João Condé: centenário de nascimento
Cem anos depois, no mesmo mês de fevereiro em que nasceu o caruaruense João Condé, denominado pelo saudoso jornalista Celso Rodrigues de “cidadão do mundo”, a cidade do Rio de Janeiro dá o primeiro lugar à Escola de Samba Unidos da Tijuca, cujo enredo teve como tema o caruaruense adotivo Luiz Gonzaga, rei do baião, focalizando a arte figurativa do Alto do Moura, enaltecida pelos irmãos Condé, Elísio, José e João, que apoiaram e divulgaram nosso grande Mestre Vitalino.
João Condé Filho, segundo rebento do casal João José da Silva Limeira Pepeu Condé e Ana Agripina Ferreira Condé, oriundos de Serraria, 2º Distrito do município de Caruaru, nasceu aos 24.02.1912, na então rua José Maria, 94, hoje rua Mestre Pedro.
Formado em Direito, no Rio de Janeiro, foi procurador federal, função exercida no extinto Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (IAPC).
Destacou-se, porém, por seu amor à cultura e às letras, e, colecionador nato, pela criação de sua maior obra os Arquivos Implacáveis, e por sua influência nas obras de famosos literatos, como Manoel Bandeira, em o Itinerário de Pasárgada, escrito por insistência de João Condé, que editou o livro. Agrippino Grieco, crítico literário, apelidou-o de “gari da literatura”, por seu trabalho de colheita de obras, que incluiu até a correspondência de Eça de Queiroz, escritor português, para os jornais brasileiros.
Joel Silveira informa sobre os Arquivos Implacáveis: “Dezenas de pastas guardam cartas de todo mundo: João Ribeiro, Claudel, Gilberto Freyre, Aníbal Machado, Felipe de Oliveira, Álvaro Moreira, Murilo Mendes, José Lins do Rego, Graciliano, Coelho Neto, Cícero Dias.”
A importância dos Arquivos Implacáveis é destacada, também, dentre outros, por Carlos Drumond de Andrade, quando afirmou: “Se um dia eu rasgasse os meus versos por desencanto ou nojo da poesia, não estaria certo da sua extinção: restariam os Arquivos Implacáveis de João Condé.”
João Condé e seus irmãos sempre buscaram apoiar a cultura, em Caruaru, tendo o nosso homenageado influenciado o prefeito João Lyra Filho a construir na praça Juvêncio Mariz um Museu de Arte Popular, então o segundo do Interior do país, depois destruído para a construção do atual Palácio Municipal, mudando-se o nome da artéria para praça Senador Teotônio Vilela.
A Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras (Acaccil) destinou a cadeira nº 40 para o ilustre caruaruense João Condé, um de seus patronos.
João Condé faleceu em 14 de janeiro de 1969, mas, imortalizado em sua obra, continua lembrado e levando o nome de Caruaru e de Pernambuco aos quatro cantos do Brasil e do mundo, como no recente desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012.
(Fonte: http://www.jornalvanguarda.com.br/v2 – Opinião – 03/03/2012)
Discurso de Walter Augusto de Andrade, acadêmico da Acaccil, quando do centenário de João Condé