Joaquim dos Santos Andrade, o “Joaquinzão” dirigente sindical em São Paulo durante 22 anos.

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Joaquim dos Santos Andrade, o “Joaquinzão” dirigente sindical em São Paulo. Durante 22 anos, Joaquinzão foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo – a maior e a mais rica entidade do gênero na América Latina – e tornou-se o nome-símbolo do peleguismo nos tempos do regime de 64.
Nos boms tempos, freqüentador de gafieiras, Joaquim era um boêmio que usava brilhantina, sapatos brancos e anel de topázio. Durante o dia, preferia roupas simples quando comparecia às assembléias, em que nem sempre era aplaudido. “Um dia, ele defendeu o fim de uma greve e choveram ovos no palanque”, lembra o filho Ronaldo, advogado, o único solidário com o pai até a morte.
Joaquim encarnou uma época do sindicalismo, da economia e da política. Ele conseguiu seu primeiro emprego como metalúrgico numa empresa que nem existe mais, as Indústrias Matarazzo. Fez carreira em outra empresa, a Arno, de eletrodomésticos. Cristão de ideias conservadoras, em 1964 o regime dos generais o nomeou interventor no Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, cuja diretoria fora deposta após o 31 de março. Um ano depois, com a oposição na cadeia, elegeu-se presidente do sindicato em São Paulo. Em companhia do então governador Abreu Sodré, estava no palanque no 1° de maio de 1968, num comício encerrado com pedradas e pauladas pela oposição. Com adversários fora de campo por ação da polícia, Joaquim reelegeu-se para quatro mandatos consecutivos até 1978, quando a abertura política encorajou antigos militantes a disputar a direção da entidade. Joaquim salvou-se fraudando a contagem dos votos. A partir daí promovendo uma cirurgia no próprio passado, aliou-se ao PCB, conseguindo uma sobrevida de quase dez anos, até ser substituído, em 1987, por Luiz Antonio de Madeiros.
Foi velado e enterrado como figurão – recebeu 24 coroas de flores, inclusive uma enviada pelo advogado José Gregori, chefe de gabinete do Ministério da Justiça. Seus últimos anos, contudo, foram difíceis. Ele morava numa clínica para velhos e morreu num quarto coletivo de um hospital da rede pública.
Mulherengo notório, teve esposa e amante assumida. Ao ser mandado para o asilo, esclerosado, Joaquim tomava quarenta comprimidos por dia para tratar de sua saúde. Ao despachá-lo, a família teve o cuidado de ficar com cartão magnético de sua conta bancária, no qual todos oe meses a Justiça do Trabalho deposita 4 000 reais, o valor de pensão de juiz classista aposentado – privilégio que adquiriu em sua vida de sindicalista.
Joaquim levou para o túmulo a fama de pelego e deixou à família alguns bens modestos. Morto aos 70 anos, por insuficiência respiratória, no dia 5 de fevereiro de 1997. Fim sem glória.

(Fonte: Veja, 12 de fevereiro de 1997 – Edição 1482 – Memória/ Joaquim de Carvalho – Pág; 73)

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