Irène Némirovsky, escritora judia que fez sucesso com romances anti-semitas, nascida em Kiev.

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Amiga dos carrascos

Irène Némirovsky (Kiev, Ucrânia, 11 de fevereiro de 1903 – Auschwitz, Polônia, 17 de agosto de 1942), escritora judia que fez sucesso com romances anti-semitas – nascida em Kiev, na Ucrânia, em agosto de 1903, mas que fez sua carreira literária na França.

Filha de uma família abastada que deixou a Ucrânia depois da revolução comunista, Irène teve desde cedo uma educação francesa. Não se via como uma judia da Europa Oriental – preferia se imaginar como uma ocidental que participava do grande mundo da cultura.

Foi como tal que fez sucesso entre os intelectuais da direita francesa nos anos 30. Seus mais de dez romances, que tendiam para o naturalismo, estavam voltados para o conflito entre os valores rústicos das aldeias e os da civilização.

O descompasso entre esses dois mundos era flagrado na trajetória de estereótipos que fixavam uma imagem negativa dos judeus como criaturas mesquinhas, afeitas ao dinheiro e indiferentes às coisas do espírito.

Com a invasão da França pelos alemães, Irène mudou-se de Paris para o interior e se viu obrigada a publicar seus textos anonimamente. Quando ela afinal foi presa, em 1942, seu marido pediu sua libertação ao embaixador alemão, argumentando que, apesar da origem judaica da mulher, seus livros não mostravam nenhuma simpatia pelo judaísmo. Mas a perseguição desfez a distância entre Irène e o judeu comum, o que modificaria a sua literatura. Suíte Francesa, seu último livro, já não opõe mais raças. É um testemunho dramático dos padecimentos da massa humana em tempos de guerra.

O último romance de Irène Némirovsky permaneceu esquecido em uma mala por mais de sessenta anos.

O manuscrito de Suíte Francesa ficou em poder das filhas, que imaginavam tratar-se de um diário pessoal. Só em 2004 o livro foi redescoberto e publicado na França.

Embalado pela biografia dramática da autora, Suíte Francesa tornou-se uma sensação e até frequentou listas de mais vendidos nos Estados Unidos.

E, claro, despertou interesse para a obra anterior da escritora, que passou a ser reeditada depois de décadas de ostracismo. Uma surpresa incômoda viria daí: no seu retrato dos judeus, a ficção de Irène pesava a mão nos piores estereótipos racistas.

Suíte Francesa, O Senhor das Almas dá motivos para a acusação de anti-semitismo que pesa sobre a autora – mas é também uma poderosa reflexão sobre os dramas morais de um exilado que tenta assimilar a cultura do país de adoção.

Irène morreu em 17 de agosto de 1942, de tifo no campo de concentração de Auschwitz.

(Fonte: Veja, 12 de março de 2008 – Ano 41 – N° 10 – Edição 2051 – LIVROS/ Por Miguel Sanches Neto – Pág: 92/93)

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