Hesio Cordeiro, sanitarista que assinou manifesto que foi inspiração para a criação do SUS
Médico denunciou a mercantilização e a privatização da saúde no governo militar. ‘Transformem os atos médicos lucrativos em um bem social gratuito à disposição de toda a população’, clamava o texto de 1976.
Luta pela saúde gratuita
O médico foi um dos pais do SUS
Manifesto assinado por ele nos anos 70 ajudou a criar as bases do programa.
Hesio de Albuquerque Cordeiro (Juiz de Fora, Minas Gerais, 21 de maio de 1942 – Rio de Janeiro, 8 de novembro de 2020), médico sanitarista e professor.
Hesio Cordeiro liderou o grupo de médicos que fundou o Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 1971. Este foi o primeiro programa de pesquisa sobre saúde pública no Brasil e nele foram formuladas as bases para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS foi instituído pela Constituição de 1988.
O médico se formou pela Uerj, mesma instituição que deu aula por 25 anos e foi reitor entre 1992 e 1995. O médico foi diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS) e trabalhou como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Hesio recebeu o título de doutor honoris causa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Com carreira dedicada à saúde pública, Hesio foi um dos formuladores da proposta de criação de um “sistema universal de saúde” no Brasil e ajudou a fundar o SUS.
A luta de Hesio Cordeiro por uma saúde gratuita e universal no Brasil começou durante a ditadura militar. Em 1971, o médico liderou um pequeno grupo de médicos e sanitaristas progressistas que fundou o Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Além de ser o primeiro programa de pesquisa sobre saúde pública no país, o IMS formulou as bases para que a Constituição de 1988 criasse o Sistema Único de Saúde (SUS).
Hesio nasceu em 21 de maio de 1942, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Formou-se em medicina pela UERJ em 1965.
Entre 1971 e 1978, ele trabalhou como consultor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência da Organização Mundial da Saúde (OMS), sem se desligar do IMS/UERJ.
Grupo de trabalho na gestão Tancredo
Durante o governo de Tancredo Neves, integrou um grupo de trabalho para ampliação e organização do sistema de saúde do país.
Fundação do SUS
O SUS completou 30 anos em setembro. Ele é considerado até hoje um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo.
Hesio foi um dos que propôs a criação do SUS muito antes, contudo, em 1976, quando escreveu com os colegas José Luís Fiori e Reinaldo Guimarães a carta “A questão democrática na área da saúde”.
Considerado um manifesto em defesa da saúde pública, o documento apontava a política de privatização da saúde promovida pelos militares como causa do crescimento de doenças antigas e da mortalidade infantil no Brasil. A gestão dos militares no setor foi classificada por Hesio como “uma política governamental privatizante, concentradora e anti-popular”.
Ao final do documento, os três sanitaristas propunham bases para se criar um sistema único de saúde que deveria ser responsabilidade do Estado.
“Transformem os atos médicos lucrativos em um bem social gratuito à disposição de toda a população” – trecho do manifesto “A questão democrática na área da saúde” (1976).
Inspiração
Em um artigo publicado na Associação Brasileira de Saúde Pública (Abrasco), o colega Reinaldo Guimarães, professor aposentado do IMS/Uerj e vice-presidente da associação, lamentou a morte do sanitarista.
“Perdemos todos, a universidade, os amigos e principalmente a política de saúde no Brasil. Hora de lamentar. E de inspirar-se em seu exemplo”, escreveu Guimarães.
O ex-Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que foi aluno de Hesio na Uerj, também lembrou a importância do trabalho do sanitarista.
“Hesio Cordeiro é um dos gigantes da saúde pública brasileira. Foi meu mestre, orientador do meu mestrado e amigo. Trabalhei com ele no Inamps na Nova República, período em que Hesio teve um papel central na estruturação do SUS […] Sem Hesio não teríamos o SUS e o direito à saúde inscritos na nossa Constituição”, disse Temporão.
Hesio Cordeiro também foi diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS) de 2007 a 2010 e, em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Hesio Cordeiro faleceu em 8 de novembro de 2020, aos 78 anos, no Rio de Janeiro, em função de uma doença degenerativa.
O médico brasileiro e vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, postou nas redes sociais uma homenagem ao colega e afirmou que a morte de Hesio é uma perda para a saúde pública nacional.
“Grande perda para a saúde pública brasileira. Descanse em paz, Hesio. A melhor homenagem à sua vida é continuar lutando para fortalecer e aperfeiçoar o SUS” – Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas.