Haroldo Leon Peres (Rio de Janeiro, 2 de maio de 1922 – Maringá, 16 de setembro de 1992), governador do Paraná, da Arena que em 1971, foi flagrado quando extorquia dinheiro do empreiteiro Cecílio do Rego Almeida (1930-2008) e isso lhe custou a renúncia compulsória.
(Fonte: Veja, 16 de outubro de 1985 N° 893 HISTÓRIA – EDITORA ABRIL – Pág; 36 a 41)
A queda de Haroldo Leon Peres
Há exatos 40 anos, o presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici comunicava a escolha do deputado federal Haroldo Leon Peres como sucessor de Paulo Pimentel (1966-1971) no Governo do Estado. Pimentel foi o último governador a ser eleito pelo povo, em 1965. Leon Peres foi o primeiro governador escolhido pelo Regime Militar. No intervalo de doze anos (1970-1982) três seriam indicados: Emílio H. Gomes, Jaime Canet Júnior e Ney Braga.
Existem várias teorias a respeito da escolha de Haroldo Leon Peres pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. Uma delas é que suas esposas eram amigas, e por morarem no mesmo edifício em Brasília, quando Médici era Chefe do Serviço de Informações (SNI) do presidente Costa e Silva (1967-1969).
Leon Peres foi eleito deputado estadual, por dois mandatos, e por uma vez, deputado federal, representando a cidade de Maringá e região. Nos três mandatos, ocupou posições de liderança, graças à sua oratória fluente e incisiva. No plano estadual foi vice-presidente da Assembléia Legislativa, e no federal vice-líder da maioria, pela Aliança Renovadora Nacional (Arena).
A notícia da nomeação de Leon Perez saiu pela primeira vez no jornal Folha de São Paulo, de 21 de abril de 1970. Segundo o jornal, durante uma recepção no Palácio do Itamaraty, o presidente Médici, ao percorrer uma fila de cumprimentos, parou em frente à esposa de Leon Peres e perguntou: você sofre do coração?. Diante da negativa, ele respondeu: Então eu vou lhe dar uma notícia: seu marido vai ser governador do Paraná.
Dias depois, Médici convocou para uma reunião em Brasília. Nela estiveram o governador Paulo Pimentel, o senador Ney Braga e o presidente da Arena do Paraná, Matos Leão. Quero comunicar aos senhores que o governador do Paraná vai ser o deputado Leopoldo Perez disse ao grupo. Mas, presidente, o deputado Leopoldo Perez, secretário-geral da Arena, é do Amazonas. Não tem nada a ver com o Paraná, corrigiu o governador Paulo Pimentel. Não é esse não, governador. É o outro, do seu estado. Troquei o nome, respondeu. Paulo Pimentel, contrariado: O Haroldo Perez?. E Médici, sentenciou: Sim, sim, esse mesmo.
A escolha de Leon Peres desagradou Ney Braga e Paulo Pimentel. O diretório da Arena escolheu o vice-governador, Pedro Parigot de Souza, que assumiria posteriormente o cargo de governador. O desentendimento entre os três teve início em Brasília, logo após o anúncio.
Na posse, em 15 de março de 1971, afirmou que Governo é aproximação, diálogo, governo é soma, é entrosamento, é solidariedade, é participação. Buscarei o alcance da justiça, sob a tutela da lei, tanto aos pequenos e desavisados que a transgridem, quanto, e sobretudo, aos poderosos e ou detentores da autoridade pública que, por essa condição, têm obrigação de não atentar contra os interesses juridicamente protegidos do povo ou do Estado.
O governo do maringaense Haroldo Leon Peres durou 252 dias. Seu governo se viu mergulhado em permanentes crises. Acusado de procedimentos ilícitos e em rota de colisão com lideranças influentes das áreas da política, do judiciário e da comunicação, que culminou com sua renúncia, em novembro de 1971.
A queda foi motivada, a princípio, por uma conversa que manteve com o empresário Cecílio do Rego Almeida, em Copacabana, quando pediu comissão sobre as obras que a empreiteira CR Almeida estava realizando no Paraná. E Leon Peres foi pressionado a renunciar pelo ministro da Justiça, Alfredo Busaid.
A lição do esperto Leon Peres, foi manchete de capa da revista Veja, de 1º de novembro de 1971 A circulação da revista foi proibida. A reportagem menciona com detalhes os motivos da queda do governador.
Existem várias versões e divergências sobre os reais motivos da queda do ex-governador. O historiador Ruy Wachowicz aponta na sua obra História do Paraná que Leon Peres havia assumido o governo através de acordos realizados em Brasília. Foi um governador indicado pelos militares e repelido pela elite política do Paraná tradicional. Cometeu o erro de tentar a mudança da capital. Patrocinava a idéia de mudar a capital para Campo Mourão. Na realidade não era para esta cidade. O objetivo do governador biônico era aquinhoar Maringá, terra onde possuía suas bases políticas. Irritou as elites curitibanas, que conseguiram cassá-lo sob processo de corrupção.
Nessa época tramitava na Assembleia Legislativa um projeto do deputado Paulo Poli, eleito pela região de Campo Mourão, cuja carreira política havia sido iniciada na UDN, partido que abrigou também Leon Peres.
Volto a reafirmar que eu nunca fui cassado, nunca fui processado, não existe contra mim, pelo menos não deve existir, porque senão eu teria sido notificado, nenhum processo pendente, defendeu-se em 1979, em entrevista a revista Quem.
Persistência e a queda de Leon Peres para continuar no comando do Paraná se assemelham com o atual quadro que passa a Assembleia Legislativa, cujo corpo direto é acusado de várias irregularidades, casos de corrupção e desmandos.
Os envolvidos deveriam seguir o caminho, deixado como exemplo pelo ex-governador: a renúncia. Quase 40 anos depois, uma das casas, cujo modus operandis foi combatido por Haroldo Leon Peres, vive uma das piores crises de sua história.
(Fonte: http://blog.jaireliasjunior.com.br/2010/04 – A queda de Haroldo Leon Peres/ Publicado por Jair Elias Junior – 12.04.10)