Introduziu no Brasil o hábito do jogging, de correr de forma controlada das batidas cardíacas

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Cláudio Pecego de Morais Coutinho (1939-1981), formado pela Academia Militar de Agulhas Negras, o capitão, gaúcho de Dom Pedrito, servia em 1970 no Forte da Urca, como professor de Educação Física, quando foi chamado pelo preparador físico Admildo Chirol para ajudá-lo na preparação da Seleção que iria à Copa do Mundo no México. Era um excelente jogador de vôlei e um mergulhador de grande experiência, mas nunca chamara atenção como jogador de futebol – nem se interessava especialmente pelo assunto. Ex-técnico do Flamengo e da Seleção Brasileira e atual treinador da equipe do Los Angeles Aztecs, do Flamengo, o clube a que se vinculou desde a infância como torcedor e, de 1977 a 1980, como técnico de futebol – um técnico apaixonado, fanático pelo time que dirigia.

REVOLUCIONÁRIO – O amor ao Flamengo era tão forte que o tirou da Seleção Brasileira quando a Confederação Brasileira de Futebol optou por um técnico exclusivo, em 1980. Coutinho, que chegara à Seleção no auge de uma carreira meteórica, não concordou em deixar o Flamengo. Telê Santana foi então chamado – e assumiu com o apoio de Coutinho. Mas deu-se muito bem nas novas funções. Ele era um revolucionário na preparação física, acumulou conhecimentos respeitáveis nesse ramo. Amigo pessoal de Kenneth Cooper, traduziu seu livro “Aptidão Física em Qualquer Idade” e, com isso, ajudou a lançar no Brasil o hábito do jogging, de correr de forma controlada, com o relógio na mão e medições das batidas cardíacas.

O Cooper foi a mais comentada, mas apenas uma das várias inovações que Coutinho transferiu da educação física para o futebol. Ele modificou métodos arcaicos e instituiu exercícios específicos para jogadores de futebol. Ensinou-os, por exemplo, a respirar corretamente para desenvolver toda a capacidade de oxigenação do organismo e, com isso, aumentar o fôlego para correr mais em campo. O desempenho físico da Seleção na Copa do México foi em boa parte resultado do trabalho de Coutinho. E, a partir do México, com a vitória da Seleção, ele também teria seu lugar ao sol.

PROPOSTA MILIONÁRIA – Quatro anos mais tarde, na Copa do Mundo da Alemanha, já era o supervisor da Seleção formalmente acima do próprio técnico Zagalo. Mas foi quando decidiu ser técnico de futebol do Flamengo que sua popularidade cresceu. Intrigava a muitos que falasse com fluência inglês, francês e italiano, que freqüentasse teatros para ver balé. Mas sobretudo impressionava com sua desenvoltura incomum no trato com a semântica do futebol, a cujo jargão incorporou algumas expressões que deram o que falar. Especialmente, três delas:

Overlapping: uma jogada em que o lateral passa a bola para o ponta e corre para receber na frente.

Ponto futuro: o lugar onde se encontram a bola que foi lançada e o jogador que se deslocou para recebê-la.

Polivalente: o jogador que é capaz de atuar em várias posições dentro de um time.

Essas expressões lhe valeram muitas críticas, sobretudo porque, apesar de invicta, a Seleção Brasileira não conseguiu ganhar a Copa de 1978. Seu companheiro de 1970 a 1974, o técnico Mário Jorge Lobo Zagalo, acha no entanto que a maneira de Coutinho ver o futebol estava certa. “Foi um sistema de jogo com ponta-esquerda recuado, e por isso acusado de defensivo, que ganhamos três Copas do Mundo”. Foi no Flamengo, porém, que Coutinho firmou seu conceito como técnico. Em quatro anos, deu ao time dois títulos de campeão carioca. Coutinho se preparava agora para mudar mais uma vez de país. Tinha uma proposta do El Helal, da Arábia Saudita, para trabalhar durante seis meses com um salário de 1 000 dólares por dia. O Botafogo do Rio de Janeiro, também o convidou, mas Coutinho foi franco: “Não posso aceitar porque não conseguiria orientar o time num jogo contra o Flamengo”.

Desde que chegou ao Rio de Janeiro no dia 24 de novembro, Cláudio Coutinho, procurava um companheiro para praticar caça submarina. Coutinho desistiu de mergulhar logo no primeiro dia por dois bons motivos: chovia, e o time do Flamengo chegava de Montevidéu com a Taça Libertadores da América na bagagem. No dia seguinte, insistiu em vão. Na quinta-feira, deixou um recado no Marimbás, um clube de Copacabana muito frequentado por mergulhadores, pedindo que qualquer interessado em acompanhá-lo se comunicasse com ele por telefone. Um companheiro de mergulhos anteriores, Bruno Caretato, encontrou o recado e topou. Na manhã de sexta-feira, dia 27 de novembro partiram os dois para as ilhas Cagarras, a pouco mais de 4 quilômetros da praia de Copacabana. Ali a 15 metros de profundidade e aos 42 anos de idade, Coutinho encontraria a morte.

Caretato havia capturado uma garoupa e esperava na lancha que o companheiro voltasse à tona. Como Coutinho demorasse mais que o normal, Caretato mergulhou de novo para ver o que acontecia. Nada encontrou. Preocupado circulou com a lancha por outros pontos das costas das ilhas até que decidiu voltar para Copacabana em busca de ajuda. Horas mais tarde , uma equipe de seis mergulhadores do Salvamar encontrou o corpo de Coutinho no fundo do mar, de barriga para cima, com sangue saindo pela boca. A mão ainda segurava o arpão que estava com a ponta metida numa toca. Levado para o Salvamar de Copacabana, o corpo de Coutinho foi velado na sede do Flamengo, fanático pelo time que dirigia, do qual nutria grande paixão.

(Fonte: Veja, 2 de dezembro, 1981 – Edição n.° 691 – Pág; 127/128)

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