Ievgeni Ievtushenko, foi durante três décadas o megapoeta soviético.

Ievtushenko: suas pedras seguiam a direção oficialmente consentida

Ievgeni Ievtushenko, poeta e romancista russo. Durante três décadas Ievtushenko foi o megapoeta soviético. Seus compatriotas lotavam estádios para ouvi-lo declamar. Era recebido no Ocidente com reverência e tapete vermelho. Foi o cidadão comum que superou o medo e correu às barricadas para defender a democracia durante a tentativa de golpe comunista em 1991.

O autor é o mais conhecido representante da geração de intelectuais que mostraram a cara depois da morte de Stalin, em 1953. Jovem, chamou a atenção ao tocar num tema proibido, o antisemitismo, no poema Babi Yar. Foi expulso da universidade em 1956 por defender um romance banido pela censura.

Protestou contra a invasão da Checoslováquia em 1968 e se opôs à do Afeganistão, em 1979. Mas nunca cruzou a tênue linha entre desafio e resistência. Foi tolerado porque a existência de um desbocado como ele, servindo de válvula de escape, se mostrava conveniente para o regime.

Enquanto os dissidentes eram enviados à Sibéria, Ievtushenko recebia prêmios oficiais, tinha livros editados e permissão para viajar ao exterior. Como alfinetou um contemporâneo exilado, o poeta Joseph Brodski, Ievtushenko “só jogava pedras em direção oficialmente aprovada”.

Dono de grande senso de oportunidade, ele foi um dos primeiros a abraçar a glasnost de Mikhail Gorbachev. Deputado no Soviete Supremo e aliado de Boris Ieltsin em 1991, Ievtushenko teria condições de revelar os bastidores da resistência ao golpe. Preferiu escrever sobre aquilo que não tem como saber: o que ia pela cabeça de personagens reais. Gorbachov, é atormentado pelo “Menino Camponês” Vem a ser a lembrança dos avós aprisionados pelos bolcheviques. Ainda mais ridícula é a consciência de Ieltsin, que atende pelo nome de “garoto do acampamento”.

(Fonte: Veja, 10 de março de 1999 – ANO 32 – N° 10 – Edição 1588 – Livros/ Por Jaime Klintowitz – Pág; 154)