Haya: rebelde, teórico, populista
Haya de la Torre (Trujillo, 22 de fevereiro de 1895 – Lima, 2 de agosto de 1979), um político histórico da América Latina.
Ele já discutiu com Lênin a impossibilidade de transplantar para os países pobres da América Latina o modelo marxista-leninista. “Não se pode socializar o nada”, costumava argumentar. Já combateu, durante a revolução mexicana do começo do século 20, ao lado do lendário Emilio Zapata. Nos anos 30 esteve junto às forças do general Augusto César Sandino, inspirador da Frente Sandinista mais tarde no poder na Nicarágua. E sua vida, ao longo de mais de cinquenta anos, confundiu-se com a própria história do Peru. “Um mito”, disse dele o ex-presidente argentino Arturo Frondizi. Um monumento da política latino-americana – síntese de guerrilheiro, teórico e insuperável líder populista.
Fundador, jé em 1924, da Aliança Popular Revolucionária Americana, a célebre “Apra”, o maior partido peruano, Victor Raul Haya de la Torre, conheceu como raros políticos do continente a liturgia populista. As sedes de seu partido possuem não apenas consultórios médicos e restaurantes, mas até cursos universitários à disposição de seus militantes, a preços simbólicos. Qualquer peruano conhece a palavra “aprismo”, que designa o conjunto de suas ideias – embora poucos consigam defini-las com clareza. E o dia de seu aniversário, 22 de fevereiro, costumava ser comemorado em todo o país, pelo partido, como uma festa nacional.
VETO MILITAR – Não foi sempre assim. Haya de la Torre mais de uma vez se viu confinado a prisões ou forçado ao desterro, ao longo de uma trajetória política iniciada já aos 17 anos, quando fundou com colegas de sua cidade natal, Trujillo, sua primeira “universidade popular”. Foi em Trujillo que ele também iria liderar, em 1932, uma rebelião contra os militares no poder. Depois, por três vezes, ele reuniu todas as condições para se eleger chefe de Estado. Por três vezes os militares se interpuseram em seu caminho.
O veto só cairia com o projeto de democratização pelo governo militar do general Francisco Morales Bermúdez – quando ele pela primeira vez teve um cargo eletivo, tornando-se o deputado mais votado para a Assembleia Constituinte. Ágil, lúcido, fluente apesar da idade, ele ajudou a redigir uma das Constituições mais modernas do continente. E poderia chegar, finalmente, à chefia do Estado, nas eleições marcadas para 1980, se um câncer no pulmão não tivesse, em março de 1979, obstruído uma vez mais o seu caminho, morreu em 2 de agosto, aos 84 anos, vítima de distúrbios cardíacos, em Lima.
(Fonte: Veja, 10 de agosto de 1977 Edição n° 466 PERU Pág; 45)
(Fonte: Veja, 8 de agosto de 1979 Edição n° 570 PERU Pág; 50)