Autor de “Sem Destino”, Kertész sobreviveu ao campo de concentração nazista de Auschwitz
Escritor húngaro foi Nobel de Literatura em 2002
Imre Kertész (Budapeste, 9 de novembro de 1929 – Budapeste, 31 de março de 2016), escritor húngaro e sobrevivente de Auschwitz e Buchenwald, autor de Sem Destino e vencedor do Nobel de Literatura em 2002.
Nascido em 9 de novembro de 1929, em Budapeste, o autor era judeu e sobreviveu aos campos de extermínio nazistas. Kertesz viveu e trabalhou na Hungria e também na Alemanha.
Kertesz recebeu o Nobel de Literatura em 2002, o que o transformou no primeiro escritor húngaro laureado pela Academia Sueca, por uma obra que traz relatos sobre o Holocausto e os campos de concentração do regime nazista.
Autor, entre outras, de “Sem Destino” (1975), “O Fiasco” (1988) e “Kaddish para uma criança que não vai nascer” (1990), o escritor também foi um renomado tradutor para o húngaro de obras em língua alemã, como as de Elias Canetti, Sigmund Freud, Hugo von Hoffmannstahl (1874-1929), Friedrich Nietzsche, Joseph Roth (1894-1939) e Arthur Schnitzler (1862-1931).
Seu livro mais conhecido é “Sem destino”, que descreve a experiência de um rapaz de 15 anos nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau (Polônia), Buchenwald (Alemanha) e Zeitz. Foi interpretada por alguns críticos como quase autobiográfica, mas o autor desmente uma forte ligação à sua biografia. A partir de “Sem destino” foi rodado um filme na Hungria, em 2005.
Kertesz tinha apenas 14 anos quando foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1944. Ele sobreviveu e depois foi transferido para Buchenwald, de onde foi libertado em 1945.
“Na infância você tem uma certa confiança na vida. Mas quando algo como Auschwitz acontece, tudo é destruído”, disse uma vez.
Ainda assim, Kertesz também fez a surpreendente confissão de ter vivido “meus momentos de maior alegria” em Auschwitz.
“Você não imagina como é ter a permissão de deitar no hospital do campo, ou ter um descanso de dez minutos do indescritível trabalho”, ele disse para a revista Newsweek em 2002. “Estar muito próximo da morte também é uma forma de felicidade. Apenas sobreviver se torna a maior liberdade de todas.”
JORNALISTA E TRADUTOR
Após voltar para sua cidade natal, Budapeste, Kertesz passou a trabalhar como jornalista e tradutor. Considerado suspeito pelas autoridades comunistas que governaram a Hungria após a Segunda Guerra Mundial, ele traduzia para o húngaro as obras de Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Ludwig Wittgenstein e Elias Canetti num pequeno apartamento com vista para o rio Danúbio.
Influenciado pelos romances existencialistas de Albert Camus e Jean-Paul Sartre, Kertesz era fascinado pelo destino do indivíduo em ambientes totalitários, onde outros decidiam seu destino.
“Sou um judeu não-religioso. Ainda assim, como judeu fui levado para Auschwitz. Sou daqueles judeus que Auschwitz transformou em judeus”, disse certa vez numa entrevista.
Quando foi publicado em 1975, “Sem destino” foi ignorado tanto pelas autoridades comunistas quanto pelo público num país que ainda não dava atenção ao Holocausto, apesar do assassinato de 500 mil judeus húngaros na guerra. Para o autor, o livro acabou se tornando um tabu pois, apesar de falar sobre o Holocausto, tratava também sobre o regime totalitário da Hungria.
“Eu escrevi ‘Sem destino’ para falar sobre o regime de Kadar”, disse ele numa entrevista à revista húngaro Elet es Irodalom, fazendo referência ditador Janos Kadar, que governou o país de 1956 até 1988. “Qualquer um que vivesse na Hungria nos anos 1970 devia perceber imediatamente que o autor (de “Sem destino”) conhecia o presente e o desprezava.”
DIÁRIOS VIRAM NOVO LIVRO
Em círculos literários ele era considerado uma boa companhia, com um olhar crítico e duro. Num gesto típico, se recusou a apoiar a construção de uma estátua sua junto com outros ganhadores húngaros do Nobel. “Sem destino” acabou entrando para o currículo escolar na Hungria.
Kertesz descreveu “Liquidação”, de 2003, como seu “último romance sobre o Holocausto”. Passado durante a transição do comunismo para a democracia, em 1989, ele fala sobre “as pessoas que não experimentaram o Holocausto diretamente, a segunda geração que ainda tem de lidar com isso.”
Entre seus outros livros estão “Fiasco” (1988) e “Kaddish para uma criança não nascida” (1990) — que formam uma trilogia com “Sem destino”.
Imre Kertész morreu em 31 de março de 2016, aos 86 anos, em sua casa, em Budapeste.
Magveto Kiado disse que em seus últimos meses de vida, mesmo doente, Kertesz ajudou a preparar uma seleção de seus diários entre 1991 e 2001, publicada este mês na Hungria.
O comitê do Nobel da Academia Sueca disse que a obra de Kertesz “preserva a experiência frágil do indivíduo contra a arbitrariedade bárbara da história”.
(Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/03 – POP & ARTE / Da EFE – 31/03/2016)
(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/livros – CULTURA – LIVROS – BUDAPESTE / POR O GLOBO, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS – 31/03/2016)