Jerry Adriani, o mais roqueiro da Jovem Guarda
Jerry Adriani (Brás, em São Paulo, 29 de janeiro de 1947 – Barra da Tijuca, Zona Oeste, Rio de Janeiro, 23 de abril de 2017), foi um dos grandes ídolo da Jovem Guarda no anos 1960, nome artístico de Jair Alves de Sousa.
Ícone da Jovem Guarda, Jair Alves de Souza nasceu em 29 do janeiro de 1947, no bairro do Brás, em São Paulo.
Adotou o nome artístico de Jerry Adriani quando começou sua carreira como cantor, em 1964. O primeiro disco foi “Italianíssimo”, quando cantava músicas em italiano, algo que seguiu fazendo em toda a carreira.
Em 1965, o cantor passou a gravar em português, com músicas reunidas no disco “Um grande amor”.
Seu primeiro disco, Italianíssimo, em que ele interpretava canções italianas, foi lançado em 1964. Seu segundo disco, Um Grande Amor, fez grande sucesso e ele passou a apresentar o programa Excelsior a Go Go, na TV Excelsior.
Depois o cantor apresentou ainda o programa A Grande Parada, da TV Tupi, e atuou em filmes, como Essa Gatinha É Minha, ao lado de Peri Ribeiro e Anik Malvil e com direção de Jece Valadão. Atuou ainda nos filme Jerry, a Grande Parada e Jerry em Busca do Tesouro.
Formação de um ídolo
O sangue rock and roll de Jerry Adriani possuía um comprometimento maior com a gênese do estilo do que algumas de suas próprias canções demonstraram. Reconhecê lo por apenas Doce Doce Amor ou Tarde Demais é conhecê-lo pela metade, reduzir sua importância.
Jerry não sofria por fazer o jogo do mercado. Era bonito, tinha charme e tinha voz. Uma tríade que nem Roberto, Erasmo ou Wanderléa conseguiam reunir individualmente. E lá se foi o garoto nascido no Brás, com uma banda de rock no currículo chamada Os Rebeldes, se meter a cantar como galã italiano. Italianíssimo, o disco, fez sua estreia em 1964, ajudando a regar a terra na qual nasceria a Jovem Guarda.
O ano em que a juventude brasileira foi descoberta, 1965, foi também o que confirmou Jerry como um quadro viável no novo mundo da música pop. Gravando agora em português, Um Grande Amor faria sua estreia como ídolo de massa, preparando-o ainda mais para 1967, quando sairia um de seus discos mais vitoriosos, Vivendo Sem Você.
Jerry Alves de Sousa foi o homem que descobriu Raul Seixas na Bahia, selando seu faro e sua determinação. Raul era Raulzito, que fazia bailes grã finos de Salvador com seu grupo, Os Panteras, quando Jerry passou com seu show pela cidade. Ao saber de Raul (uma das versões diz que Raul não estava nesse dia com o grupo, que só viria a ser conhecido por Jerry depois), o cantor encafifou-se com a ideia de que aquele baiano deveria não só ir para o Rio de Janeiro como também se tornar produtor de seus discos. Saiu-se cheio de argumentos pra cima do poderoso Evandro Ribeiro, da gravadora CBS, e o convenceu: de 1969 a 1971, os discos de Jerry seriam produzidos por Raul, e com muitas músicas de sua autoria.
Jerry se foi no ano em que passaria todas as suas histórias a limpo. Ajudado pelo amigo, o pesquisador Marcelo Fróes (que escreve o texto abaixo), ele previa uma biografia de muitos causos e o lançamento de um disco cantando músicas de Raul. A bio será lançada por Fróes, que já colheu os depoimentos de Jerry. O disco, que teria 22 músicas feitas por Raulzito, não chegou a ser gravado.
A última entrevista de Jerry Adriani foi concedida ao Estado e publicada em janeiro passado. Ele estava feliz, estava vibrante abria o coração para falar do passado. Lembrou de histórias saborosas, como a do dia em que Elis Regina o esnobou, ignorando-o na fila do cachê da TV Record. Era a ira da cantora se impondo contra os representantes do iê-iê-iê, que Elis considerava inimigos da música brasileira. Foi nessa entrevista também que Jerry levantou uma lebre inédita. Ele acreditava que o fim do programa Jovem Guarda, em 1968, havia sido orquestrado nos bastidores por forças políticas contrárias ao movimento. “Nós estávamos contestando os costumes sociais da época.” Jerry leu a entrevista, se emocionou e ligou para seu produtor, Marcelo Fróes. Aos 70 anos, sentia-se justiçado por um espaço generoso na grande mídia.
Carreira na TV e no cinema
Também na década de 1960, Jerry virou apresentador do programa “Excelsior a Go Go”, da TV Excelsior. O programa coapresentado por Luiz Aguiar era um musical com apresentações de artistas como Os Vips, Os Incríveis e Cidinha Santos.
Outro programa musical que ele comandou foi “A grande parada”, no ar pela TV Tupi em 1967 e 1968. Ele era um dos apresentadores ao lado de Neyde Aparecida, Zélia Hoffmann, Betty Faria e Marilia Pera.
Além da TV, Jerry se aventurou pelo cinema. Ele cantou e atuou em “Essa gatinha a minha” (com Peri Ribeiro e Anik Malvil); “Jerry, A grande parada”; e “Jerry em busca do tesouro” (com Neyde Aparecida e os Pequenos Cantores da Guanabara).
Parceria com Raul Seixas
Jerry Adriani também aproveitou de sua fama para dar apoio a novos artistas. Ele, por exemplo, foi um dos primeiros a incentivar um então pouco conhecido Raul Seixas.
Raulzito e os Panteras atuaram como banda de apoio de Jerry por três anos. O cantor gravou músicas de Raul (”Tudo que é bom dura pouco”, “Tarde demais” e “Doce doce amor”) e foi produzido pelo maluco beleza entre 1969 e 1971.
Depois da TV e do cinema, Jerry tentou a sorte no teatro. Em 1975, participou do musical “Brazilian Follies”, tendo ficado um ano e meio em cartaz.
Após essa experiência, ele seguiu fazendo shows e gravando discos. Em 1985, lançou “Tempos Felizes”, com regravações dos tempos de Jovem Guarda.
No inicio da década de 1990, Jerry se dedicou a um disco sobre as origens do rock, com o nome “Elvis Vive”. Em 1994, participou da novela “74.5 uma onda no ar”, exibida pela TV Manchete. Um ano depois, fez shows para comemorar os 30 anos da Jovem Gurda e participou como convidado especial de uma coletânea do estilo.
Em 1996, voltou à música italiana, com o disco CD “IO”. Em 1997, teve duas músicas em trilhas de novelas da Globo. “Engenho” fez parte da trilha de “A indomada”, e “Con te partiró”, dueto com a italiana Mafalda Minnozzi, foi parar na trilha de “Zazá”.
Versões de Legião Urbana
Também na década de 1990, saiu o disco “Forza Sempre” (1999). O trabalho tinha apenas músicas da Legião Urbana regravadas em italiano.
Foi um dos maiores sucessos da carreira de Jerry Adriani desde os tempos da Jovem Guarda. De acordo com o site oficial do cantor, bateu a marca de 200 mil cópias. De quebra, “Santa Luccia Luntana” foi bastante tocada na novela “Terra Nostra”.
O primeiro DVD da carreira foi gravado em 2007, no Canecão, no Rio. “Jerry Adriani Acústico Ao Vivo” trouxe sucessos e inéditas em formato acústico. Em 2011, lançou o CD “Pop, Jerry & Rock”, incluindo homenagem para Raul Seixas e Tim Maia na música “2012”. A ideia de cantar outros ícones da músicas brasileira e do rock rendeu ainda o show “Jerry toca Raul & Elvis”.
Em 2014, Jerry Adriani completou 50 anos de carreira. Ele seguia em turnê pelo Brasil.
(Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/musica/noticia – RIO DE JANEIRO – MÚSICA – NOTÍCIA – 23/04/2017)
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica – NOTÍCIAS – MÚSICA/ Por Julio Maria, Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo – 23 Abril 2017 – 23/04/2017)
Análise: ‘Roberto Carlos jamais viu Jerry Adriani como ameaça’
Marcelo Fróes, produtor que promete lançar a autobiografia de Jerry Adriani, escreve sobre o homem que conheceu de perto: “Ele nunca teve problemas em ser o segundo cantor mais importante da CBS, nem Roberto Carlos jamais o viu como ameaça”
Diz a lenda que o rock brasileiro nasceu em 1964, quando Ronnie Cord lançou Rua Augusta. Naquele mesmo ano, o adolescente paulista Jair Alves de Souza virava Jerry Adriani, depois de alguns anos como vocalista da banda de rock Os Rebeldes. E era contratado como artista solo pela CBS, ainda que àquela altura esta já tivesse um cantor jovem estourado nas paradas: Roberto Carlos.
Nascido no Brás, de legítima origem italiana pela avó materna, o jovem Jerry não tinha sobrenome italiano. Mas tinha intimidade com o repertório de baladas italianas e, por isso, seus dois primeiros álbuns foram dedicados àquele universo de canções – em impecáveis interpretações à frente da orquestra regida por Alexandre Gnattali. E só em 1965, quando a Jovem Guarda estourava País adentro, Jerry pode finalmente gravar seu primeiro disco em português. Com apenas 18 anos, Jerry tornou-se ídolo nacional, estrelando programas de auditório na Excelsior e na Tupi, e gravando inúmeros hits.
Não demorou muito e, numa ida a Salvador, para acompanhá-lo foi contratada a banda local Raulzito e seus Panteras. Ambos fãs de Elvis, Jerry e Raulzito logo fizeram amizade e em 1967 a banda veio para o Rio a convite de Jerry. No ano seguinte, Raulzito já estava compondo para os artistas da CBS, acabou sendo contratado como assistente de produção e, no início dos anos 70, antes de tornar-se Raul Seixas, produziu três álbuns seguidos de Jerry – inclusive aquele com seu grande clássico, Doce Doce Amor.
Jerry Adriani nunca teve problemas em ser o segundo cantor mais importante da CBS, nem Roberto Carlos jamais o viu como ameaça. Sempre foram amigos. Wanderley Cardoso foi seu lendário rival, numa treta criada por empresários que pouco durou – mas que o Brasil nunca esqueceu. Jerry sempre se entrosou muito bem com todos os universos musicais brasileiros, e já nos anos 60 era visto com Nara Leão, Maria Bethânia etc. – coisa quase inimaginável na época. Morando no Rio desde o início da fama, já tinha seu apartamento na zona sul e frequentava as melhores festas. Sempre foi amigo de todos, da Bossa Nova ao samba, do rock à MPB, do Cinema Novo às telenovelas e até fotonovelas. Arnaldo Jabour incluiu Jerry como ícone da cultura jovem em seu filme Opinião Pública (1967).
Fiel aos amigos, relutou a desligar-se da CBS em 1975, quando a diretoria jovenguardista perdeu o posto. Tinha convites de outras gravadoras, mas não foi, e acabou lançando discos que foram negligenciados pelos divulgadores da CBS até o início dos anos 80, quando mudou para a PolyGram e estourou Indiferença. Pouco depois surgiu a Legião Urbana e muita gente achou que Será era um novo hit de Jerry, ou que o cantor o imitasse. Coube a Jerry, com a elegância de hábito, explicar que o cantor Renato Russo podia até ter um timbre parecido, mas que definitivamente não o imitava e na verdade era muito talentoso. Sempre tiveram uma relação de mútuo respeito e admiração, tanto que, nos anos 90, Renato gravou um disco de canções italianas e justificou aquilo que chamou de “conexão Jerry Adriani”. Após 20 anos, Jerry voltou a gravar em italiano, fez Io para o selo de Roberto Menescal e, mais adiante, um álbum com canções da Legião vertidas para o italiano.
Jerry jamais deixou de gravar discos ou de fazer shows. Era entusiasta dos revivals da Jovem Guarda, tinha imenso carinho e atenção por seu exército de fãs. Distribuía autógrafos e posava para fotos com a mesma disposição de 1964. Sempre esteve na mídia – tanto no rádio como na televisão e nas revistas. Só a chamada crítica especializada dos grandes jornais que nunca pareceu se importar com o que fazia – o que, na verdade, nunca o abateu. Jerry investia em sua carreira: em 2008 tirou do próprio bolso para fazer seu primeiro DVD, ao vivo no Canecão, com participações de Tavito e Fernanda Takai. Depois disso, o mercado acordou e ele fez mais outros dois.
Para marcar os 70 anos, completados com três festas em janeiro último, Jerry finalmente lançaria em 2017 sua autobiografia – iniciada em 2009, após a morte de sua mãe Angelina. (Jerry lia muito, sua casa era cheia de livros, e gostava de escrever). E logo após o carnaval gravaria um álbum intitulado As 14 Mais do Raulzito, celebrando os 50 anos de sua amizade com Raul Seixas com um apanhado de canções feitas naquela fase que conviveram na CBS. Jerry estava muito feliz, tornara-se avô e estava cercado de pessoas motivadas por seu trabalho. Após décadas de seu sucesso em Portugal e em Angola, este mês Jerry ia voltar a fazer shows internacionais e tinha agenda em Boston e Miami. Neste último verão, Roberto Frejat anunciou sua presença num grande show no Rio e puxou aplausos da plateia. Frejat sabe muito, e sabe que o rock brasileiro nasceu na mesma onda que o ídolo Jerry Adriani. O Brasil é roqueiro desde que Jair virou Jerry, ou vice-versa.
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica – NOTÍCIAS – MÚSICA/ Por Marcelo Fróes*, ESPECIAL PARA O Estado de S.Paulo – 23 Abril 2017 – 23/04/2017)
*MARCELO FRÓES É PRODUTOR, PESQUISADOR, E COAUTOR DA AUTOBIOGRAFIA DE JERRY ADRIANI.