Helmut Kohl, o homem que uniu a Alemanha
Tinha uma visão e acreditava que só a união (de um país, de um continente) evitaria uma nova guerra. George Bush chamou-lhe o “maior líder europeu” da segunda metade do século XX.

Helmut Kohl, artífice da unificação alemã, foi arquiteto da integração europeia e mentor de Merkel (Foto: Público/ Divulgação)
Kohl foi o chanceler que por mais anos governou a república federal – quatro legislaturas – e o artífice da reunificação alemã, após a queda do muro de Berlim em 1989.
Helmut Kohl (Ludwigshafen am Rhein, 3 de abril de 1930 – 16 de junho de 2017), ex-chanceler alemão que governou a Alemanha entre 1982 e 1998, foi arquiteto da integração europeia e mentor de Merkel, governou Alemanha por 16 anos. Ao lado do ex-presidente francês François Mitterrand, Kohl foi responsável pela introdução do euro.
Kohl, que foi primeiro chanceler da República Federal Alemã após a reunificação, e foi considerado por muitos a força motriz por trás da introdução da moeda única europeia, convencendo alemães céticos a abrir mão do marco alemão.
Kohl, o líder alemão que mais anos permaneceu no poder desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1982-1998), era conhecido como o pai da reunificação alemã.
Mais longevo chanceler alemão do pós-guerra, Kohl foi um dos principais patrocinadores da introdução do euro, convencendo os alemães mais céticos a abrirem mão do marco, a moeda de então.
Foi também uma figura imponente que, em aliança com o ex-presidente francês François Mitterrand, pressionou por uma maior integração europeia – para muitos até hoje o maior tratado de paz da história do continente.
Na Alemanha, Kohl é celebrado, acima de tudo, como o pai da Reunificação, algo que ele conseguiu após a queda do Muro de Berlim, em 1989, e apesar da resistência de outras grandes figuras europeias, como a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher.
Figura histórica da União Democrata-Cristã (CDU/conservadores), é considerado aquele a quem a atual chanceler Angela Merkel deve sua ascensão política na década de 90. Ela foi sua ministra para temas femininos, passou para o Ministério do Meio Ambiente e lentamente atingiu o topo da vida política alemã.
Kohl saltou à política nacional em 1976, quando se tornou chefe da oposição e chegou à chancelaria em 1982, após ganhar uma moção de censura contra o então chefe do Executivo alemão, o social-democrata Helmut Schmidt.
Um ano depois, foi ratificado pelas urnas no posto de chanceler e se manteve no cargo até 1998, quando foi derrotado pelo social-democrata Gerhard Schröder, que se aliou com Partido Verde pela primeira vez para recuperar o governo da Alemanha.

(Foto: REUTERS/WOLFGANG RATTAY)
Helmut Kohl e o político alemão do partido União Democrata-Cristã (CDU) Wolfgang Schaeuble durante um plenário do partido, em Karlsruhe, 1995
Diziam os entendidos nas idiossincrasias dos povos que os alemães gostavam de líderes intelectualmente brilhantes, carismáticos e com o dom da palavra. À primeira vista, Helmut Kohl não tinha o que era preciso para triunfar na política. Contra todas as expectativas, porém, não só se tornou chanceler como se manteve 16 anos no cargo, ficando claro ainda antes de sair do poder que seria o mais importante chefe de Governo desde Otto von Bismarck.

Helmut Kohl com o antigo general alemão da Força Aérea Johannes Steinhoff (1913-1994) no cemitério alemão para militares, em Bitburg, 1985 (Foto: REUTERS/LARRY RUBENSTEIN)
Kohl foi o líder que reunificou a Alemanha que a guerra partira ao meio, e foi o líder europeu que uniu a Europa, dando-lhe um nó que, esperava, nunca mais pudesse ser desatado. Um legado extremamente sofisticado para um homem do campo, que não fazia voltar cabeças quando entrava numa sala e que falava com um sotaque de província, como sempre sublinharam os seus inimigos políticos e muitos dos seus próprios parceiros de partido.

Helmut Kohl com a primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margaret Thatcher, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, Geoffrey Howe e o Presidente da França, François Mitterrand, durante uma cimeira da Comunidade Europeia em Hanover, 1988 (Foto: REUTERS/MICHAEL URBAN/NARCH/NARCH30)
Kohl era um político de estilo diferente daquele a que Bonn (a capital da Alemanha Federal) estava habituada. Era persistente e afável. Em vez de diplomacia elegante, fazia diplomacia afetiva — tornou-se amigo dos líderes de um mundo que via em transformação, Mikhail Gorbachev, o último Presidente soviético, o americano George Bush, o francês François Miterrand. Acompanhou as reformas do soviético e, quando percebeu os sinais da derrocada do bloco, arquitetou a reunificação alemã, em 1990, um ano depois da queda do muro de Berlim. Por causa disso, Bush chamou-lhe “o maior líder europeu da segunda metade do século XX”.

O líder soviético Mikhail Gorbachev e Helmut Kohl trocam canetas após assinarem um contrato em Bonn, 1990 (Foto: REUTERS/MICHAEL URBAN)
Finda a Guerra Fria e reunificado o território, passou à segunda fase do seu plano: unir a Europa. O seu parceiro de visão foi Miterrand. Os dois homens foram os principais promotores do Tratado de Maastricht, que cria a União Europeia (desaparecendo a velha Comunidade Econômica) e abre o caminho para a criação de uma moeda única.

Helmut Kohl e o presidente francês Mitterrand, em 1984 (Foto: REUTERS/STRINGER)
Quando Kohl fez 85 anos, o jornal de grande circulação Bild pediu depoimentos a Angela Merkel, a atual chanceler, e ao americano Henry Kissinger. Kissinger chamou-lhe “pioneiro do pensamento europeu”. Merkel sublinhou que na sua História recente a Europa tem dois momentos felizes: o nascimento da UE e a reunificação alemã; e ambos se devem a Helmut Kohl, escreveu.
“É a obra da sua vida” e é o que “permite que estejamos solidamente lado a lado”, considerou a chanceler que concluiu: “Foi esta a lição que ele tirou do Nacional Socialismo e da II Guerra Mundial. A Alemanha tem muito que lhe agradecer”.

Helmut Kohl com Bill Clinton, Angela Merkel e Henry Kissinger após receber o prémio Henry A. Kissinger pela Academia Americana, em Berlim, 2011 (Foto: REUTERS/CLEMENS BILAN)
O legado político foi, porém, manchado — saiu da vida pública em 2002, com um escândalo, quando se soube que a CDU (união dos cristãos-democratas) recebera financiamento ilícito nos anos da liderança Kohl. Foi um momento amargo para o ex-chanceler que viu a sua protegida, Merkel — que foi buscar à antiga República Democrática e levou para o Governo em 1991 —, afastar-se dele, e repudiar o “patrono”, no que muitos viram como uma facada das costas de Merkel a Kohl. No livro que escreveu em 2014, Aus Sorge um Europa (A preocupação com a Europa), Kohl não poupa os seus sucessores, que responsabiliza pela crise do euro — a Merkel reprova a abordagem aos países em dificuldade e sujeitos a resgates. Mas defende ferozmente a integração europeia.

Bill Clinton, Jacques Chirac e Helmut Kohl durante a assinatura do acordo de Dayton para a Paz na Bósnia e Herzegovina, em Paris, 1995 (Foto: CHARLES PLATIAU)
Era uma ideia antiga, na verdade uma obsessão desde que começou a carreira política, aos 16 anos, quando se filiou no Partido Democrata Cristão e começou a construir um percurso marcado por dois acontecimentos da sua vida. O primeiro, a morte do irmão mais velho, durante a II Guerra (Kohl queria encontrar uma forma de impedir novos conflitos no continente). O segundo, a memória do padre que, no bairro modesto de Ludwigshafen onde os Kohl moravam, falava aos miúdos das maravilhas da democracia. “A paz não pode ser apenas o oposto da guerra”, considerava Kohl.

(Foto: REUTERS) Helmut Kohl com o Presidente francês Jacques Chirac e o primeiro-ministro francês Alain Juppe durante um passeio de barco no final da cimeira franco-alemã
Dizem os biógrafos que, no partido, o rapaz se tornou exímio a resolver disputas e a apagar rivalidades entre os jovens democratas-cristãos. Também criou amizades, acumulou contatos, ligações, montou uma rede que lhe permitia antecipar cenários. Transpôs o método para a política mundial — só não conseguiu quebrar a frieza que a britânica Margaret Thatcher lhe votava.

Helmut Kohl com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher durante a sua visita à Alemanha (Foto: REUTERS/STRINGER)
Kohl foi subindo na hierarquia do partido, preferindo apostar primeiro numa carreira interna antes de avançar para os cargos públicos, o primeiro deles o de chefe do governo da Renânia-Palatinado, uma região atrasada por comparação a outras da República Federal mas que mudou com as ambiciosas e bem-sucedidas reformas de Kohl. Em 1976, chegou à liderança da CDU e a elite de Bona não gostou de se ver mandada por este político de província sobre quem se contavam anedotas. “Não menosprezem Helmut Kohl”, avisou na altura o sofisticado, social-democrata e ex-chanceler Willy Brandt.

(Foto: REUTERS/REINHARD KRAUSE) Helmut Kohl no meio de apoiantes do partido durante uma campanha, em 1990
“Durante décadas fui subestimado. Mas saí-me bem dessa maneira”, disse Kohl sobre o seu percurso. Foi chanceler durante 16 anos, o que lhe valeu o título de “chanceler eterno”.

Celebração do 11.º aniversário da unificação da Alemanha, em 2001 (Foto: REUTERS/TOBIAS SCHWARZ)
Nos últimos anos, depois de uma queda que lhe deixou o maxilar paralisado (e com grandes dificuldades para falar) e as ancas deficientes, Kohl andou de cadeira de rodas. No início de maio de 2015, foi operado a uma anca, segundo divulgou a sua discreta família (os dois filhos e a segunda mulher, 35 anos mais nova). A revista Der Spiegel noticiou que, a seguir, foi submetido a uma segunda cirurgia, ao intestino.
O fim da vida de Kohl foi ainda marcado pela publicação de uma biografia não autorizada em que se davam a conhecer os seus pensamentos supostamente sinceros e algo desdenhosos sobre uma série de líderes, de Merkel e Gorbachev.
Mas a sua herança continuou a mesma: o homem, que apesar de vir da província, se tornou o chanceler que mais tempo ocupou o cargo e uniu os alemães.
O ex-chanceler encontrava-se desde 2008 afastado da atividade pública e prostrado em uma cadeira de rodas, após cair de uma escada e sofrer um traumatismo cranioencefálico.
Helmut Kohl faleceu em 16 de junho de 2017, aos 87 anos, em sua casa de Ludwigshafen, leste da Renânia-Palatinado, no sudoeste do país.
(Fonte: https://www.publico.pt/2017/06/16/mundo/noticia – MUNDO/ Por ANA GOMES FERREIRA – 16 de Junho de 2017)
(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa – NOTÍCIAS / MUNDO / EUROPA – 16 JUN 2017)