Inscreveu pela primeira vez a reforma agrária na plataforma oficial de uma administração estadual
José Américo de Almeida (1887-1980), líder político nordestino, cinqüenta anos de influência
José Américo, escritor, poeta e cronista, advogado, professor universitário, folclorista e sociólogo brasileiro.
Velho líder nordestino, duas vezes governador da Paraíba, duas vezes ministro de Viação e Obras Públicas de Getúlio Vargas, ministro do Tribunal de Contas da União e candidato à Presidência da República em 1937. Sem ver integralmente consumado um sonho infantil. Quando lhe perguntavam o que desejava ser quando crescesse, o tímido e míope José Américo, filho franzino de um senhor de engenho, respondia sempre: “Um homem de letras”. Logo em seu primeiro livro, o clássico “A Bagaceira”, de 1928, foi festejado pelo crítico Tristão de Athayde: “Este seria o livro que Euclides da Cunha teria escrito se fosse romancista”. Daí em diante, porém, ele se destacaria muito mais como político que como homem de letras, nascido em 10 de janeiro de 1887, em Areia.
Foi como escritor de sucesso que assumiu a secretaria geral da Paraíba no governo João Pessoa, cargo em que inscreveu pela primeira vez a reforma agrária na plataforma oficial de uma administração estadual. A Revolução de 1930 transformou-o em figura nacional, no cargo oficioso de “governador geral” do norte. Ficou famoso também por sua sorte pessoal – ou, segundo Alzira Vargas do Amaral Peixoto, a filha de Getúlio, pelo azar que transmitia a seus amigos.
QUEDA NO MAR – Quando João Pessoa foi assassinado, pela primeira vez ele não estava integrado à comitiva oficial. Mais tarde, companheiro inseparável de Getúlio Vargas, não acompanhou o presidente em duas viagens – na primeira, Vargas sofreu um atentado que fracassou; na segunda, foi vítima de um acidente de automóvel. No governo de João Pessoa, escapou de três emboscadas. Em seu lugar morrerram um oficial de polícia, um motorista e um hoteleiro.
O episódio mais impressionante de sua longa e acidentada vida, contudo, foi a queda do avião Savóia Marchetti na costa da Bahia, em 1932. Depois de perder os óculos, conseguiu sobreviver em pleno mar praticamente sem enxergar e sem saber nadar – agarrou-se ao fio do rádio do avião e chegou a uma das asas. Outros três passageiros morreram.
José Américo abandonou a política militante em 1958, ao ser derrotado por Argemiro de Figueiredo nas ekeições para o Senado, mas sua longa amizade com o presidente Ernesto Geisel lhe deu força para indicar os dois últimos governadores indiretos de seu Estado. José Américo morreu aos 93 anos, no dia 10 de março de 1980, em João Pessoa, sem ver integralmente consumado seu sonho infantil. Morreu suavemente acamado em seu casarão na praia de Tambaú, em João Pessoa. Perguntou pelo filho, o presidente do Superior Tribunal Militar, general Reynaldo de Mello Almeida. “Está tudo terminado”, disse, virando-se para o lado. Noventa minutos depois, pediu a mão de sua secretária, apertou-a levemente por duas vezes e fechou os olhos para sempre.
(Fonte: Veja, 19 de março, 1980 Edição n.° 602 MEMÓRIA Pág; 35)