Humberto Torloni, integrou a equipe inicial do A.C.Camargo Cancer Center e organizou os programas de pesquisa do Instituto Ludwig

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Patologista integrou a equipe inicial do A.C.Camargo Cancer Center e organizou os programas de pesquisa do Instituto Ludwig

Humberto Torloni fotografado em sua casa, em 2014 (Foto: LÉO RAMOS CHAVES)

Humberto Torloni fotografado em sua casa, em 2014 (Foto: LÉO RAMOS CHAVES)

 

Humberto Torloni (Itapuí, São Paulo, 1924 – São Paulo, 5 de maio de 2017), patologista, foi um dos integrantes da equipe inicial do antigo Hospital do Câncer, que começou a funcionar em 1953 em São Paulo

O médico que ajudou a criar as bases institucionais e conceituais da oncologia no Brasil trabalhava todos os dias com entusiasmo no segundo subsolo do Hospital A.C. Camargo – rebatizado de A.C. Camargo Cancer Center em 2013 –, um dos principais centros de pesquisa e atendimento especializado nessa área no país.

Humberto Torloni ainda era estudante de medicina quando ajudou a levantar dinheiro para a criação do Hospital do Câncer, concebido e dirigido pelo cirurgião Antonio Prudente. O jovem médico especializou-se em patologia, dirigiu a equipe de patologistas do hospital – “comecei lavando defunto” –, criou técnicas e aparelhos de trabalho e ajudou a formar jovens pesquisadores, hoje em posições de liderança nas faculdades de medicina e centros de pesquisa de São Paulo e de outros estados.

 

Nascido em Itapuí, interior paulista, em 1924, quinto dos 10 filhos de um casal de imigrantes italianos, ele era ainda estudante na Escola Paulista de Medicina (hoje ligada à Universidade Federal de São Paulo) quando ajudou a levantar dinheiro para a criação do hoje chamado A.C.Camargo Câncer Center, concebido e dirigido pelo cirurgião Antonio Prudente.

Passou na antiga Escola Paulista de Medicina [atual Unifesp] em 1942 e me formei em 1948. Meu pai era carpinteiro e marceneiro, um imigrante italiano que saiu da Itália aos 16 anos, em 1897, porque o irmão disse que queria ser padre. Naquele tempo, quando algum membro da família manifestava esse desejo, a família toda passava a viver em função dele e meu pai não queria isso. Ele emigrou primeiro para Nova York (Brooklin) e foi cortar gelo no rio Hudson para as geladeiras da época. Depois de dois anos decidiu ir para a Argentina. Não gostou de lá e veio para o Brasil. Casou no interior de São Paulo e teve 10 filhos. Minha mãe nasceu no sul da Espanha, em Málaga, veio criança para cá, casou com meu pai e começou a ter filhos com 16 anos. Um dia meu pai abriu um anuário e mostrou quanto gastou com cada filho. Dizia com bom humor que se tivesse investido em burros seria um homem rico cercado de burros. Esse tipo de coisa ensina liderança. Liderança é obtida de dois jeitos: por respeito ou medo. Somos nove irmãos e uma irmã. Um deles, Hilário Torloni, foi vice-governador de São Paulo, entre 1966 e 1971. Nasci no interior, em Itapuí, antiga Bica de Pedra, em 1924, e fiz o ginásio em Santos, onde meu pai era representante dos plantadores de café.

Eu não sabia o que fazer. Meu irmão Hilário já estudava medicina e um dia vim para a pensão na avenida Rio Branco onde ele tinha um quarto. Fiz um curso, tentei a Escola Paulista de Medicina e a USP. Entrei na Paulista. Nessa época eu tinha de ajudar meus irmãos a estudar. Então me juntei com um colega e começamos a fazer e vender apostilas para os alunos que mal apareciam nas aulas teóricas. Nessa época meu pai não conseguia mais viver do café em Santos e abriu uma escola de comércio no Brás, a Barão de Mauá. Eu trabalhava lá das 19 horas às 23 horas. Os filhos já formados eram contratados como professores e o salário pagava os cursos dos outros. Todos nos formamos. Os três mais velhos foram contadores e já morreram. Eu e o Hilário somos médicos. Minha irmã Tereza é professora e advogada. Geraldo, que é pai da atriz Cristiane Torloni, escolheu fazer teatro. Meu pai disse que podia fazer o que quisesse, desde que trouxesse um diploma de curso superior. Geraldo se formou advogado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, deu o diploma para meu pai e foi fazer teatro. Outro irmão foi professor na USP e outro no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, de São José dos Campos.

Em 1946, no quarto ano do meu curso, pensava o que ia fazer na medicina. Não queria cirurgia, porque eu via que a vida da pessoa estava na ponta do bisturi. Pensei em oftalmologia, mas os equipamentos eram caríssimos. Estava pensando se não devia ir para o exterior quando vi um anúncio no jornal. A Associação Paulista de Combate ao Câncer precisava de dinheiro para fazer um hospital. Era uma gincana para estudantes de medicina e o prêmio era uma bolsa de estudos no final do curso, para onde quisesse. Eu queria ganhar a bolsa e ir para o exterior, porque era algo raro e quem voltava de lá se dava bem.

 

 

Torloni dirigiu a equipe de patologistas do hospital, desenvolveu técnicas de trabalho e ajudou a formar jovens pesquisadores, hoje em posições de liderança nas faculdades de medicina e centros de pesquisa de São Paulo e de outros estados.

Em 1962 mudou-se para Genebra com a família e, na Organização Mundial da Saúde (OMS), coordenou uma equipe de patologistas de vários países que estabeleceram os critérios para até então caótica terminologia de tumores, fundamental para a definição de tratamentos e comparação de casos.

Trabalhou depois na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em Washington e no Ministério da Saúde brasileiro, onde conheceu o milionário norte-americano Daniel Ludwig, que queria patrocinar um centro de pesquisa sobre câncer no Brasil. Torloni ajudou Ludwig a selecionar o hospital que poderia sediar o centro de pesquisas e o diretor, Ricardo Brentani, que muitos anos depois foi presidente da FAPESP. A convite de Brentani, em 1984 Torloni voltou ao hospital, como coordenador de programas do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer.

Torloni trabalhou depois na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, e no Ministério da Saúde brasileiro, onde conheceu o milionário norte-americano Daniel Ludwig (1897-1992), que queria patrocinar um centro de pesquisa sobre câncer no Brasil. O patologista ajudou Ludwig a selecionar o hospital que poderia sediar o centro de pesquisas e o primeiro diretor, Ricardo Brentani (1937-2011), que anos depois foi diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP (2004-2011).

A convite de Brentani, em 1984 Torloni voltou ao hospital, como coordenador de programas de pesquisa do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer. Posteriormente, o patologista dirigiu o Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico do A.C.Camargo Cancer Center até janeiro de 2017.

Humberto Torloni morreu no dia 5 de maio de 2017 em São Paulo de câncer no pâncreas, aos 93 anos.

(Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/05/09 – REVISTA PESQUISA – FAPESP – 9 de maio de 2017)

(Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/05/09 – REVISTA PESQUISA – FAPESP – Humberto Torloni: Nos bastidores da oncologia/ Por CARLOS FIORAVANTI e NELDSON MARCOLIN | ED. 216 | FEVEREIRO 2014)

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