Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia de 1966 a 1977 e de 1980 a 1984, foi a primeira mulher a se tornar chefe de governo na Índia em uma atuação bastante polêmica

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O poder como missão

 

Primeira-ministra da Índia de 1966 a 1980 e de 1980 a 1984

 

Em seus quinze anos de governo, Indira personificou o ponto de união numa sociedade fragmentada

 

Indira Gandhi (Allahabad, 19 de novembro de 1917 – 31 de outubro de 1984), primeira-ministra da Índia de 1966 a 1977 e de 1980 a 1984. Política que foi a primeira mulher a se tornar chefe de governo na Índia em uma atuação bastante polêmica.

 

Durante quase todos os quinze anos em que governou a Índia, Indira Gandhi dedicou suas manhãs a receber visitas – em geral, pessoas simples, do povo, que iam a seu gabinete pedir favores, criticar ou, mais frequentemente, elogiar suas decisões e até lhe dar conselhos sobre política externa. A todas, Indira atendia com sua atitude característica: fria e contida, mas atenta e interessada. Apesar da agenda sobrecarregada e dos imensos problemas de seu país, Indira sempre encarou essas entrevistas matinais como parte integrante da missão quase divina de que se via imbuída: a de comandar os destinos da Índia. Em gestos, palavras e atitudes, a primeira-ministra indiana sempre demonstrou estar convencida de encarnar em sua pessoa o único fio capaz de alinhavar numa mesma costura, ainda que frágil e remendada, a fragmentada sociedade indiana.

 

“Se alguém matar Indira Gandhi, este país perderá os princípios pelos quais o Partido do Congresso vem lutando: os princípios da democracia e da não-violência”, advertiu Indira logo após um atentado fracassado contra sua vida, em 1975. Indira não era a única a pensar assim. Boa parte dos 700 milhões de indianos, apegados figura carismática e agregadora do pai de Indira, Jawaharlal Nehru – herói da independência e primeiro-ministro da Índia até morrer, em 1964 -, aprovou com entusiasmo a ascensão da “herdeira”. Indira viu-se assim de mãos livres para preparar um filho para sucedê-la e manter a dinastia. O escolhido foi o mais novo, Sanjay, mas ele morreu em 1980, aos 35 anos, num desastre de avião. Ela sentou então no trono do delfim seu filho mais velho, Rajiv, até então um pacato piloto de carreira da Air India sem nenhuma ambição política. A maioria dos indianos, mais uma vez, não fez objeção à troca de herdeiros em sua “família real”. Para substituir a filha de Nehru, nada mais natural, a seu modo de ver, que o neto de Nehru.

 

Embora tenha sido o fundador da dinastia, Nehru não foi seu criador. Pelo contrário. Sua irmã mais nova, Krishna Nehru Hutheering, que jamais admirou a sobrinha, afirmava que, para Nehru, a ideia da dinastia era “totalmente antidemocrática e indesejável”. Mas, se ele nunca empurrou Indira para o governo da Índia, tampouco fez qualquer coisa para detê-la – e nem poderia. Indira respirou política desde que nasceu, a 19 de novembro de 1917, numa família rica e aristocrática completamente mergulhada no movimento do Mahatma Gandhi, amigo pessoal de Nehru, pela libertação da Índia. “Não me recordo de jogos, festinhas ou de brincar com outras crianças. Minha diversão favorita, desde muito pequena, era subir numa mesa e fazer discursos entusiasmados para os criados”, contou ela certa vez.

 

Assistindo às prisões frequentes do pai e ao sofrimento da mãe, Kamala, Indira cresceu uma criança assustada, tímida e doente – teve tuberculose, pressão baixa, problemas renais, dores musculares e estava proibida de ter filhos. “Tive uma infância excepcionalmente marcada pela insegurança. A polícia estava sempre invadindo minha casa, e o barulho de botas tornou-se uma obsessão para mim”, contou depois. Aos 18 anos, perdeu a mãe e foi estudar na Inglaterra, onde reencontrou um amigo de infância, o advogado e jornalista Feroze Gandhi, que não tinha qualquer parentesco com o Mahatma. Eles voltaram para a Índia em 1941 e se casaram no ano seguinte. Indira precisou enfrentar a objeção de sua família hindu para casar-se com Feroze, da religião parsi, e, mais tarde, também passou por cima da proibição dos médicos e teve dois filhos.

 

FIGURA DECORATIVA – O casamento durou pouco – exatamente até 1948, quando Nehru, feito primeiro-ministro, convocou a filha única, com quem pouco convivera até então, para acompanhá-la em viagens e compromissos sociais. Aos poucos, Indira tornou-se a sombra do pai, sua enfermeira, acompanhante e confidente. Os indianos acostumaram-se a vê-la sempre com Nehru, silenciosa e discreta – tão discreta que, apesar da presença constante, ela jamais foi considerada uma voz influente nos destinos da Índia, e é certo que, apesar de admirar a inteligência e capacidade de trabalho da filha, Nehru não a imaginava no comando do país. Em 1955, foi eleita para a direção do Partido do Congresso e não parou mais. Seu marido morreu em 1960 e, em 1964, ela perdeu o pai. O novo primeiro-ministro, Lal Bahadur Shastri, desapareceria logo depois, em 1966. A velha guarda do Partido do Congresso, repartida em facções rivais, chegou a um nome de compromisso para substituir Shastri: Indira Gandhi. A intenção, ao indicá-la, era preencher um período de transição no partido – e no governo – como uma figura meramente decorativa e facilmente manejável. Não podiam estar mais enganados.

 

A infância e adolescência difíceis, o casamento fracassado e o aprendizado com o pai haviam moldado uma mulher séria, seca, autoritária e forte, com incrível capacidade de trabalho e vontade de ferro. Aos 48 anos, Indira pôs mãos à obra. Percebendo o desânimo da população para com os velhos políticos e assombrada pelo fantasma da desagregação da frágil unidade indiana, ela tratou de aferrar-se às rédeas do partido. Conseguiu. Em 1969, seu velho adversário, Morarji Desai – um político que tinha o hábito de beber sua própria urina todas as manhãs, por acreditar nos seus supostos efeitos benéficos para a saúde -, faz com que ela seja expulsa do Partido do Congresso. Indira reage, revoga a ordem de expulsão, acaba fundando o Partido do Congresso-I (de Indira) e Desai vai para a oposição. Nesse período, no auge de sua popularidade, ela implanta um programa de dez pontos destinado a criar “um Estado socialista com uma economia estável”, nacionaliza bancos, lança uma “revolução verde” para acabar com a fome que assola a Índia e, em 1971, com apoio esmagador dos indianos, desafia e ganha uma guerra com o Paquistão pela criação de Bangladesh.

 

“Ela sabia que não podia escapar da política. Como uma Nehru, considerava este o seu destino, achava que seus antecedentes lhe davam uma missão que precisava cumprir”, observou um amigo da família logo que Indira se tornou primeira-ministra, em 1966. Sete anos depois, ela iria contra este testemunho. “Gosto de ser primeira-ministra, mas não mais do que gostei dos outros trabalhos que fiz. Não sou ambiciosa, e não ligo para honrarias”, revelou, numa entrevista. Àquela altura, sua popularidade despencava rapidamente, empurrada pela precária situação econômica da Índia, pelo fracasso da “revolução verde” devido a uma seca prolongada e pelas frequentes denúncias de corrupção e abuso de poder feitas contra seu filho preferido e herdeiro, Sanjay. Fazendo coro à maioria de seus críticos, o jornalista G. B. Verghese, ex-assessor de imprensa de Indira, diria: “A primeira-ministra não tem programa, visão do mundo ou objetivos. Falta-lhe experiência econômica e administrativa. Ela tem um mandato, mas não tem uma missão.”

 

VOLTA TRIUNFAL – Diante da crescente oposição a seu governo, e desordens cada vez mais graves em vários pontos do país, Indira instituiu em 1975 um draconiano estado de emergência no país. Suspendeu as liberdades civis, implantou rigorosa censura à imprensa e mandou prender milhares de adversários políticos, sem nenhuma justificativa. Para o regime de terror que implantou com mão de ferro, porém, ela tinha pronta a explicação usada em geral pelos ditadores: “Democracia é um valor que prezamos. Se temos estas restrições hoje é porque a democracia estava em perigo. Um punhado de pessoas tentava impedir a expressão da vontade da maioria”. Foi neste período que , assessorada por Sanjay, Indira deslanchou um devastador programa de esterilização compulsória dos indianos, que baixou drasticamente a taxa de natalidade do país, mas conquistou críticas em todo o mundo por sua brutalidade.

 

Em 1977, surpreendendo a todos, Indira convocou eleições gerais- e foi fragorosamente derrotada. Por quase dois anos, seu velho inimigo Desai esteve no poder e concentrou suas forças em abrir processos contra Indira, por corrupção e fraude eleitoral. Ela chegou a ficar presa por alguns dias, mas a frágil coalização de governo não conseguiu nem condená-la na Justiça nem permanecer no poder. Em 1980, Indira voltou triunfal ao governo, carregando consigo votos suficientes para eleger dois terços do Parlamento.

 

RELAÇÕES DIFÍCEIS – Indira não fazia questão de ser simpática, nem com os indianos – que a viam como uma tia rabugenta, mas compreensiva e forte – nem com os líderes estrangeiros com quem manteve contato. Ela era perfeitamente capaz de ficar abrindo cartas e assinando documentos durante uma audiência com alguém pouco interessante. Em 1967, recebeu em Nova Délhi Richard Nixon, então um simples candidato a candidato presidencial nos Estados Unidos, e mal escondeu seu desinteresse pela conversa que tiveram. Passados 20 minutos de entrevista, ela perguntou ao diplomata que acompanhava Nixon quanto tempo mais a audiência que concedia deveria durar. A pergunta foi na língua hindi, mas seu significado ficou mais do que claro para o visitante.

 

As relações de Indira com os Estados Unidos sempre foram difíceis. Defensora ardorosa do movimento dos países não-alinhados, fundado por seu pai e que ela presidia desde 1983, Indira mesmo assim alinhou-se decididamente com a União Soviética, através de tratados de amizade e cooperação, e, em 1979, a Índia foi um dos únicos países de fora da órbita comunista a não condenar explicitamente a invasão soviética do Afeganistão. Também com o Paquistão, para onde foram os muçulmanos ao terminar o mandato inglês sobre o subcontinente indiano, em 1947, as relações não eram fáceis, e pioraram muito após a guerra de Bangladesh. Nos últimos meses de 1984, em mais um cíclico momento de tensão entre o país de Indira e o Paquistão, a maior parte do Exército paquistanês concentrava-se na fronteira com a Índia, e os dois governos trocavam farpas cada vez mais afiadas.

 

LAÇOS DE FAMÍLIA – Embora governasse um país de peso no contexto mundial e tenha se encontrado com os mais importantes governantes de todo o mundo em seus quinze anos no poder, era junto à população indiana que Indira Gandhi causava maior impacto. Trabalhando 18 horas por dia, ela atraía multidões a seus comícios – admiradores interessados em ver de perto sua figura pequena, sempre vestida de sari, a tradicional vestimenta da mulher indiana que ela confessou usar só em público. “Em casa, não uso saris, e sinto-me como se estivesse de férias”, disse em sua última entrevista, uma série de conversações que manteve ao longo de três dias, no mês de outubro, com u m repórter da agência noticiosa americana UPI. Na entrevista, Indira revelou ainda que era alérgica a algumas flores, especialmente o bem-me-quer – tradicionalmente usado nas guirlandas com que os indianos homenageiam as pessoas que admiram, e que ela ganhou aos milhares em sua vida pública.

 

Indira morava numa casa ampla em companhia do filho Rejiv, da nora italiana Sonia. Assim, podia acompanhar passo a passo a preparação de Rajiv, o herdeiro ungido após a morte de Sanjay. Da mesma casa foi expulsa em 1982, num gesto que escandalizou as tradições familiares indianas, a ambiciosa nora Maneka, a jovem viúva de Sanjay que aspirava à sucessão de Indira. A primeira-ministra e sua nora nunca se deram bem, e as coisas só pioraram depois que Sanjay morreu. Finalmente, depois de uma discussão tempestuosa durante um jantar, Indira expulsou-a de casa. Maneka revidou fundando um novo partido e planejava, nas próximas eleições, conquistar de Rajiv seu lugar no Parlamento – aspiração quase impossível agora que o herdeiro assumiu o trono preparado por Indira.

 

Mais seguro após quatro anos de aulas de oratória, postura e administração política, Rajiv, aos 40 anos, parece movimentar-se mais à vontade pelo poder, mas não tem ilusões quanto à sua posição. “São meus laços familiares que me trouxeram para onde estou agora”, declarou Rajiv. Apesar de seu pouco entusiasmo, porém, Rajiv procurou encaixar-se no esquema que a mãe lhe traçou. E nem poderia ser de outra forma – Indira, aferrada ao que considerava a missão de sua vida, nunca mediu sacrifícios, seus ou dos outros. “Sinto que tenho que lutar contra o mal, que tenho que combater o que está errado, mas não posso me preocupar com as consequências – preciso ir em frente com meu trabalho”, disse na última entrevista. No dia 31 de outubro, as consequências que não queria ver finalmente a alcançaram, da forma mais trágica possível.

 

O problema institucional criado pela ausência da primeira-ministra foi contornado, com inesperada rapidez, pelos dirigentes do país, ao darem posse, na chefia do governo, ao mais velho e único filho sobrevivente de Indira – Rajiv Gandhi, um engenheiro que por mais de dez se dedicou exclusivamente à profissão de piloto de avião até ser convocado pela mãe, quatro anos atrás, em 1980, para converter-se à política e preparar-se para sucedê-la.

 

Rajiv Gandhi é o sexto primeiro-ministro do país e terceiro membro da dinastia fundada por Nehru a ocupar o posto. Formado na Inglaterra, e até pouco desinteressado da política, até mesmo para falar corretamente o hindi Rajiv teve de ser lapidado, quando a mãe o convocou para a política. Indira precisava dele, uma vez que seu outro filho, Sanjay, dois anos mais novo – este sim encaminhado desde cedo para a política -, acabara de falecer num acidente aéreo. De forma apressada e muitas improvisada, Rajiv teve apenas quatro anos para aprender. Uma consolação, para ele, é que também ninguém dava importância política por Indira, quando ela assumiu o governo. No começo, ela era apenas a filha de Nehru.

 

Indira é alvejada por membros de sua própria guarda pessoal, em Nova Délhi, em 31 de outubro de 1984, e a primeira-ministra morre aos 66 anos. Nunca, desde um episódio semelhante ocorrido em 1948 – o atentado que vitimou a vida do Mahatma Gandhi, o venerado líder das lutas de independência contra o colonialismo britânico -, o país se vira mergulhado em comoção igual. Indira Gandhi, “a mãe”, como diziam os indianos, figura dominante na política do país nas duas últimas décadas, foi morta dentro de sua própria casa, quando percorria o jardim do prédio onde mantinha sua residência, a caminho do seu escritório de despachos, uma centena de metros adiante.

 

SOBE RAJIV – Seus assassinos, um portando um revólver e outro, uma submetralhadora, eram membros de sua própria guarda pessoal – dois agentes pertencentes à seita sikh, grupo que, com suas barbas e cabelos sempre compridos, seu turbante e seu inseparável punhal, o kater, constitui uma minoria religiosa de 15 milhões de pessoas, ou 2% da população. Portadora de um inegável carisma pessoal, além de ser filha de um dos fundadores da pátria – o ex-primeiro-ministro Jawarlahal Nehru -, já bastava que Indira fosse morta, não imposta por quem, para que seu desaparecimento causasse profunda comoção no país.

(Fonte: Revista Caras – 25 de fevereiro de 2010 – EDIÇÃO 851 – Citações)
(Fonte: Veja, 7 de novembro de 1984 – Edição 844 – INTERNACIONAL – O preço da vingança/ Por Alessandro Porro, de Nova Délhi – Pág; 36 a 45)
(Fonte: Veja, 7 de novembro de 1984 – Edição 844 – DATAS – Pág; 114)
(Fonte: Zero Hora – ANO 49 – N° 17.210 – 19 de novembro de 2012 – Almanaque Gaúcho/ Ricardo Chaves – Frase do Dia/ Por Luís Bissigo – Pág; 44)

 

 

 

 

 

 

 

 

Primeira-ministra da Índia é morta

A Índia reviveu ontem a emoção que se seguiu ao assassinato de Mahatma Gandhi, em 1948.

Desta vez, a vítima Indira Gandhi, que foi morta por membros de sua própria guarda de segurança, no jardim de casa, em Nova Déli.

(Fonte: Zero Hora – Ano 51 – N° 17.918 – 1° de novembro de 1984/2014 – HÁ 30 ANOS EM ZH / Almanaque Gaúcho/ Ricardo Chaves – Pág: 36)

 

 

 

 

 

 

 

 

Morarji Desai (29 de fevereiro de 1896 – 10 de abril de 1995), foi um ativista pela independência da Índia e político indiano. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da Índia entre 1977 e 1979, sendo o primeiro a ocupar o cargo, sem estar relacionado com o Congresso Nacional Indiano.
(Fonte: http://www.caras.uol.com.br – 25 de fevereiro de 2010 – EDIÇÃO 851 – Citações)
(Fonte: Veja, 7 de novembro de 1984 – Edição 844 – INTERNACIONAL – O preço da vingança/ Por Alessandro Porro, de Nova Délhi – Pág; 36 a 45)
(Fonte: Veja, 7 de novembro de 1984 – Edição 844 – DATAS – Pág; 114)

Em 12 de junho de 1975 – Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia, se recusou a renunciar depois de ter sido acusada de corromper as eleições de 1971 no país.
(Fonte: http://www.guiadoscuriosos.com.br/fatos_dia – 12 de junho)

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