Gustav Hocke, escritor e historiador cultural, com várias obras publicadas.

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Maneirismo: o mundo como labirinto

Gustav Hocke (1° de março de 1908 – 14 de julho de 1985), escritor e historiador cultural, com várias obras publicadas. Nascido em março de 1908, doutor em filosofia, Hocke se filia a uma corrente que vê, na obra de arte, a manifestação de um período – ou, mais exatamente, o reflexo das diferentes atitudes que em diferentes momentos o ser humano pode assumir em face do universo circundante. Desta forma, os pontos de semelhança entre a arte maneirista e a moderrna proviriam da instabilidade do mundo nas duas épocas. Para o artista dos fins do século XVI a vida se tornara um castelo de cartas edificado sobre areias movediças, pois os valores estáveis idealizados no Renascimento haviam sido varridos pelo saque de Roma em 1527 (“Não foi o fim de uma cidade; foi o fim do mundo”, escreveria Erasmo de Rotterdam).

Analogamente, o homem do século 20 vive um período de crise, se não o mais grave, seguramente o mais consciente e doloroso da história. E novamente o assaltam a dúvida, o medo, a contradição, as premonições apocalípticas, a insegurança diante de um universo caprichoso e flutuante. A argumentação e a exemplificação de Gustav Hocke (que recorre com frequência também à área poética) são claras e convincentes. Rico de ideias e de sugestões, seu livro acaba ultrapassando os limites da história e da crítica da arte para se transformar num instigante exercício filosófico. Quando menos, por lembrar, com acuidade, o quanto o homem pode permanecer invariavelmente o mesmo, a despeito dos meandros de sua vida e de sua história.

Gustav René Hocke, autor de “Maneirismo: o Mundo como Labirinto”, descreve que “A História da Arte deixou-se enfeitiçar pelo passado e a Crítica da Arte, pela atualidade”, assim, enquanto a história praticamente se limita ao seco inventário de nomes e fatos, e trata as obras do passado como se já não fossem coisa viva, a crítica prefere interferir na arte que se está fazendo a seu redor. Assume, além disso, uma atitude de julgamento, de preferência à reflexão e à análise.

As tais limitações pretende escapar este denso ensaio do belga Gustav R. Hocke, que incursiona ao mesmo tempo na crítica e na história. Seu tema principal é a arte europeia que vai da segunda metade do século XVI aos meados do século XVII, e que ele denomina genericamente de “maneirista”. O autor não se prende, contudo, ao passado. Extrapola o conceito de maneirismo até a arte do século 20 e descobre, nesta, variados pontos de contato com as criações do seiscentismo.

Símbolos e climas – Apoiado em numerosas ilustrações, Hocke consegue demonstrar irrefutavelmente que o maneirismo antecipou (e de alguma forma torna legítimos) certos símbolos e climas da figuração contemporânea, sobretudo na área surrealista. Sua ambição, porém, parece ainda mais ampla. Pretende comprovar que as mesmas intenções e aspirações se escondem por trás da arte pré-barroca e de certa parcela da arte moderna. Ambas resultariam, a seu ver, de uma visão do mundo semelhante, definida, já no título, como “labiríntica”. Isto é, a existência vista como um jogo intrincado, vertiginoso e bizarro, de difícil (se não impossível) solução.

(Fonte: Veja, 16 de abril de 1975 – Edição n° 345 – LITERATURA/ Por Olivio Tavares de Araújo – Pág; 71)

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