Lovecraft: descoberta petrificante
Howard Philips Lovecraft (Providence, 20 de agosto de 1890 – Providence, 15 de março de 1937), mestre do fantástico e do pavor. Discípulo confesso de Edgar Allan Poe, o grande precursor das histórias de terror, Lovecraft, que em vida foi tratado com soberano desprezo pelos críticos e editores, mas hoje é assiduamente estudado nas universidades americanas, para alguns superou o mestre ao enveredar pela criação de uma mitologia do pavor, recheada de fantasias oníricas e fetiches de erudição profunda.
Como Poe, Lovecraft foi dono de uma sólida cultura clássica, vida conjugal infeliz e muito pouco dinheiro.
Pouco a pouco, a linguagem apurada e adjetiva, o clima macabro, os ícones da magia, as referências a obras misteriosas, a lembrança de mitos primais e a enxurrada de citações científicas vão-nos cercando e tomando forma, em um tempo fascinantes e aterrorizadoras, e a sensação é praticamente inenarrável.
Em A Casa das Bruxas (At The Mountains of Madness and Other Tales of Terror, Estados Unidos, 1939), o segundo livro lançado no país.
Sua sinistra mitologia de Chtulhu – na qual avultam, apavorantes, os “Antigos”, seres extraterrestres e pré-humanos que criaram civilizações e formas de vida há mais de 40 milhões de anos, até serem emparedados na solidão da Antártica pelas eras glaciais – é uma joia literária a cujo encanto se renderam legiões de admiradores, entre os quais figuraram personalidades como o escritor argentino Jorge Luis Borges.
Lovecraft constrói figuras absurdas e ilusórias, onde se depara com todo o pavor cósmico para o qual adverte, mas elas conseguem despertar um reconhecimento ancestral, arquetípico. É um pavor real. São reino dos temores convencionais, compostos de bruxas, sacrifícios humanos, exorcismos e casas mal-assombradas. Sempre, entretanto, despontam a exploração, a pesquisa e as descobertas terríveis.
(Fonte: Veja, 14 de setembro de 1983 – Edição 784 – LITERATURA/ Por Celso Barata – Pág; 110)