Filme conta a fascinante vida da escritora inglesa Iris Murdoch
John Bayley, o autor britânico, estudioso e marido da romancista e filósofa Iris Murdoch, à direita, em sua casa em Oxford, em 1986. Ele escreveu sobre como cuidar dela durante seu declínio. (Crédito da fotografia: Terry Smith/Coleção de Imagens LIFE, via Getty Images)
Iris Murdoch (nasceu em Dublin, em 15 de julho de 1920 – faleceu em Oxford, em 8 de fevereiro de 1999), escritora e filosofa, era uma referência na Inglaterra. Brilhantismo e modéstia foram as palavras mais usadas para descrever a escritora irlandesa. Iris costumava desviar-se de elogios.
Especulações filosóficas, religião, magia e metafísica são os temas da maioria de seus 26 romances. Um dos mais famosos, “A Severed Head” (“Uma Cabeça Cortada”), de 1961, é uma sátira de humor negro sobre a infidelidade, o incesto e a violência.
Jamais escrevi ou criei personagens memoráveis como os grandes mestres, disse certa vez. Para a maioria dos críticos literários de língua inglesa, no entanto, a autora estava errada a respeito de si própria. Ela deixou ensaios filosóficos, poemas e 26 romances considerados fundamentais.
Professora na Universidade de Oxford, na década de 50, ficou conhecida por sua militância de esquerda e o espírito libertário. Casou-se com John Bailey (1925 – 2015), também escritor e professor de literatura inglesa, com quem viveu quase 50 anos.
Essa personagem admirável ganhou um filme, Iris, dirigido por Richard Eyre e interpretado por Kate Winslet (na fase jovem) e Judi Dench (nos derradeiros dias).
Baseado em dois livros de Bailey (A Memoir e Elegy for Iris), o filme acompanha a agonia de Iris a partir da descoberta acidental da doença, pouco antes de ela concluir o último romance em 1995.
Paralelamente, revela o início de sua carreira e do relacionamento com o fiel companheiro, interpretado por Hugh Boneville (quando jovem) e Jim Broadbent (na idade avançada, interpretação que mereceu o Oscar de ator coadjuvante).
Mais do que uma cinebiografia reverente, esta é a história de um relacionamento e de como uma pessoa que vivia da memória e das palavras se viu incapacitada de lembrar e escrever.
Um deles, Under the Net (Sob a Rede), foi incluído recentemente numa lista das 100 melhores obras de ficção do século XX publicada pela editora americana The Modern Library. Num tocante ensaio publicado em meados de 1998, John Bayley, marido da escritora, registrou sua rotina nos últimos tempos. “A viagem acabou e sob a escolta sombria do mal de Alzheimer ela parece ter chegado a algum lugar”, anotou ele.
O defeito de Iris que mais salta aos olhos talvez seja o de carregar nas tintas melodramáticas. Assistindo-o, sabe-se que, na fase mais adiantada da doença, ela perdia-se com facilidade nas ruas. Mas não fica claro como suas ideias transformaram o comportamento de uma geração.
Há três anos a autora descobriu que sofria do mal de Alzheimer, doença que a levou a morte. Morreu no dia 8 de fevereiro, aos 79 anos, em Oxford, em consequência de complicações decorrentes do mal de Alzheimer.
Seu colega Malcolm Bradbury disse que ela está entre “os quatro ou cinco grandes romancistas britânicos da segunda metade do século 20”. Acrescentou que “ela foi uma grande figura, do mesmo nível de William Golding e Anthony Burgess”. A editora americana “The Modern Library” incluiu em 1998 seu primeiro romance, “Under the Net” (Sob a rede), de 1954, em sua lista das 100 melhores obras em língua inglesa do século 20.
Mas Murdoch era muito mais modesta. “Meu problema é que não sou muito genial”, disse em entrevista em 1988. “Estou entre os escritores de segunda classe, não entre os deuses como Jane Austen, Henry James e Leon Tolstoi. Meus personagens não são tão memoráveis como os deles”.
Em 1996, Murdoch disse em entrevista ao jornal “The Guardian” que tinha problemas para escrever e que sua memória começava a falhar. “Estou num lugar muito ruim e muito tranqüilo. Minha mente vagabundeia sem rumo. Penso em coisas que logo se desvanecem para sempre”. Meses depois, os médicos diagnosticaram a demência senil.
(Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/146/diversao_arte/cine – Diversão & Arte – Cinema – BIOGRAFIA/ Por Alessandro Giannini – 20/05/2002)
© Copyright 1999/2002 Editora Três
(Fonte: Revista Veja, 17 de fevereiro de 1999 – N° 1585 – Datas – Lupa – Pág; 88/89)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fol/cult – AP – De Londres – 09/02/99)
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