Gustav Janouch (Maribor (Eslovénia), 1903 – Praga, 1968), compositor e escritor tcheco, tornou-se conhecido pela sua amizade com Franz Kafka. O tímido escritor Gustav Janouch, então com 17 anos, conheceu Franz Kafka em 1920, quando este estava com 37 anos.
Em 1920, Janouch era um admirador de A metamorfose, embora Kafka fosse quase desconhecido, e seu pai apresentou-o ao autor, colega seu numa companhia de seguros. O jovem de 17 anos a princípio decepciona-se com aquele indivíduo simples e bem-educado.
Prestando mais atenção, percebe que seu interlocutor tem grandes olhos cinzentos sob espessas sobrancelhas negras. Sua tez é morena e seus traços extremamente móveis. Kafka fala com seu rosto.
A partir daí, visitando-o regularmente no escritório, começa a anotar seus colóquios, publicados pela metade em 1951, e depois de forma mais completa no ano de sua morte, 1968, quando o mundo estava cada vez mais interessado por tudo que se referisse ao gênio de Praga.
Nunca se trata de um mero bate papo (aliás, há sempre um clima de formalidade cordial). A não ser que um bate papo pudesse ser como o seguinte:
Kafka- Um carrasco em nossos dias é um honrado funcionário. O espírito pragmático da função pública assegura-lhe um bom tratamento. Por que não haveria um carrasco adormecido em todo funcionário honrado?
Janouch Mas os funcionários não matam ninguém!
Kafka- Oh, sim! E Como! Eles pegam seres vivos e capazes de se transformar, e deles fazem matrículas de arquivos, mortos e incapazes da mínima transformação.
Janouch apresenta um memorial emaranhado da sua convivência, sem indicação precisa de datas, e nem sabemos qual o princípio ordenador ou fundamentador de uma possível autenticidade.
E talvez tenha sido o melhor caminho, ditado decerto pela urgência de anotar o que lhe pareceu importante, incisivo, iluminador. E que para mim, em meados dos anos 80, foi importante, incisivo, iluminador. E provavelmente o será para um jovem de 17 anos por aí, descobrindo a paixão pela literatura, supondo-se que ainda os haja.
De vez em quando, Janouch pondera sobre a experiência de conhecer Kafka: Aprendi a ver melhor e a ouvir melhor. Meu universo aprofundou-se e complicou-se, sem ficar mais frio ou longínquo por isso Não era mais um insignificante filho de funcionário, mas um ser humano lutando para conquistar sua personalidade e a medida do mundo, e medindo com os homens e com Deus.
Isso eu o devia ao dr. Kafka. Isso soa um pouco como Watson falando de Sherlock Holmes. E hoje que eu tenho um conhecimento muito maior tanto da obra kafkiana quanto da sua vida e das análises e interpretações que escreveram sobre ambas (Elias Canetti, Hanns Zischler, Günther Anders, Marthe Robert, Maurice Blanchot, Erich Heller, Danillo Nunes, Ernst Pawell, entre tantos outros), é um pouco difícil me entusiasmar com esse Kafka como fazer amigos e influenciar pessoas.
Mas há um toque comovente e inegavelmente espontâneo, que se não torna Conversas com Kafka um I-Ching para literatos afoitos pelo menos permite descobrir (ainda que circunspectamente) esse lado tão mais simpático: Minha embriaguez é oferecer. É a embriaguez mais refinada que existe.
Outras obras de Janouch são “The Blues de morte” e “Contatos Imediatos de Praga”.
(Fonte: www.caras.uol.com.br ANO 15 N° 27 – 9 de julho de 2008 Edição nº 766 Citações)
(Fonte: www.armonte.wordpress.com – MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte – 17/04/2011)
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