Hal Kanter, uma das grandes mentes da indústria do entretenimento americano

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Produziu a primeira produção estrelada por um negro e um branco em pé de igualdade.

HAL KANTER (1919 – 2011), uma das grandes mentes da indústria do entretenimento americano

HAL KANTER (1919 – 2011), uma das grandes mentes da indústria do entretenimento americano

Hal Kanter (Savannah, Geórgia, 18 de dezembro de 1918 – Encino, Califórnia, 6 de novembro de 2011), roteirista, produtor e diretor, foi uma das grandes mentes da indústria do entretenimento americano

Kanter foi o criador da série “Julia”, um marco da TV americana na década de 1960, que tinha como protagonista uma enfermeira negra – o que destoava do estereótipo vigente da negra como empregada doméstica.

Produtor, roteirista e até diretor de cinema, Kanter também tinha um grande histórico na premiação do Oscar: contribuiu para o roteiro das edições do evento por mais de 30 anos. E deixou digitais bem visíveis na cultura pop, ao trabalhar, ao longo de sua filmografia, com astros do porte de Bob Hope, Jerry Lewis, Dean Martin, Pat Boone, Elvis Presley, Marilyn Monroe e Brigitte Bardot.

Bob Hope e Bing Crosby, em De Tanga e Sarong

Bob Hope e Bing Crosby, em De Tanga e Sarong

 

Kanter já tinha uma carreia de escritor de comédias no rádio quando decidiu ingressar no audiovisual, estreando na série de TV “The Ed Wynn Show” em 1949. Sua habilidade como roteirista rapidamente foi notada por Hollywood, que o chamou para escrever um musical estrelado por Janet Leigh (“Two Tickets to Broadway”) em 1951. Sua facilidade para misturar música e comédia logo o tornaria um dos roteiristas mais requisitados da época.

Seu segundo filme, “De Tanga e Sarong” (Road to Bali, 1952), juntou o comediante Bob Hope e o cantor Bing Crosby com enorme sucesso nas bilheterias. Foi o começo de um longo e frutífero relacionamento entre Kanter e Hope, que levou o roteirista a escrever mais quatro comédias do astro, além de apresentações teatrais, especiais de TV e estabelecer uma parceria histórica na cerimônia do Oscar. Se Hope foi o apresentador mais duradouro e influente dos prêmios da Academia, o mérito de sua sagacidade pertencia aos roteiros de Kanter, tanto que seus textos continuaram a ser requisitados por Billy Crystal e seus sucessores.

Dean Martin e Jerry Lewis, em Artistas e Modelos

Dean Martin e Jerry Lewis, em Artistas e Modelos

Dean Martin e Jerry Lewis, em Artistas e Modelos

O bom humor marcou os dois filmes que escreveu para a dupla Dean Martin e Jerry Lewis, “A Barbada do Biruta” (Money from Home, 1953) e principalmente “Artistas e Modelos” (Artists and Models, 1955), que se tornou cult graças à subtrama envolvendo uma heroína dos quadrinhos e a modelo que a inspirou, interpretada pela então iniciante Shirley MacLaine.

Mas em 1955 ele resolveu mudar de gênero, experimentando o drama numa colaboração com o escritor Tennessee Williams para a adaptação cinematográfica de seu romance “A Rosa Tatuada” (The Rose Tattoo) – um clássico dirigido por Daniel Mann, com Anna Magnani e Burt Lancaster.

Hal Kanter dirige Elvis Presley em cena de A Mulher que Eu Amo

Hal Kanter dirige Elvis Presley em cena de A Mulher que Eu Amo

Hollywood ainda via Kanter como autor de comédias musicais e o estouro do rock’n’roll acabou lhe colocando no caminho de Elvis Presley.

A oportunidade de trabalhar com o Rei do Rock não se resumiu a um roteiro. Em 1957, Kanter estreou como diretor de cinema, à frente de “A Mulher que Eu Amo” (Loving You), segundo filme e primeira comédia da carreira de Elvis – além de uma das poucas produções de qualidade da filmografia do cantor.

Hal Kanter, Elvis Presley e os atores Wendell Corey e Lizabeth Scott, no set de A Mulher que Eu Amo

Hal Kanter, Elvis Presley e os atores Wendell Corey e Lizabeth Scott, no set de A Mulher que Eu Amo

 

Kanter dirigiu apenas mais dois filmes em sua carreira, mas em 1961 voltou a escrever outra Sessão da Tarde clássica de Elvis Presley, “Feitiço Havaiano” (Blue Hawaii), que reinventou o ídolo dos anos 1950 para a década do surfe, em meio a esportes jovens de ação – e garotas de biquini!

Também trabalhou com Pat Boone e Tommy Sands, da primeira geração de ídolos do pop adolescente, no filme “Mardi Gras” (1958).

Elvis Presley, em cena de Feitiço Havaiano

Elvis Presley, em cena de Feitiço Havaiano

 

Embora a maior parte de seus roteiros fossem encomendados para destacar ídolos masculinos, atrizes famosas também protagonizaram suas histórias, caso de Marilyn Monroe em “Adorável Pecadora” (Let’s Make Love) e Bette Davis em “Dama por um Dia” (Pocket Full of Miracles) – filmes dirigidos respectivamente pelos mestres George Cukor e Frank Capra.

Por sinal, uma de suas comédias mais deliciosas foi dedicada, da inspiração ao título, à maior musa da década de 1960: Brigitte Bardot. “Minha Querida Brigitte” (Dear Brigitte, 1965) era literalmente uma carta de amor, escrita pelo pequeno Billy Mumy (o futuro Will Robinson da série “Perdidos no Espaço”), então com 11 anos de idade, à deusa francesa – que faz uma participação especial como ela mesma na trama.

Marilyn Monroe e Yves Montand em Adorável Pecadora

Marilyn Monroe e Yves Montand em Adorável Pecadora

 

 

“Minha Querida Brigitte” foi o último filme escrito pelo roteirista, que após 1965 passou a se dedicar inteiramente à televisão. Kanter já vinha mantendo uma carreira paralela e ganhou seu primeiro Emmy escrevendo a série “The George Gobel Show” (1954–1960).

Após criar “Valentine’s Day” (1965–1966), ele passou a acumular a função de produtor. E foi com o novo status que concebeu sua revolução televisiva, a série “Julia” (1968–1971).

Brigitte Bardot e Billy Mumy, em Minha Querida Brigitte

Brigitte Bardot e Billy Mumy, em Minha Querida Brigitte

Brigitte Bardot e Billy Mumy, em Minha Querida Brigitte

O programa foi o primeiro protagonizado por uma atriz negra na história da TV americana. Diahann Carroll interpretava a personagem-título, uma enfermeira viúva e mãe de um filho pequeno – papel que normalmente caberia a uma atriz de pele clara. O “atrevimento” era tamanho que emissoras do sul dos Estados Unidos (região reconhecidamente mais preconceituosa) chegaram a boicotá-lo, porém o sucesso em outros estados tornou sua exibição inevitável.

À época, Kanter deu uma entrevista para a revista Times afirmando que “Julia” tinha aberto as portas para a integração racial na televisão, apesar de não tratar na série do assunto com profundidade. “Esse nunca foi o nosso propósito. Eu sinto que se tivéssemos feito comentários sociais dentro do nosso contexto, nosso programa teria sido um fracasso. Mas fizemos uma comédia de situação e atingimos o sucesso”.

Diahann Carroll como Julia

Diahann Carroll como Julia

 

O contexto abrangia outros temas controversos do período. Para começar, o marido de Julia Baker tinha morrido na Guerra do Vietnã. E, refletindo a crise econômica, que afetou mais duramente as minorias, ao fim da 2ª temporada o proprietário da clínica em que a protagonista trabalhava ordenou que as enfermeiras negras fossem demitidas. A série perdeu uma coadjuvante.

Mas apesar de sua capacidade de inspirar polêmica, a maior quantidade de cartas recebidas pela produção trazia agradecimentos, por “Julia” destacar a amizade inter-racial entre as crianças – na história, o melhor amigo do filho da protagonista era um garoto branco.

Diahann Carroll e Marc Copage, em cena de Julia

Diahann Carroll e Marc Copage, em cena de Julia

Kantor também produziu uma temporada da sitcom clássica “Tudo em Família” (All in the Family, em 1975) e assinou um telefilme em que Lucille Ball interpretava a si mesma, “Lucille Moves to NBC” (1980), antes de virar roteirista exclusivo do Oscar. Seu nome apareceu nos créditos da cerimônia até 2008.

Hal Kanter

Hal Kanter

Hal Kanter faleceu em 4 de novembro de 2011 devido a complicações causadas por uma pneumonia.

Hal Kanter tinha 92 anos. Ele deixa sua esposa, Doris Kanter, três filhas e um legado inestimável para o cinema e para a TV dos EUA.

(Fonte: http://pipocamoderna.com.br/hal-kanter-1919-2011 – por Leonardo Vinicius Jorge – 9 nov 2011)

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