Han van Meegeren (10 de outubro de 1889 – 30 de dezembro de 1947), pintor holandês, o mais célebre dos falsários. Artista frustrado, que quando produziu seus próprios quadros foi alvo do pouco-caso dos especialistas, ele não apenas ficou rico, mas perpetrou uma vingança. “Ou bem os críticos admitem que costumam falhar, ou reconhecem que sou tão grande quanto Vermeer”, chegou a dizer.
E, para cúmulo de seu triunfo, ninguém o desmascarou. Foi preciso que ele próprio confessasse as falsificações para que elas viessem à luz.
MISTÉRIO – Van Meegeren – toxicômano, mentalmente desequilibrado, provavelmente colaborador dos nazistas. Nascido em outubro de 1889, até os 30 e poucos anos fez boa carreira, vendendo bem os quadros e sendo saudado como um artista promissor. Depois empacou. Nos meios artísticos de Haia, onde vivia, envolvia-se em brigas e considerava-se injustiçado.
Talvez por isso, talvez por dinheiro, talvez por outra razão, acabou enveredando pelo atalho do falso. Começou reproduzindo outros mestres, inclusive Franz Hals (1580-1666), mas se fixou em Vermeer.
Podem ter pesado vários fatores subjetivos, inclusive a admiração pessoal, mas a isso se acrescentavam dois fatores objetivos. O primeiro é o valor de Vermeer, figura exponencial da arte holandesa, mais adequado que qualquer outro para causar impacto e trazer dinheiro. O outro é o mistério que paira sobre Vermeer, de cuja vida pouco se sabe e cuja obra conhecida é das mais escassas.
O grande golpe de Van Meegeren veio em 1936-1937, quando compôs seu Vermeer mais famoso, Os Peregrinos de Emaús. A essa altura ele já havia estudado muito, e adquirido domínio sobre as técnicas, instrumentos, tintas e produtos químicos utilizados no século XVII.
Van Meegeren era um negociante de arte holandês que, ao final da Segunda Guerra Mundial, foi acusado de colaborar com os nazistas, ao vender um quadro com a assinatura de um dos artistas mais prestigiosos da História, o holandês Jan Vermeer (1632-1675) para ninguém menos que Hermann Goering, o segundo homem do Reich. Se fosse condenado, poderia encarar a pena de morte.
Foi por esse motivo que Van Meegeren abriu o bico e revelou que ele mesmo havia pintado aquele quadro e mais algumas legítimas pinturas de Vermeer. O caso de traição virou escândalo internacional.
Van Meegeren era, naturalmente, pintor, e sua obra era considerada pelos especialistas da época como medíocre e antiquada. Num dado momento, por uma série de motivos (o interesse do mercado europeu pelas obras de Vermeer, o pequeno número de telas existentes e sua biografia repleta de lacunas), dos quais não se deve excluir o desejo de se vingar dos críticos de arte que acabaram com sua carreira, Van Meegeren decidiu forjar seus próprios Vermeers, além de alguns Frans Halls e outros pintores holandeses do século XVII. Mas seu interesse era mesmo Vermeer.
Estudou sua técnica, aprendeu a fazer as tintas, a fabricar os pincéis e a preparar as telas como no tempo de Vermeer. E mais importante, aprendeu, praticamente sozinho, como acrescentar alguns séculos na idade das pinturas: esticando e amarrotando a tela para simular o craquelê, fazendo incisões no seu verso, aquecendo-a num forno para endurecer a tinta, adicionando poeira e tinta nanquim na última camada de verniz, para que penetrassem nas rachaduras, lavando-a em seguida, comprando madeira e pregos de casas seculares demolidas para montar o chassi; enfim, esmerando-se na sua missão de enganar os mais gabaritados especialistas e provar que não era um artista medíocre.
No que foi extremamente bem sucedido. Quando desovou as suas primeiras falsificações, ainda nos anos 30s, os quadros foram recebidos com entusiasmo.
A tela Os Discípulos em Emaús, pintada por ele em 1937, foi considerada uma das mais importantes de Vermeer, um verdadeiro elo perdido que finalmente ligava a fase inicial de seu trabalho com as obras de sua fase madura.
Foi comprada pela Rembrandt Society por cerca de US$ 4.000.000 (em valores atuais) e doada ao Museu Boijmans van Beuningen.
E foi o primeiro de muitos: estima-se que Van Meegeren recebeu entre US$ 25 30 milhões por suas falsificações. Goering, por exemplo, pagou cerca de US$ 7.000.000 (sempre em valores atuais) para pendurar um Vermeer em sua casa.
E apenas por isso é que se descobriu a fraude, para a mais absoluta incredulidade dos especialistas. Seu julgamento foi um verdadeiro espetáculo, com experts de toda a Europa convocados para analisar os quadros considerados falsos. Van Meegeren pintou seu último Vermeer durante o julgamento, para convencer a corte de que ele, na verdade, havia enganado os nazistas, e não vendido um tesouro nacional.
Van Meegeren foi condenado por fraude a um ano de prisão, mas morreu antes de cumprir a sentença. Van Meegeren veio a morrer em dezembro de 1947, um mês depois de conhecida sua sentença.
De uma hora para outra, aqueles quadros atestados e confirmados pelos especialistas como autênticos passaram à categoria de falsificações e relegados aos porões dos museus como incômodas lembranças. Estimava-se seu valor na casa dos milhões, agora passam a valer nada.
Com a palavra, o próprio Van Meegeren:
Ontem, estas pinturas valiam milhões de florins, e especialistas e amantes da arte chegavam do mundo todo e pagavam para ver essas pinturas. Hoje, elas não valem nada, e ninguém atravessaria a rua para vê-las de graça. Mas a pintura não mudou. O que foi então?
(Fonte: Veja, 13 de dezembro de 1995 – ANO 28 – N° 50 – Edição 1422 – ARTE/ Por ROBERTO POMPEO DE TOLEDO – Pág: 168/169)
(Fonte: http://opensadorselvagem.org – Arte e Cultura – Ronda Noturna – O caso Van Meegeren/ Por Marcos Schmidt – 23 de outubro)
- Han van Meegeren o mais célebre dos falsários que não apenas ficou rico, mas perpetrou uma vingança.