixando emergir as multiplicidades, tais como conceitos e experimentações que se criam na frutífera parceria entre Deleuze e Guattari.
(Fonte: http://www.ufrgs.br/corpoarteclinica)